No mercado atual, a RBC BlueBay AM está a redobrar os seus esforços em áreas de especialidade. Por ativos: obrigações tradicionais com alternativos. Por negócio: Europa desenvolvida e Japão.
Brexit. Regulamentação mais rigorosa e exigente. Investimento em tecnologia. Mais concorrência com menos clientes. Diminuição das comissões. Fazer negócio na gestão de ativos é cada vez mais caro. Por outras palavras, as margens do que sempre foi uma das áreas mais sumarentas do setor financeiro estão sob pressão. “As gestoras estão a enfrentar problemas que nunca enfrentaram antes”, afirma Erich Gerth, CEO da BlueBay AM e responsável pela região de EMEA APAC da RBC Global AM. “Há tantos elementos que as gestoras têm de suportar para terminar no mesmo ponto”.
Mesmo ignorando o contexto macroeconómico e dos mercados, as gestoras estão a sentir a pressão. Sobretudo as médias empresas. Aquelas que não podem beneficiar da economia de escala de ser um gigante e aquelas que não têm custos mínimos como as pequenas empresas. “Não é um desafio necessariamente novo, mas durante anos as boas médias empresas conseguiram sobreviver. Agora a sensação é que estão condenadas a comprar ou a serem compradas”, reconhece Gerth.
E como bem recorda, a história recente relembrou-nos que o M&A não é um jogo de soma zero. “No final do dia, somos um negócio de pessoas. Para além do encaixe da gama de produtos, o impacto cultural de uma fusão é mais complexo do que parece”, recorda.
A evolução de uma casa de obrigações
Mas Gerth não sente que a BlueBay AM tenha um papel nessa batalha de fusões e aquisições. A sua estratégia tem sido juntar-se ainda mais à sua empresa principal, a Royal Bank of Canada Global AM, proprietária da gestora há 10 anos e que é um dos principais players do mercado canadiano. O CEO aprecia isto como um luxo nesta indústria. “Ter esse apoio, mantendo a independência, permitiu-nos focar naquilo em que somos bons”, afirma.
A estrutura atual mantém o negócio especializado em ações da RBC AM separado do negócio especializado em obrigações da BlueBay AM, que em novembro passado integrou o negócio norte-americano de obrigações da RBC GAM. Por outro lado, as sinergias são aproveitadas em termos de distribuição de produtos e investimento em tecnologia.
Geograficamente, isso significa explorar a marca que a BlueBay consolidou nos mercados da Europa desenvolvida e no Japão. “É nestas duas regiões que manteremos o foco. Não sinto necessidade de perseguir o próximo grande mercado”, defende Gerth. Assim, a estratégia da gestora tem sido a de reforçar as suas regiões centrais. Daí a recente abertura do escritório da Península Ibérica, liderado por Borja Mateo.
Claro que, para a BlueBay AM, há um desafio adicional: o difícil ponto em que se encontram as obrigações, a sua área de especialização. Para Gerth, é um vento contrário e, ao mesmo tempo, a favor. “O que muitas pessoas se esquecem é que a BlueBay começou como especialista em hedge funds e em crédito. Fomos um dos primeiros a receber a autorização para usar credit default swaps (CDS) em produtos UCITS”, conta o CEO.
Fusão entre alternativos e obrigações
Essa fusão entre alternativos e dívida tradicional mantém-se até hoje. “A nossa filosofia tem sido sempre a de beber de ambas as fontes”, afirma. Dá como exemplo a sua equipa de Crédito ilíquido de Mercados Emergentes e de como eles fornecem uma visão crucial à equipa de Dívida Emergente Tradicional durante as recentes crises. Ou como a sua equipa de Crédito Estruturado vai desempenhar um papel importante na gestão de dívida distressed, uma das áreas que consideram atualmente ter mais potencial.
Contudo, esta união tem sido sempre vista como uma complementaridade entre as capacidades da gestora. Assim, em 2019, a BlueBay vendeu o seu negócio de crédito privado porque não via a possibilidade de o integrar e de o alavancar na plataforma atual. “Operavam com uma divisão entre eles e o resto das equipas, não sendo possível apoiar as três áreas ao mesmo tempo”, explica Gerth.
Por esse motivo, para o CEO é evidente que não estamos à beira do fim das obrigações em carteiras, mas sim de uma evolução das mesmas. “A exposição passiva já não será suficiente. As obrigações vão exigir uma abordagem ativa”, afirma.