Elevada taxa de aforro aumenta disparidade das previsões económicas nos EUA

literacia financeira poupança
Créditos: Mathieu Stern (Unsplash)

Num mundo pandémico marcado pelas restrições à mobilidade e, portanto, ao consumo, as taxas de aforro das famílias dispararam para números recorde. “As restrições limitavam o gasto das famílias, pelo que o aforro mensal aumentou para níveis muito superiores aos observados numa recessão normal”, afirmam na gestora J.P. Morgan AM. E demonstram-no com o gráfico seguinte.

Aforro acumulado das famílias em 2020

Segundo os seus dados, o aforro acumulado pelas famílias em 2020, entendido como a diferença entre o que se aforrou no ano passado e a média habitual dos consumidores, nos EUA está próximo dos 8% do PIB, no Reino Unido supera os 6% e na zona euro está perto dos 5%. Um aforro que previsivelmente deverá reverter-se num maior consumo quando houver um regresso à normalidade pré-pandemia, como costuma acontecer sempre nos momentos posteriores a uma recessão, mas que desta vez não está tão claro que aconteça devido aos fortes estímulos que aprovaram os diferentes Governos e, sobretudo, pelos EUA.

O efeito estímulos

“Além do aforro acumulado em 2020, os consumidores americanos também beneficiam do pacote de estímulos de 1,9 biliões de dólares, que é extraordinário”, afirma Ambrose Crofton, Global Market Strategist da J.P.Morgan AM. E justifica o extraordinário em quatro pontos. O primeiro, é o seu tamanho (9% do PIB americano); o segundo, a sua rapidez, já que 5% do PIB será repartido antes do fim de setembro; o terceiro, é a sua conveniência, já que coincidiu com a recuperação económica e não antes; e o último é a sua natureza. “Os 400.000 milhões de dólares do estímulo serão entregues através de cheques pelo correio. Por exemplo, uma família de cinco membros com um rendimento total inferior a 150.000 dólares receberá um total de 7.000 dólares em cheques de estímulo. O pacote de estímulo vai superar em grande medida os lucros das famílias no primeiro semestre deste ano”, afirma.

A Fed

“A singularidade desta crise e do apoio governamental recebido demonstra que nos encontramos perante uma situação sem precedentes. Há quem considere que os aforros não serão gastos porque quem dispõe deles pertence a grupos com maiores ganhos, cuja predisposição marginal ao gasto é menor”, comenta Crofton.

De facto, é essa dificuldade de medir quanto aforro passará para a economia o que explica que haja uma grande disparidade nas previsões económicas, sobretudo, nos EUA. Isso vê-se no gráfico seguinte, onde a faixa de previsões oscila entre 9% de variação trimestral anualizada para o primeiro trimestre e 5,4% para o último trimestre deste ano.

Previsões do crescimento trimestral do PIB real americano

Fonte: J.P.Morgan AM