Elida Rehnals (AXA IM): “Reunimo-nos com os emitentes de obrigações indexadas à inflação e discutimos o ESG”

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Elida Rhenals. Créditos: Vítor Duarte

Gestora de carteiras da equipa de Obrigações Indexadas à inflação, Elida Rehnals, da AXA IM, em entrevista à FundsPeople, explica quais as perspetivas da casa para a inflação, e o valor da classe de ativos.

Qual é a vossa perspetiva para a inflação para os próximos 6-12 meses?

Acreditamos que a inflação deverá atingir um pico nos próximos seis meses nas economias avançadas, mas continuará elevada no próximo ano.

Desse modo, certamente continuará em subida nos próximos meses. Primeiramente, os choques recentes nos preços das commodities (energia e comida) podem criar efeitos de segunda ordem que não estão ainda totalmente incorporados nas previsões dos economistas. Mas no médio prazo, as interrupções contínuas da cadeia de fornecimento e as pressões salariais podem elevar a inflação mais do que o esperado.

Que papel podem as obrigações indexadas à inflação desempenhar nos portefólios, dadas essas expetativas para a classe de ativos e tendo em conta as suas caraterísticas únicas?

O retorno das obrigações indexadas à inflação está diretamente dependente do nível de inflação realizada. Isto faz dessas obrigações uma boa alternativa para beneficiar dos elevados níveis de inflação que são esperados para os próximos meses. Isto é particularmente verdade para as maturidades mais curtas, que são menos sensíveis aos movimentos de taxas de juro, dadas as consequentes durações mais curtas. Esperamos que sejam resilientes no atual ambiente de elevadas taxas de juro, mas simultaneamente no contexto de  elevada inflação.    

Como é o processo de selecção de títulos e construção do portefólio?

Temos uma abordagem top-down nas nossas decisões de investimento; focamo-nos, portanto, nas tendências macroeconómicas de médio prazo para implementar estratégias nos nossos fundos. Tendo em conta que os linkers são muito sensíveis às variações na inflação, prestamos particular atenção ao perfil de carry dos nossos portefólios, favorecendo também a alocação nos segmentos mais líquidos do mercado. Como gestores ativos, implementamos as nossas estratégias para assegurar tanto a proteção de capital, como a liquidez no nosso portefólio.  

O que é mais único na vossa abordagem a esta classe de ativos?

O que nos torna diferentes dos outros gestores é o facto das obrigações indexadas à inflação constituírem o coração da nossa estratégia. Por outras palavras, o nosso alfa é consistentemente gerado a partir da classe de ativos,  que é, na verdade, aquilo que os investidores estão à procura quando investem nesta classe de ativos.

Compreendemos que a inflação é um risco, porque corrói o valor real de cada investimento. Neste sentido, procuramos providenciar preservação de capital e proteção nas quedas para os nossos clientes. A nossa abordagem fundamental e o nosso processo de investimento têm provado entregar esses dois objetivos independentemente das condições de mercado.

Como é que abordam o ESG neste fundo?

Os nossos fundos e as estratégias de obrigações indexadas à inflação são classificadas como integrantes do artigo 8º, sob a regulação SFDR, ou seja, respeitam os critérios mínimos ESG. Acreditamos convictamente que os critérios ESG também devem ser aplicados às estratégias soberanas, e somos ativos nessa abordagem. Temos uma política de envolvimento com os emitentes: reunimo-nos com os emitentes de obrigações ligadas à inflação regularmente, e dedicamos parte dessas reuniões a discutir o ESG. Fomos pioneiros em alertar para problemas relacionados com a temperatura (ex. EUA, Austrália), sensibilizando para estes tópicos.