Considera a temática sustentabilidade como uma megatendência? Se a resposta a esta pergunta foi afirmativa, então certamente que a conversa na mesa redonda promovida pela FundsPeople e pela Amundi, que juntou cinco profissionais nacionais da gestão de ativos, lhe interessará.
Já lá vai o tempo em que se podia pensar que a sustentabilidade era uma moda. É, de facto, um tema estrutural da nossa sociedade atual. E essa ideia tem-se vindo a refletir no passado recente no mundo dos investimentos, com cada vez mais debates, conferências e conversas sobre tudo o que envolve esta temática.
De facto, há mesmo quem se questione se a sustentabilidade não virá a ser a sua própria classe de ativos. Numa conversa entre João Pina Gomes, product manager do ABANCA Portugal, Rui Broega, diretor coordenador de Gestão de Ativos do BiG, João Henriques, da distribuição de fundos do Bankinter em Portugal, Rui Castro Pacheco, diretor central do Banco Best e Cristina Carvalho, diretora de Vendas Corporativas & Institucionais da Amundi, a questão de ponto de partida sobre que temáticos mais têm procurado os investidores, rapidamente trouxe à tona o vasto tema da sustentabilidade.
Portugal ainda a meio gás
A nível geográfico, e enquadrando Portugal no quadro europeu, os profissionais parecem desenhar dois cenários opostos em relação ao nível de oferta e distribuição de produtos com algum tipo de cariz ESG. Enquanto, por um lado, a Europa vai avançando e desenvolvendo esta temática, por outro lado, começa por revelar João Henriques, “em solo nacional temos de avançar mais e ter mais oferta para os nossos clientes”. Um fator que pode justificar que Portugal pareça estar ainda a meio gás relativamente à preocupação com a sustentabilidade nos investimentos tem a ver, segundo o profissional, com “os níveis de literacia financeira nestes temas, que ainda são reduzidos em termos médios em Portugal”. Face a isto, constata que, “os clientes ainda não substituem os fundos mais tradicionais por produtos com algum tipo de cariz ESG, mas começa a verificar-se um interesse crescente nestes produtos”.
Esta forma de avaliar o mercado nacional é apoiada por João Pina Gomes. Nas palavras do profissional, “os bancos distribuidores têm um papel muito importante. Não só a comunicação de uma forma geral, mas também no que distribuem”. É por isso que, tal como ilustrado pelo profissional, o ABANCA inclui os critérios de sustentabilidade e ESG “através das carteiras de gestão discricionária, em que existe um peso que tenderá a ser cada vez mais relevante, mas também no aconselhamento aos clientes”, especifica.
Millennials: os que mais procuram
Tal como a Europa e Portugal parecem dois comboios com diferentes ritmos, também os ritmos de interesse do investidor de retalho e do investidor institucional vão contrastando. Pelo menos é essa a visão que Rui Broega partilha. “Por tipologia de cliente, o cliente institucional está a ser encostado à parede e a ser forçado a caminhar para uma maior preocupação na procura de fundos ESG”, aponta. “Sobretudo, abordagens de impact investing”, acrescenta. Um comportamento que contrasta com o comportamento do cliente de retalho em Portugal. “O nível de informação e preocupação nestes clientes ainda não está lá”, sublinha.
Adiciona, ainda, um terceiro segmento de clientes: o cliente de futuro, mais conhecido como o cliente millennial. “Esse já vem com o ADN ESG e impact investing. Sem formação para tal, mas chegam a esta faixa etária já atentos e sensíveis a este tema”, afirma Rui.
O motor do investimento sustentável
Mas o que tem verdadeiramente ajudado o ESG? A linha de pensamento de Rui Castro Pacheco ajuda a responder a esta pergunta. O profissional começa por mencionar o que pode influenciar mais os investidores: o retorno. “Se há alguns anos havia alguma ideia de que para investir em ESG era preciso abdicar de algum retorno, acho que, sobretudo no mundo das ações, tal não acontece”, menciona. Assim, desfaz, logo à partida, uma possível grande barreira que poderia deixar os investidores de lado deste tipo de investimentos. O motivo? Segundo o profissional, o facto de haver mais dinheiro para projetos sustentáveis.
“Se olharmos para fundos semelhantes, uns com mais critérios ESG, outros com menos critérios ESG, as performances até poderão ser, de facto, superiores. Um detalhe importante para quem está preocupado em escolher as empresas mais sustentáveis”, afirma. “Isso faz também com que os clientes deixem de ter algum complexo com o tema”, reitera.
Três vertentes fundamentais
Já a intervenção de Cristina Carvalho assentou em três vertentes fundamentais, até então ainda não abordadas. A profissional começa por deixar claro: “A sustentabilidade e o investimento temático responsável têm o mesmo objetivo de longo prazo e, portanto, estão alinhados nesse sentido”.
O desafio principal é, segundo a profissional, combinar um investimento que tenha a intenção de ter um impacto positivo na sociedade ou no meio ambiente, que seja quantificável, e que ao mesmo tempo consiga ter retorno. “Portanto, quando se consegue conjugar todas estas situações, e ser distinguido com o Artigo 9, este é o máximo que se consegue alcançar”, explica.
Apesar de, tal como em cima já referido, os investidores de retalho ainda estarem atrás dos investidores institucionais, “se se realmente conseguir combinar estas três características, há uma procura e há interesse por saber mais”, atesta. Desta forma, o que importa para um cliente de retalho é, de acordo com Cristina, visualizar de forma material o impacto que o investimento que fez. “O cliente ao ver os relatórios, começa a entender os seus próprios investimentos e consegue-se alinhar os objetivos e princípios de sustentabilidade com os investimentos”.
O caminho daqui para a frente
Na verdade, para João Pina Gomes, “com o passar do tempo, a sustentabilidade deixará de ser um tema e vai passar a ser mainstream, ou seja, vai estar em todo o lado”. Neste sentido, o profissional reitera que o tema da sustentabilidade vai deixar de ser referido como um tema. “Esta é uma opinião pessoal, mas toda gente consciente ou inconscientemente também concorda com o facto, e sobretudo na Europa, veremos que será esse o caminho”, aponta. De facto, Rui Broega concorda esta opinião. “A sustentabilidade vai ser uma commodity no futuro”, reitera.
Mas só o futuro ditará o que poderá suceder no modo como se olha para a sustentabilidade. “É mantermo-nos atentos a todas as dinâmicas porque já as temos no regime mais regulamentar e o cliente profissionalizado já o está a experimentar”, conclui Rui Broega.