Criteriosos mas também muito flexíveis. De visita a Lisboa, Armand Suchet d’Albufera, braço direito do conhecido gestor Eric Bendahan, explicou o porquê do fascínio por negócios familiares e a restante filosofia de investimento seguida pela casa.
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Armand Suchet d’Albufera e Eric Bendahan conhecem-se há mais de 11 anos. A Oyster foi o ponto de partida para aquela que viria a ser uma relação duradoura. Quando em 2014 o conhecido gestor Eric Bendahan abandona a gestora suíça (atual SYZ AM) para fundar a ELEVA, sabia que queria ao seu lado Armand Suchet d’Albufera, profissional com mais de 17 anos de experiência, e que hoje é o “homem forte” da parte de investimentos da boutique e braço direito de Eric Bendahan nas suas decisões.
De visita a Lisboa, Armand Suchet d’Albufera, senior analyst e deputy portfolio manager da entidade, foi o pivô de uma interessante conversa com investidores, na qual fez questão de explicar a filosofia e o processo de investimento da casa. Com fundação em finais de 2014, no início de 2015 a Eleva lançava o seu primeiro fundo: o ELEVA European Selection, um fundo long only, que atualmente gere cerca de 2.700 milhões de euros. Seguiu-se o fundo long-short pan-europeu de nome ELEVA Absolute Return Europe, atualmente com 165 milhões de euros e, mais tarde, o ELEVA Euroland Selection, que hoje tem sob gestão cerca de 137 milhões de euros.
A ELEVA herdou de Eric Bendahan aquela que é a forma de trabalhar dentro da empresa: “Somos muito ativos, agnósticos e flexíveis”, começou por contar Armand Suchet d’Albufera. Na estruturação da equipa, o profissional assinala que “cada um dos elementos da equipa cobre um número de sectores diferentes, e o objetivo é obter-se um mix de indústrias com diferentes dinâmicas e métricas de avaliação”. Cada um dos analistas (no total são cinco analistas que compõem a equipa de investimentos, incluindo Armand Suchet d’Albufera) tem o que se chama de “country intelligence”. Nesta tarefa reside algo chave para a equipa: evitar gastar tempo e dinheiro. Explica: “Quando há por exemplo uma conferência em Estocolmo, em vez de irmos os quatro e passarmos por exemplo um dia inteiro em reuniões, vou apenas eu e encontro-me com as empresas que todos acordámos conhecer; dou-lhes o feedback e quando temos o encontro semanal com o Eric, caso seja discutida alguma das empresas que conhecemos no passado, terei o meu input a dar sobre essa empresa. O objetivo é existir uma conversa mais aberta, evitar perdas de dinheiro e tempo e, acima de tudo, não perder uma oportunidade”, sintetiza.
Fonte: ELEVA
A filosofia de investimento da entidade é uma espécie de Santo Graal, que permite essencialmente chegar à geração de um “melhor alpha”. Nesta filosofia são quatro os temas chave que acabam por constituir uma base forte para as oportunidades de investimento, que se encontram em todos os fundos da Sociedade Gestora.
1. Negócios familiares
Armand Suchet d’Albufera mostrou a crença de que o alpha pode ser encontrado nos negócios familiares... e justifica porquê: “Acreditamos que a capacidade de overperformance destas empresas tem a ver com a sua capacidade de terem um foco na geração de valor no futuro”. O exemplo dado pelo profissional não nos poderia ser mais familiar. “A Jerónimo Martins, por exemplo, estava a perder dinheiro no ano passado, continua a perder este ano, mas tomou a decisão, ainda assim, de investir na Colômbia. Em termos de potencial de longo prazo eles estão muito confiantes na criação de valor na Colômbia, e acreditamos que isso é porque são capazes de pensar mais além”, assegura.
Os nomes relacionados com empresas ou negócios familiares, acrescenta o profissional, não estão confinados a determinados países ou sectores do mercado. Só no ELEVA European Fund cerca de 55% do fundo está alocado a este tipo de empresas, o que, segundo o profissional, “contrasta com os 21% alocados pelo benchmark”. Desta forma é evidente: “Temos claramente um overweight em negócios familiares”.
2. Modelos de negócio diferenciados com indústrias maduras
Para além dos negócios familiares, o segundo pilar que diferencia estas estratégias de outras é a preferência por indústrias maduras com capacidade de se diferenciarem. “O que apreciamos neste tipo de negócios é a capacidade que têm de se diferenciar da concorrência por exemplo por causa da tecnologia, legislação, etc”, introduziu.
Armand Suchet d’Albufera acredita que o interessante neste universo é que a indústria do sell side “tem dificuldade em pensar diferente para este tipo de modelo versus o resto do mercado”, e exemplifica. “A Ocado é a maior empresa de entrega de produtos de supermercado online. A empresa desenvolveu uma solução online para ajudar os retailers clássicos a desenvolverem a sua plataforma online. Esta empresa tem um top line growth de 20%, e a indústria de sell side tem alguma dificuldade em perceber que a indústria de retalho alimentar possa entregar estes níveis de crescimento. Por acharmos que a empresa está underpriced, reforçámos a posição na empresa no ano passado”, conta. Sobre este assunto é conciso: “Este é o tipo de modelo de negócio que gostamos, ou seja, esta empresa em vez de estar a lutar com as concorrentes tradicionais, tenta diferenciar-se pelas suas capacidades distintas de forma a ser diferente em relação à concorrência”, explica.
3. Divergência de “mensagens” entre o crédito e as ações
A terceira fonte de geração de alpha à qual a equipa presta atenção é quando existem divergências entre a parte de crédito e a parte acionista de uma empresa. “Por vezes existem visões divergentes entre o crédito e as ações. O crédito é muito focado na geração de cash flow e na robustez do balanço, enquanto as ações têm um foco muito maior no P&L. Por vezes a parte de crédito de uma empresa é positiva, e a parte das ações é negativa, ou vice-versa: este tipo de cenário pode ser uma boa oportunidade para nós para investir ou desinvestir em cada uma dessas partes”, atesta o analista, que acredita ainda que esta forma de geração de alpha “será ainda mais interessante quando o BCE começar a comprar menos obrigações corporativas”.
4. Empresas que atravessem mudanças de gestão ou de acionistas
Por fim, a quarta fonte de geração de alpha enunciada por Armand Suchet d’Albufera pode, para muitos investidores, ser um sinal de receio ao invés de uma oportunidade, tal como é observada na ELEVA. “Gostamos quando existe uma mudança numa empresa; uma mudança que pode ser uma nova equipa de gestão, um novo acionista, uma aquisição, um IPO, etc. Estes são tudo ‘triggers’ que nós apreciamos porque são sinónimo de que, geralmente, a empresa começará de uma nova base”, clarifica. Exemplo de uma oportunidade deste género foi a posição iniciada recentemente na espanhola Gas Natural, e justifica porquê. “No ano passado um dos maiores acionistas da empresa vendeu a sua posição a um fundo de private equity que tem um bom track record na área de energia. Depois disso, o CEO mudou e outro dos acionistas – a Repsol – vendeu a sua parte a outro fundo de private equity”.
Fonte: ELEVA
Por causa do reduzido número de elementos da equipa (5 analistas), ao universo de empresas elegíveis tem de ser adicionado um filtro de ‘idea generation’, composto por diferentes fases. Em primeira análise a equipa olha para a liquidez. “Eliminamos empresas que tenham menos de 4 milhões de euros de liquidez diária”, explica o profissional que em seguida fala de um outro filtro aplicado às pequenas e médias empresas. “Caso as empresas tenham abaixo de 5 mil milhões de euros de capitalização de mercado, estas têm de ser capazes de entregar top line growth, e ter um balanço sólido”, apresenta como condição. Por fim, o último filtro de investimento anunciado não é novo e redunda na filosofia já explicada anteriormente: “Os quatro pilares da filosofia de investimento atrás anunciados têm, preferencialmente, de ser cumpridos”.
Duas vezes por ano: esta é a frequência com que a equipa da ELEVA repete este processo de investimento e, no fim de contas, chega-se a 250 empresas elegíveis.
Segundo o profissional, 85% do portefólio é proveniente do cumprimento da filosofia de investimento, embora não sejam “negadas” empresas que não satisfaçam os quatro critérios da check list. Mas a confiança no processo é confirmada com dados concretos: desde o lançamento do fundo provavelmente apenas duas empresas não adereçavam os quatro critérios. A habilidade de replicar o processo é portanto chave para a gestão.