O receio de uma resposta israelita ao ataque do Irão está a agitar o mercado. As gestoras internacionais analisam o possível impacto nos preços do petróleo e na produção mundial.
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A escalada do conflito no Médio Oriente e o risco de uma resposta israelita ao ataque com mísseis do Irão nos últimos dias agitaram os mercados. Os investidores temem que o preço do petróleo aumente devido à interrupção dos abastecimentos procedentes da região. Além disso, um maior custo das matérias-primas pode repercutir negativamente na produção e no comércio mundiais, fazendo subir a inflação. No pior dos casos, de o confronto se prolongar, o colapso do abastecimento de petróleo bruto poderá até afetar as políticas monetárias da Fed e do BCE, num momento em que os bancos centrais estão a cortas taxas, alegando que os riscos de inflação atenuaram.
Segundo Thomas Mucha, estratega geopolítico da Wellington Management, o cenário que se está a desenvolver entre Israel e o Irão representa o caminho mais provável para um conflito mais amplo do que os mercados deverão considerar. “Mudei o meu cenário base de uma guerra regional mais ampla, aumentando as probabilidades para 45% (dos 35% historicamente elevados antes do lançamento do míssil iraniano)”, reconhece. “Em essência, acredito que agora é um cara ou coroa, e, portanto, requer uma abordagem mais ampla da carteira”, alerta.
A situação está a evoluir, e há muita expetativa perante os próximos movimentos dos dois países. “O pior cenário para os mercados é o de uma escalada significativa do conflito com uma possível decisão de Israel de atacar objetivos estratégicos para a economia iraniana ou instalações do setor petrolífero”, assinala Filippo Diodovich, estratega sénior de Mercados da IG Italia. “Até agora, o dano global para Israel parece muito limitado. O movimento do Irão parece, em grande medida, uma represália (como a de abril) e não deverá haver uma nova escalada por parte do Teerão”, analisa. “Um confronto direto seria, sem dúvida, um grande problema”, admite Álvaro Sanmartín, economista-chefe da Amchor IS. “Acredito que convém a Israel dar uma resposta limitada e continuar centrado nos próximos movimentos contra o Hezbollah no Líbano e os houthies no Yemen”, afirma.
Repercussões no petróleo
Na quarta-feira, 2 de outubro, após o ataque com mísseis, o preço do petróleo disparou 3%, atingindo o seu nível mais elevado em quatro semanas. Segundo Michaela Huber, estratega de Ativos Cruzados, e Mario Montagnani, estratega sénior da Vontobel AM, os mercados do petróleo reagem sempre com nervosismo quando o Irão está envolvido. Mas a longo prazo, a interação entre a oferta e a procura costuma passar para primeiro plano. “Antes do ataque, o petróleo tinha estado submetido a uma pressão considerável para a descida devido ao debilitamento do crescimento económico, à debilidade da economia chinesa e ao menor apoio sazonal. A não ser que a situação se deteriore ainda mais, parece improvável uma crise do petróleo semelhante à de 2022”, alertam os especialistas. No entanto, a combinação do aumento das tensões geopolíticas e a perspetiva de mais estímulos chineses fazem com que o petróleo seja mais atrativo do que há algumas semanas.
Neste contexto de turbulências petrolíferas, a atenção centra-se nas decisões da OPEP. Na sua última reunião, a OPEP+ não alterou a sua política atual, mas o cartel petrolífero poderá entrar em ação caso os preços do petróleo aumentem. “Nestes momentos, acredita-se que a OPEP retém cerca de 5,7% da procura mundial de petróleo. Esta capacidade excedentária pode ser utilizada para amortizar a subida dos preços do petróleo”, afirmam os estrategas da Vontobel AM. Além disso, segundo Álvaro Sanmartín, devido ao excesso de oferta de petróleo e ao facto de a Arábia Saudita parecer disposta a aumentar a produção, as possibilidades de ocorrer uma grande crise económica a médio prazo parecem reduzidas.
Consequências para os investimentos
Segundo Richard Flax, diretor de Investimentos da Moneyfarm, esta situação de grave incerteza poderá empurrar os mercados para uma atitude de aversão ao risco. “Os mercados de ações poderão registar vendas impulsionadas pelo aumento dos prémios de risco”, afirma. “As empresas exportadoras poderão sofrer as consequências da instabilidade geopolítica, enquanto algumas das grandes tecnológicas norte-americanas, por exemplo, poderão estar relativamente isoladas do problema”, prossegue. “Os ativos de menor risco, como a dívida pública dos países desenvolvidos, poderão beneficiar da situação”, afirma. “Quanto ao impacto sobre a inflação, este dependerá da dimensão e da duração do conflito”.
Filippo Diodovich vê margem para um retorno positivo nos títulos energéticos e de defesa: “Os ganhos concentrar-se-ão nas empresas energéticas (Exxon Mobil e Chevron) devido à subida dos preços do petróleo e nas empresas de defesa (Lockheed Martin, RTX, Leonardo, Rheinmetall) devido ao aumento da despesa militar”.
Por sua vez, Mark Haefele, diretor de Investimentos da UBS Global Wealth Management, acredita que os investidores devem considerar estratégias para reduzir o impacto das oscilações do mercado nas suas carteiras. “O ouro continua a manter alguma atratividade como cobertura face aos riscos geopolíticos”, afirma. “Esperamos que o ouro atinja os 2.750 dólares por onça no final do ano e 2.900 no final de 2025”. O metal amarelo negoceia atualmente em torno dos 2.600 dólares por onça.