ETF como price maker no mercado obrigacionista

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André Themudo, Paulo Monteiro e Nuno Reis. Créditos: Vítor Duarte

Faz parte do trabalho de qualquer gestor controlar a liquidez dos instrumentos onde investe. Em momentos de stress, a capacidade de transacionar um instrumento pode revelar-se crucial para evitar perdas avultadas e garantir um bom momento de entrada ou saída num determinado segmento. A FundsPeople, em parceria com a iShares, reuniu três especialistas de investimentos para uma discussão onde se falou da crescente importância dos ETF no mercado de dívida.

André Themudo, responsável de negócio em Portugal da iShares e BlackRock, conta que “uma das principais preocupações dos investidores é a liquidez do instrumento”. Segundo a vasta experiência do responsável, os investidores “procuram cada vez mais transacionar ETF de obrigações, aumentando a liquidez dos mesmos”. Concorda Nuno Reis, gestor de carteiras na Fidelidade, que comenta que a “liquidez é mesmo a grande vantagem do instrumento. Apesar do possível impacto no preço, este instrumento permite uma porta de entrada ou saída rápida num mercado pouco líquido”.

Existe o mercado primário e o mercado secundário e existem muitos market makers (como bancos ou brokers) com inventário de obrigações. André Themudo revela como a iShares aborda esta preocupação dos investidores: “Tentamos identificar e procurar dar garantias de liquidez para mitigar o risco em cenários de stress”. Desta forma, devido às características do instrumento, nos momentos mais complicados, o “volume de transações diárias aumenta e os ETF funcionam até como um produto de price discovery, que garante liquidez num mercado seco”. Paulo Monteiro, administrador da Gestão de Ativos da Invest Gestão Activos, concorda: “Os ETF também têm esse papel de tentar perceber onde está o mercado”. Por sua vez, Nuno admite que estes instrumentos “ajudam a balizar onde está o preço dos ativos subjacentes”.

Paulo Monteiro revela ainda aquele que considerou o maior teste à liquidez destes instrumentos até à data. Para o administrador da Gestão de Ativos da Invest Gestão Activos, “2020 foi o teste para este instrumento”. E o resultado? “Agradou-me ver que não houve problemas de liquidez para este tipo de instrumento nesse momento de mercado”, confessa.

Réplica física por favor

No que concerne o método de réplica, os especialistas preferem indiscutivelmente, o método de réplica física. Paulo Monteiro alerta para o risco oculto dos ETF com réplica sintética: ”Principalmente no retalho, os investidores muitas vezes assumem um risco que não percebem, o risco da contraparte. O mercado até pode valorizar, mas se a contraparte passar por dificuldades o ETF sofre com isso”. O administrador destacou ainda a importância de perceber no que investe e deixa vincada a preferência da entidade gestora que administra por ETF de réplica física. Também Nuno Santos Reis confessa que “no modelo de seleção da Fidelidade são incluídos apenas ETF que realmente investem nos subjacentes”. O profissional afirma que, na generalidade, prefere instrumentos “mais clean e com menos riscos de insolvência”. Uma visão que vai de encontro à de Paulo Monteiro e aos esforços feitos pela iShares.

André Themudo explica que 99% dos ETF distribuídos pela provedora são de réplica física. Para a iShares o objetivo é “dar as ferramentas mais simples e fáceis aos gestores para gerirem as suas carteiras”. Apesar disso, o responsável destaca que muitas vezes a réplica física é concretizada por amostragem. Esta decisão procura “o melhor para o investidor, reduzindo custos enquanto se mantém a representatividade”. Como salvaguarda, estes definem um limite para o tracking error e almejam alcançar sempre o menor desvio do benchmark possível”.