(Este artigo de opinião é da autoria da equipa de Research do Bankinter, desenvolvido no Relatório Estratégia de Investimento para o 3º Trimestre de 2018)
No começo dos anos 90 iniciou-se o desenvolvimento de uns novos instrumentos de investimento denominados Exchange Traded Products (ETPs). Atualmente, sob esta alçada existe um amplo leque de produtos com características comuns, como a de estarem cotados em bolsa, mas que também apresentam grandes diferenças entre eles. Destacaríamos três grandes categorias: os Exchage Traded Funds (ETFs), os Exchange Traded Commodities & Currencies (ETCs - sobre matérias primas ou divisas) e os Exchange Traded Notes (ETNs).
Este tipo de produtos de investimento cotados tornou-se popular nos mercados financeiros desde, basicamente, a sua criação. A nível global, nos últimos 11 anos, o volume de ativos sob gestão cresceu a uma taxa anual de 21%, segundo dados da Bloomberg.
Os ETFs, em particular, são fundos de investimento cujos títulos cotam em mercado secundário de ações. Isto transforma-os num híbrido com características comuns tanto aos fundos de investimento tradicionais (são instituições de investimento coletivo, com uma sociedade gestora) como às ações (cotam em tempo real nos mercados bolsistas). Importa destacar que a estrutura em forma de fundo de investimento oferece segurança ao participante, uma vez que os ativos pertencem aos participantes do fundo e não à gestora.
Política de Investimento, classes de subjacentes e forma de réplica
A sua política de investimento consiste, de um modo geral, em replicar o comportamento de índices financeiros (embora o desenvolvimento do mercado de ETFs esteja a dar lugar a produtos que também replicam estratégias); com um vasto leque de ativos subjacentes, historicamente foram, na sua maioria, índices de ações, mas também índices de obrigações, de matérias primas, setoriais, geográficos, etc.
Além disso, surgiram fundos que reproduzem comportamentos inversos (ou seja, que ganham quando o índice cai e perde quando sobe) e alavancados (que permitem multiplicar, numa determinada proporção, a subida ou queda do índice de referência, assumindo um maior risco).
Atendendo à forma em que está construída:
. Réplica Física: o gestor compra todos ou uma amostra representativa dos títulos que compõem o índice (ações, obrigações ou outro tipo de ativos).
. Réplica Sintética: o gestor utiliza instrumentos derivados para reproduzir o comportamento do índice.
É importante destacar que embora esta segunda forma de réplica reduza a margem de erro face ao índice de referência (tracking error), implica um risco de crédito de contraparte. Ou seja, o investidor deve considerar a qualidade creditícia da entidade financeira à qual se compra o instrumento derivado, uma vez que é esta que vai garantir a solvência do produto. Como referência, o Bankinter apenas seleciona ETFs com réplica física, ou seja, sem risco de contraparte.
Oferecem vantagens que fomentou a sua popularidade e desenvolvimento…
(1) Diversificação: permite aos investidores através da compra de uma só participação reproduzir o comportamento de uma carteira de ações ou índice de referência.
(2) Custos reduzidos: ao replicar um índice, sem ter que comprar várias ações, o investidor vê reduzidos os custos de execução da sua estratégia. Ao contrário de um fundo de investimento não cotado, não são cobradas comissões de subscrição ou resgate. Não obstante, é necessário considerar uma comissão implícita de gestão e os custos de transação em bolsa, semelhantes aos de uma ação.
(3) Negociação em tempo real. Liquidez e avaliação diária. O valor dos ETFs varia ao longo de cada sessão, ao contrário dos fundos não cotados, cujo valor só é apurado no fecho de cada sessão.
Os fundos cotados foram um instrumento determinante para a popularidade da gestão passiva, para aqueles mais céticos quanto à criação de valor da gestão ativa, ao facilitar a exposição direta a um índice de referência. No entanto, também permitem uma gestão ativa através da seleção e combinação de diversos ETFs.
… embora, não sejam adequados para todos os perfis. Destacamos os seguintes riscos:
Risco de mercado (ou risco sistémico) correspondente ao tipo de ativo subjacente. Os ETFs são produtos que estão submetidos aos riscos inerentes aos mercados dos seus ativos subjacentes correspondentes. Ou seja, a compra de um índice aumenta a diversificação do investimento em relação à aquisição de apenas um dos seus componentes, ainda que não possa eliminar o risco sistémico do perfil do ativo reproduzido, ou seja fatores que afetam, de alguma forma, todos os ativos do mercado.
Situações especiais de liquidez. Os ETFs contam com a liquidez e transparência de cotar em tempo real nos mercados organizados. No entanto, em circunstâncias especiais justificadas (como dificuldade para o cálculo do índice), podem ficar isentos temporariamente da sua obrigação de introduzir posições no mercado. Isto implica que em determinados momentos pode ocorrer escassez temporária de liquidez, o que por sua vez pode gerar um salto nos preços da oferta/procura, principalmente em momentos de mercado de elevada volatilidade. De qualquer forma, a liquidez do instrumento financeiro vai estar sempre relacionada com a do seu tipo de ativo subjacente.
Tracking error. Mede a diferença entre a rentabilidade do ETF e o índice ao qual replica. Geralmente, este costuma ser pequeno (por fatores como diferenças de comissões, dividendos, etc). No entanto, no caso de ETFs inversos ou alavancados o tracking error em períodos mais longos pode ser relevante.
Risco de crédito ou de contraparte. Os ETFs que possuem instrumentos financeiros a prazo adquiridos a uma entidade financeira, incluem indiretamente o risco de crédito da entidade garante. É importante mencionar que outro tipo de ETPs (os ETCs e ETNs) implicam um risco de crédito direto, uma vez que são emitidos como emissões de dívida.
Risco cambial e/ou exposição geográfica. Decorrente de ativos subjacentes que estejam expostos a moeda estrangeira ou a determinadas áreas geográficas.
Novas normas de informação
No início de 2018 entraram em vigor novas regras que afetam a informação sobre os ETFs para pequenos investidores, entre elas, um novo regulamento europeu (PRIIPS – Packaged Retail & Insurance-Based Investment Products) que obriga a que os produtos de investimento dirigidos aos pequenos investidores disponham de um documento de informação relevante que facilite a sua compreensão e comparação. São designados por KID (Key Information Document). Quem produz este documento deve fazê-lo no idioma oficial onde exista distribuição do referido produto. Desde janeiro de 2018 que esta regulamentação afeta os ETFs que não são UCITS (ou seja, que não contam com o passaporte europeu) e, a partir de 31/12/19, afetará também os UCITS. A ausência do KID dos emissores de ETFs não UCITS impede a contratação destes ETFs por parte de investidores de retalho.
Em resumo, em parte pelas vantagens que proporcionam ao investidor (de liquidez, valorização, etc.), em parte pela maior popularidade da gestão passiva (embora como vimos permite combinar uma gestão ativa), os ETFs transformaram-se num instrumento financeiro versátil, com uma ampla variedade e crescentes ativos sob gestão. Mesmo tendo em conta a flexibilidade e vantagens que oferecem, o investidor deve avaliar sempre previamente que o perfil de risco do investimento é adequado. Para isso, deve considerar, entre outros aspetos, a liquidez e volatilidade do subjacente, a exposição a derivados ou a taxas de câmbio.