Eoin Walsh (TwentyFour AM): “Vemos fundamentais sólidos no crédito ao entrar nesta crise”

Eoin Walsh TwentyFour AM
Eoin Walsh. Créditos: Cedida (TwentyFour AM)

A incerteza reina nos mercados devido à inflação, ao conflito na Ucrânia e aos bancos centrais que terminaram as suas políticas de QE. Na última reunião, a Fed fez a sua primeira subida de taxas desde 2018 e são esperadas mais seis subidas durante o ano. Por seu lado, o BCE acelerou o tapering, reduzindo as compras de ativos. Todos estes fatores tiveram um impacto significativo nos mercados e, em particular, nas obrigações. “A invasão russa da Ucrânia gerou claramente uma grande incerteza, dadas as sanções económicas e financeiras de longo alcance impostas e o seu potencial impacto na inflação e nas cadeias de abastecimento globais”, afirma Eoin Walsh, gestor da TwentyFour Asset Management, a boutique em obrigações da Vontobel AM.

"No início de 2022, estávamos a assistir a um claro desfasamento entre a política monetária, os fundamentais económicos e as avaliações de mercado”, explica. “Achamos que estes três elementos devem ter convergido. Que o maior risco era um erro político que induzisse um fim prematuro do ciclo”, continua.

“Antes da invasão russa da Ucrânia, já tínhamos visto esta convergência, com fortes dados de inflação que levaram os investidores a prever múltiplos aumentos das taxas de juro, levando a uma subida acentuada das yields das obrigações do Tesouro e ao alargamento dos spreads de crédito”, declara. No entanto, dado que os bancos centrais se viraram bruscamente para o endurecimento das suas políticas, o especialista considera que o risco de erro político se reduziu, embora os políticos ainda se movam numa linha ténue.

Oportunidades nas obrigações

De acordo com o especialista da TwentyFour AM, a atual onda de volatilidade é uma correção dentro do ciclo, com oportunidades de compra, com as yields das obrigações agora significativamente mais atrativas do que há apenas seis meses. “Os fundamentais da economia e do crédito eram particularmente fortes no início desta crise, o que nos dá confiança de que podem suportar as consequências das sanções e qualquer endurecimento das condições financeiras”, analisa Walsh. Na sua opinião, as melhorias nas classificações continuam positivas e as taxas de incumprimento aproximam-se de mínimos históricos. “Como resultado, estamos a expandir as nossas posições creditícias e sentimo-nos mais confortáveis assumindo o risco de crédito do que o risco de duration”, continua.

De acordo com esta premissa, segundo o gestor, os investidores devem evitar o risco de duration indesejada e, pelo contrário, apostar em nomes de maior qualidade e maturidades mais longas. Especificamente, centrar-se-ia em maturidades entre três e quatro anos. “Em termos de setores, continuamos positivos com os bancos e com a dívida subordinada dos emitentes mais fortes”, conta. “Também gostamos de produtos de tipo floating como os ABS europeus, especialmente os CLO, que podem atrair o apoio dos investidores durante o ciclo de subida de taxas”, acrescenta.

Update do TwentyFour Strategic Income Fund

Eoin Walsh é gestor do TwentyFour Strategic Income Fund, um fundo com o Rating FundsPeople 2022. A estratégia abrange todo o espectro de obrigações globais e procura ativamente as melhores oportunidades para gerar retornos. De acordo com a equipa de gestão, a principal vantagem do fundo é a sua agilidade e uma abordagem de elevada convicção. "A flexibilidade do fundo dá-nos um leque mais alargado de opções quando se trata de navegar em tempos de incerteza ou volatilidade do que estratégias passivas ou estratégias ativas mais restritas”, afirma Walsh.

Atualmente (desde 7 de março de 2022), o fundo tem uma duração global do spread de crédito de aproximadamente 3,5 anos e uma classificação média de BBB-. A duração das taxas de juro também é baixa, perto de 2,5 anos. Além disso, o fundo mantém um elevado nível de liquidez com o objetivo de incorporar valores interessantes uma vez que a atual incerteza começa a dissipar-se. “Por exemplo, acreditamos que a recente correção da dívida financeira tem sido muito exagerada, com o índice ICE BofA Contingent Capital (CoCo) a expandir 151 pontos base de um ano para o outro”, argumenta. “É por isso que mantiveram a sua importante alocação a obrigações de nível 1 adicional (AT1).

Também veem oportunidades em high yield dos EUA. Por último, aumentaram recentemente a alocação do fundo a obrigações de empréstimos garantidos (CLO). “Vemos spreads atrativos especialmente dada a natureza da taxa flutuante dos CLO que deve proporcionar uma melhor proteção num ambiente de aumento de taxas crescente do que as obrigações de taxa fixa”.