Num recente encontro entre profissionais da gestão de ativos, promovido pela gestora DNB, debateu-se o investimento temático, o papel da atual crise pandémica como catalisador para a aceleração de tendências, e a importância da “mão humana” na seleção de títulos.
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Ver em cada desafio uma oportunidade parece, há primeira vista, um bom adágio para ter em mente no dia a dia. Já encontrar as oportunidades que um mundo abalado por uma pandemia e por uma inevitável recessão económica nos traz é, só por si, todo um outro desafio, especialmente quando estamos no “olho do furacão”. Contudo, é nas novas necessidades inauguradas por esta crise que residem as tão ambicionadas oportunidades que farão a diferença no longo prazo. Temas como a saúde e a tecnologia viram não só avanços e níveis de adoção impensáveis nos últimos temos, como também passaram a contar com o olhar atento daqueles investidores que procuram sair por cima destes tempos conturbados.
A abordagem ao investimento temático em tempos de COVID-19 foi o tema central de um recente encontro virtual promovido pela DNB Asset Management, que contou com a presença de Tiago Gaspar do Banco Carregosa, Eduardo Monteiro da BPI Gestão de Activos, Marta Martins da GNB Gestão de Ativos e Mikko Ripatti da gestora Nórdica. A postura das diferentes entidades face ao investimento temático, o papel da atual crise pandémica como catalisador para a aceleração de tendências, e a importância gestão ativa na seleção de títulos foram alguns dos temas em cima da mesa.
“Esta pandemia de alguma forma veio acelerar algumas tendências que já estavam a acontecer”, introduz Marta Martins, focando concretamente, no âmbito da tecnologia, fenómenos como a massificação do e-commerce e do teletrabalho. “Os contactos que tivemos com muitos gestores dizem-nos que muitas empresas aceleraram claramente investimentos ao nível de tecnologia para conseguir responder de alguma forma a estas novas tendências”, enquadra. “Mas também ao nível da saúde a pandemia trouxe aqui alterações que vão marcar o futuro deste setor com novas necessidades e novas formas de utilização e prestação de serviços que estarão aqui para ficar”, ressalva.
Eduardo Monteiro coincide, e aponta para a rápida adoção em massa de novas soluções tecnológicas a que assistimos nos últimos meses. “Provavelmente o que aconteceu nesta pandemia foi que aquilo que achávamos que iria ser muito lenta e gradualmente adotado está a ser acelerado”, afirma. Para o profissional, o trabalho que a BPI Gestão de Activos já vinha a desenvolver ao nível da análise e investigação sobre a quarta revolução industrial revelou-se especialmente útil para interpretar estes movimentos. Temas como “robótica, artificial intelligence, IoT, cloud computing, 3D printing, fintech, eram algo que começámos a perceber em 2017 que estaria aí para as próximas décadas”, aponta, ressalvando que alguns destes temas hoje “claramente já não são temas emergentes”. A entidade gestora também tem feito o trabalho de casa ao nível do setor de healthcare, cujo processo foi naturalmente acelerado no contexto desta pandemia. “Pensamos que no futuro os governos vão estar mais stressados, quer a nível de recursos humanos, quer a nível de recursos financeiros, e, portanto, o sector de medtech vai assumir uma preponderância maior do que aquela que esperávamos antes da pandemia”, sentencia.
Já no Banco Carregosa, a forma como olham para os títulos enquadrados em tecnologia e healthcare é semelhante aos títulos de outros temas: todos passam pela lente do estilo de investimento de qualidade. “Nesse estilo de investimento, inevitavelmente as empresas que acabam por surgir mais nos nossos portefólios acabam por ser empresas ligadas ao setor da saúde, da tecnologia”, coloca Tiago Gaspar. “Nesse sentido, já olhávamos para esses setores, não como uma questão de investimento de temas, mas por resultado de uma análise bottom-up da nossa gestora de ações”, esclarece. Para o profissional, o facto de a seleção de títulos destes temas ser um resultado do processo, e não propriamente do tema de investimento em si, “faz mais sentido do que um fundo puramente temático”. Este caminho procura evitar que o fundo selecione “empresas mais fracas, relacionadas com esse tema, que têm de ser incluídas por uma questão de diversificação” e em que apenas “uma parte residual das suas receitas é que advém da questão do tema”.
Em contraste, Mikko Ripatti assume que é nos fundos temáticos que a DNB tem uma das suas “joias da coroa”, em particular “no fundo do setor de tecnologia que vai completar em breve 20 anos”. Nas quase duas décadas de história, o profissional admite que “tem sido interessante observar as mudanças deste produto” e do meio envolvente do tema tecnológico. No curto prazo “a adoção de tecnologia nos últimos meses tem sido impressionante”, aponta, mas que tem sido no logo prazo que se têm observado as maiores mudanças estruturais. Ao longo dos últimos anos “as cinco maiores empresas tecnológicas tomaram um peso considerável em vários índices, e isso é importante que os investidores tenham em consideração quando investirem em índices e ETF. Muitos investidores acabam por ter exposição à tecnologia, não porque querem investir em tecnologia, mas porque estão investidos nalgum índice”, ressalva.
Toque humano: um requisito
Contudo, na questão do investimento temático, também a gestão passiva tem um papel a cumprir. Eduardo Monteiro assume que “neste momento, nestes temas, proliferam nas nossas carteiras a gestão passiva”, apesar considerarem que a abordagem ideal seria uma gestão ativa. “O problema é que nós ainda não encontrámos nenhum fundo ativo que na nossa opinião apresentasse as características de consistência suficiente para efetivamente tirar partido do tema. Neste momento utilizamos mais ETF porque eles estão a ser mais focados e respeitam o tema”, justifica. “Se encontrássemos uma gestão ativa focada, ou o conseguíssemos desenvolver internamente, isso seria o melhor dos dois mundos”, coloca o profissional.
Tiago Gaspar admite que no Banco Carregosa se têm focado em “procurar fundos que trabalham próximos com comités científicos ou com alguém que conheça profundamente o tema que está a ser desenvolvido”, com vista a otimizar a transferência de informação e expertise sobre o tópico. A gestão ativa é também assim predileta, sobretudo pela possibilidade desta associação de forças, e pelas melhores possibilidades de acompanhamento das tendências, “uma vez que as tecnologias evoluem a uma velocidade muito rápida”.
Na GNB GA estão de acordo na preferência pela gestão ativa, sobretudo na figura de fundos genéricos em que “o gestor escolhe as melhores ideias e identifica dentro de um tema os nomes que forem realmente relevantes e que terão um impacto à medida que o mesmo avança”, ilustra Marta Martins. Nesse sentido, “num portefólio global, temos a exposição a esse tema, mas não só, e toda a carteira acaba por beneficiar pela evolução desse mesmo tema”.
Dores de crescimento
“Na DNB, todos os nossos fundos são administrados de forma ativa, com uma abordagem muito ampla”, apresenta Mikko Ripatti. “Por exemplo, o fundo de tecnologia é TMT: tecnologia, media e telecom”, o que faz com que o universo de investimento seja particularmente amplo, facilite a seleção de mais winners, e minimize a exposição à volatilidade do tema da estratégia. “Normalmente um tema quente tem muita procura, e se o universo de investimento não for suficientemente grande há sempre risco esgotar o tema”, explica.
Também da perspetiva de quem seleciona fundos, a capacidade de crescimento da estratégia acaba por ser um pormenor importante. “Da parte da gestora de ativos é crítico perceber até que ponto o fundo pode crescer”, sublinha Marta Martins. “Isto porque existe um momento em que, quer pelo potencial do tema, quer por ser exponenciado do ponto de vista de marketing, estes fundos acabam por ter um grande momentum e muitos ativos sob gestão a entrar. Mas há um nível a partir do qual se calhar o fundo não deveria crescer mais porque o seu universo acaba por estar limitado ao número, dimensão e volume em bolsa das empresas investíeis”. Torna-se assim crucial gerir os fluxos e dimensões dos fundos para evitar que “tenhamos investimentos em empresas que não façam muito sentido, pelo facto do fundo crescer e passar a dimensões muito elevadas”, conclui.