Os movimentos dos bancos centrais e a sua postura de política monetária ditam a forma como os agentes de mercado se posicionam nos ativos que gerem. Muitas vezes os gestores tentam antecipar movimentos, tirar partido deles, mas sobretudo rentabilizar os portefólios ou estratégias que têm em mãos. Neste sentido, a duração, ou a exposição às taxas de juro, por outras palavras, tem sido um dos principais fatores de volatilidade no mercado, nos últimos tempos. Num encontro promovido pela FundsPeople em colaboração com a Generali Investments, abordou-se precisamente a forma como quatro profissionais olham para os movimentos de taxas de juro, e o partido que tentam tirar deles.
EUA ou Europa: como posicionar-se em duração?
Para o profissional da DWM do Millennium bcp as obrigações governamentais europeias não são o movimento preferido neste momento. “Estamos subponderados em obrigações governamentais europeias, posicionamento que funcionou muito bem no ano passado, e que mantemos também atualmente”, começou por referir. A razão é clara e objetiva: “Vemos, alegadamente, o BCE atrás da curva, comparativamente com a Fed”.
Sem querer ser assertivo sobre se a Fed está a ser suficientemente restritiva ou não, Tiago Rabaça lembra que os indicadores relativos à inflação do outro lado do Atlântico “não estão assim tão bem”, mas o índice de preços dos produtores core (PPI) está abaixo do índice de preços dos consumidores core (CPI), o que acaba por ser “um bom indicador avançado”. Na Europa, contrariamente, a inflação core acelera e toca nos 5,6%, o que é um máximo histórico, sendo que continua a ser incerto quanto do choque nos produtores (sem precedente) falta ainda chegar aos preços dos consumidores.
Deste modo, e colocando em cima da mesa a hipótese de que possam começar a ficar menos otimistas no crescimento em geral, Tiago Rabaça fala do provável favorecimento dos EUA se estivermos já à procura de drivers “para o próximo ciclo económico”, pelo facto de a Fed ter "mais espaço para cortar taxas", eventualmente, uma vantagem que acabou por ganhar por ter começado a subir taxas mais cedo e de maneira mais agressiva. Isso, acrescenta, favorece a duration call da entidade, que se materializa em estarem “mais otimistas em treasuries norte-americanas”. “Não é propriamente o trade mais entusiasmante, mas se tivermos uma recessão, o ponto de partida de uma yield a 10 anos em torno de 3.5% deverá garantir um retorno bastante interessante, não tanto pelo carry mas sim pelo espaço que as yields têm agora para cair”, concluiu.
1/4Numa linha de pensamento um pouco diferente, a responsável de vendas da Generali Investments diz estarem positivos em obrigações governamentais europeias. Contudo, em termos de duração, a postura é mais cautelosa. “Em termos de duração pode dizer-se que estamos mais expectantes e à espera do que vai acontecer”, contextualiza Almudena Mendaza.
No entanto, consegue ver e apontar tendências do lado dos clientes, nomeadamente um movimento “de durações muito curtas em obrigações governamentais europeias, para se começarem a posicionar para acomodarem mais duração”. Em obrigações governamentais, por exemplo, observa o espetro de cinco anos a ser favorecido. “É algo muito interessante, porque se olharmos para os fluxos na curva, vemos os clientes a movimentarem-se diretamente de uma posição de 0 anos para cinco. Não se vê muitos investidores a alocarem risco na curva a 1, 2 ou 3 anos, por exemplo”, explica. É precisamente neste contexto que recebe “muitos pedidos” de investidores que querem saber se devem investir em obrigações governamentais neste momento, mas, também, “se devem ou não mudar de governos europeus para treasuries”.
Do lado da casa gestora, além do referido positivismo em obrigações governamentais europeias, estão confiantes em investment grade também. Com um eventual sell off a aparecer (ou não), atualmente esperam algumas “grandes dispersões” no mercado, nomeadamente entre high yield e IG, mas também entre setores e países. “Estamos a tentar perceber os sinais do mercado, para tirar partido destas ineficiências, porque vamos viver um momento muito positivo para o fixed income, mas sendo sempre muito seletivos”, apontou.
2/4O foco de Ricardo Seabra no ano passado foi a parte curta da curva. Há mais de um ano, conta, enfocaram-se nos EUA, “coincidindo com o ciclo de subida de taxas”. O movimento seguiu-se para os países mais atrasados nos movimentos de taxas, nomeadamente na Europa. “Mantivemos algumas posições curtas em obrigações do tesouro inglesas ou alemãs, a 10 anos. Existiam, portanto, algumas tendências de queda que nós seguimos, especialmente nas curvas europeias”, atestou. Paralelamente, fizeram um investimento na inclinação da curva de forma a cobrir algumas situações referentes a “instabilidades financeiras”. Algo que correu muito bem, como conta, mas de onde acabaram por sair, pois trataram-se de “movimentos muito oportunísticos”, afetos a esse momento em concreto.
O mundo mudou, e atualmente Ricardo Seabra diz assistir a uma “quebra na robustez da tendência de queda das taxas de juro”. Por isso, têm optado por sair de “algumas das posições curtas”, e optam “balancear os portefólios com posições longas em EUA, especialmente nas maturidades mais curtas”. Genericamente, diz também, classificam-se neutrais em termos de duração. “Não acredito que exista um impulso da inflação que implique que se quebrem os recentes máximos de yields atingidos. Mas penso, sim, que o mercado ainda está a subestimar aquilo que já está considerado nos preços pela Fed”, concluiu.
3/4A exposição da ASK Patrimónios a rendimento fixo aumentou em 2023, mas marginalmente. No quarto trimestre de 2021 começaram por reduzir exposição à classe de ativos, em 2022 o posicionamento foi “historicamente muito baixo”, e em 2023 aumentaram então a exposição. “Mas não muito”, como conta Pedro Barata, especificando que se têm focado mais em “durações curtas”. Paralelamente, aumentaram exposição a high yield.
Contudo, o profissional faz uma menção importante, que acaba por impactar o seu trabalho e posicionamento. “Para os clientes com portefólios denominados em dólares, aumentámos as posições em fixed income, short duration, porque era um movimento mais fácil; para os outros, que têm carteiras denominadas em euros, é mais difícil porque os custos de cobertura não compensam”, explicou.
Especificamente nas obrigações europeias, vê algum espaço para que as yields cresçam, e dá um exemplo. “As obrigações governamentais alemãs a 10 anos rondam os 2,5% atualmente, mas se compararmos com 2008 ou 2004, estavam em 4,5%”, recorda. Assim, Pedro Barata não acredita que este seja o “momento para estar longo em duração em obrigações europeias”.
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