No último Simpósio de Investimentos da Mercer, a consultora deu palco a um debate sobre a reforma e a literacia financeira. A experiência corporativa aliou-se a um especialista da área, e concluiu-se que há uma tríade vencedora no caminho para a reforma.
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O 8º Simpósio de Investimentos da Mercer deu visibilidade a diversos temas que impactam o mundo dos investimentos. A inteligência artificial, a emergência dos produtos alternativos e, ainda, a literacia financeira e a poupança para a reforma.
Este último tema foi precisamente o mote para um debate entre Valdemar Duarte, membro do board da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP) e Maria Kol, líder de Recursos Humanos na Microsoft Portugal. Uma conversa onde o conhecimento financeiro se aliou à perspetiva de uma empresa, relativamente à poupança para a reforma.
Maria Kol começou a sua intervenção por referir que a preparação para a reforma é uma dança a dois. “Não é só responsabilidade da empresa este caminho, sem dúvida; há também que referir a parte onde a empresa se tem que encontrar com o indivíduo, e a responsabilidade do próprio indivíduo fazer o seu caminho para a reforma. As empresas têm que colocar à disposição dos seus colaboradores as ferramentas para a reforma, tal como o fazem em campos como o desenvolvimento de carreira, por exemplo”, começou por dizer a responsável. O tema da reforma e os benefícios para a mesma são para Maria Kol, dentro de uma empresa, duas faces da mesma moeda: são uma forma de atração de talento, mas, acima de tudo, são um mecanismo de retenção dos colaboradores. “Podemos ver isso na Microsoft”, atesta.
Na gigante tecnológica, em Portugal, este tema é tratado tendo em conta as várias gerações que lá trabalham. Por isso, dispõem de “vários benefícios que ajudam a ter uma melhor saúde financeira, seja PPR, planos de pensões investimento em ações, aplicação do bónus em diferentes benefícios, etc.”.
Valdemar Duarte não poderia estar mais de acordo sobre esta dança mencionada pela responsável na Microsoft. Frisou, nesse sentido, o valor que um plano de pensões contributivo apresenta, nomeadamente com “o envolvimento da contribuição dos colaboradores”, e que “possa ter logo à partida uma contribuição base da empresa, que, podendo até ser muito pequena, tem o mérito de envolver todos os colaboradores”. Do lado da contribuição dos mesmos, defende um intervalo entre 1 e 10%, ficando ao seu critério a percentagem. Este movimento, salienta, traria “envolvimento e o lastro para a poupança”. Posteriormente, as contribuições de incentivo da empresa seriam, na sua opinião, situadas nos 100%, “com um limite mínimo e máximo que permita contribuições com substância”.
Outro conceito importante mencionado por Valdemar Duarte foi o do auto enrolment. “Já é aplicado noutros países, e pode ser aplicado em planos de pensões de empresas - mesmo nas nossas em Portugal. Trata-se da inscrição automática dos colaboradores, logo quando estes entram na empresa, obviamente tendo a opção do opting out”, salientou.
Retenção e tecnologia
A experiência do lado das empresas de Maria Kol fê-la salientar que os benefícios associados à reforma têm um real impacto no tema da retenção de quem colabora numa companhia. “Obviamente que não é o fator principal, mas, sem dúvida, é um dos fatores a colocar na balança quando um colaborador pensa em sair: todo o investimento que é feito por si, mas também pela empresa em conjunto, é algo que faz os nossos funcionários ponderar se faz sentido ou não sair, pois trata-se de um investimento a longo prazo”.
Sendo a Microsoft uma empresa tecnológica, o papel da tecnologia no investimento para a reforma também foi sublinhado, em concreto o da Inteligência Artificial. “Na empresa temos uma ferramenta, o Copilot, à qual podemos perguntar, por exemplo, quais são os tipos de investimento ao meu alcance, o que é um PPR, quais os níveis de risco existentes, etc.”, exemplifica. Uma abordagem mais personalizada é também descrita: “Posso também dizer a essa ferramenta que tenho x anos, estou inserida num agregado familiar que é composto por um determinado número de indivíduos, e quero reformar-me aos 50 anos… posso perguntar-lhe que investimentos me sugere”, dá como exemplo.
Uma dança a três
A dança a dois falada até aqui (empresas e Estado), é apelidada por Valdemar Duarte como “indispensável” no caminho da preparação da reforma. Contudo, o representante da APFIPP neste evento não deixa de fora a importância do Estado, salientando algumas variáveis que para si são fundamentais. A primeira, seria o discurso. “Trata-se de o Estado assumir que a segurança social é indispensável e basilar para as nossas reformas, mas, ao mesmo tempo, salientar que esta não pode nem deve ser única via e, portanto, a complementaridade é indispensável”. Segue-se a literacia financeira. Para Valdemar Duarte, o português é, por norma, “disparatadamente avesso ao risco, mas quando mergulha de cabeça no mesmo acaba por sofrer consequências”. Desse modo, para o profissional, "a aversão ao risco deve ser algo combatido” e o papel da literacia financeira é fundamental nesse plano, mas também no que apelida de “miopia de longo prazo”, ou seja, a dificuldade de as pessoas perceberem que “assumir risco no curto prazo é algo arriscado, e a inexistência de risco no longo prazo é arriscadíssimo”.
Por fim, a questão dos estímulos fiscais por parte do Estado. “O estímulo fiscal é extremamente importante. Deve tratar-se de uma percentagem baixa para que se poupem recursos, e deve ser em quantidade, permitindo poupança num montante suficiente para que se poupe efetivamente”, concluiu.