ESG: méritos indiscutíveis, mas questões a limar no fixed income

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André Braz, João Zorro, Tomás Drumond e Ramón Carrasco. Créditos: Vitor Duarte

Numa conversa onde se abordaram temas como as atividades dos bancos centrais e o caminho de evolução do rendimento fixo, houve ainda tempo para perceber como é que os quatro profissionais da gestão de ativos que se sentaram juntos num encontro promovido pela Carmignac, contemplam o investimento sustentável. A verdade é que foi unânime uma tónica: o ESG é, de facto, importante, mas no campo do crédito - e não só - ainda existem questões pouco lineares. 

Desse modo iniciou Ramón Carrasco, responsável pelo Desenvolvimento de Negócio da Carmignac na Península Ibérica. “As estratégias ESG são muito relevantes, pelo menos para a Carmignac. Noutros países, como em França, este tipo de estratégias são implementadas com um elevado grau de supervisão por parte do regulador financeiro. Portanto, o investimento sustentável não é uma novidade para nós”, iniciou. O profissional está, por exemplo, bem ciente de que quando um fundo está classificado como artigo 8º, significará que "será aplicada uma abordagem de seletividade que consiste num compromisso de redução mínimo de 20% dos emitentes com a classificação ESG mais baixa no universo do investimento”. Mas, ainda assim, as vantagens compensam as desvantagens naturais de um universo de investimento reduzido.  E nas carteiras de obrigações “sentimo-nos confortáveis com estas estratégias sustentáveis, pois como já referi fazemo-lo há mais de 20 anos e recentemente através do nosso próprio sistema proprietário ESG chamado START*", disse convictamente.

Greenium, sim ou não?

André Braz, gestor de Carteiras na Santander Asset Management em Portugal, por seu lado, foi conciso quanto a uma vertente específica do ESG aplicado às obrigações. “Pessoalmente, não acredito que um greenium deva existir ao nível dos emitentes, ou seja, não deveriam existir um green bonds premium”, apontou. No seu entender, este tipo de obrigações não comporta riscos diferentes face a outras tipologias. “Os riscos associados são os mesmos, no final do dia. Como em qualquer análise trata-se sempre de olhar e fazer a avaliação  dos mercados, economias e balanços… isso é o que interessa no final do dia!”, remata. 

Contudo, o profissional também está ciente da importância da temática. “O esforço no campo ESG da SAM tem sido muito grande nos últimos anos, com desenvolvimento o nosso próprio rating interno;  achamos que o importante neste tema é ter a nossa visão proprietária dado que informação que está contemplada nos researchs ser uma quase opinião, e não se tratar de informação que é possível corroborar com números”, acrescentou.

Também na GNB GA têm feito as suas mudanças internas relativamente a este tema. Foi o que também relatou João Zorro, responsável pelos Departamentos de Ações e Obrigações da entidade. “Já temos o nosso próprio screening, e todos os fundos têm de passar por esse screening para evitar alguns aspetos que as regras ESG não contemplam”, iniciou. Tal como indicou André Braz, na casa também não se focam em green bonds, mas João Zorro vê uma vantagem neste tipo de ativos. “Existe mais disclosure por parte deste tipo de empresas, comparativamente com as outras, e isso é algo importante para o futuro”, realçou. 

Por outro lado, o grande desafio dentro da temática passa-se, a seu ver, nos bastidores, e não no campo do investimento. “Reporte, o risco e o backoffice”, são as grandes áreas afetadas pela regulação em vigor, que “consome muito tempo a toda a gente na equipa”. 

Tomás Drumond, gestor de Carteiras na BPI Vida e Pensões, não falhou no consenso de que a temática é importante. “Em termos de artigo 8º, se não são todos, serão quase todos os nossos fundos que serão compliant com este artigo”, referiu. “Hoje em dia, em paralelo com as políticas do CaixaBank, estamos também a fazer um movimento em direção aos investimentos ISR e ESG”, disse também, não esquecendo a importância da regulação e dos próprios governos. “Em termos pessoais, eu creio que é uma tendência que precisa de ser mais regulada e impulsionada pelas entidades governamentais, se não de outro modo demorará ainda mais tempo a ser implementada”, completou.