Evolução do mercado de ABS: um refúgio em tempos de crise

Egbert Bronsema
Egbert Bronsema. Créditos: Cedida (Aegon AM)

O mercado de obrigações de titularização de ativos (ABS) tem registado uma evolução significativa nos últimos anos. A crise financeira de 2008 afetou o mercado de titularizações, reduzindo a confiança dos investidores nestes instrumentos. Em 2020, a pandemia da COVID elevou a volatilidade, um fator-chave neste mercado. No entanto, após cada crise, esta classe de ativos mostrou sinais de recuperação.

As emissões de obrigações titularizadas têm vindo a aumentar desde 2016, adaptando-se a novas regulamentações e ajustando a sua abordagem à procura dos investidores. Em 2024, os fundos europeus geridos ativamente registaram um volume recorde de emissões. Esta tendência reflete uma crescente procura dos investidores por fundos de obrigações, incluindo os ABS, devido à sua capacidade de oferecer rendimentos, especialmente num ambiente de mercado volátil, como o que vivemos atualmente.

"Um dos principais motores deste crescimento foi a alteração na disponibilidade de crédito", explica Egbert Bronsema, gestor de fundos de Alternative Fixed Income na Aegon AM. Com maior confiança na economia e uma inflação em queda, os bancos recorreram ao mercado de ABS para se financiarem. Neste contexto, a redução dos spreads permitiu que a emissão de ABS fosse viável e atrativa, tanto para os bancos emitentes como para os investidores. Além disso, Bronsema refere que a regulação também teve um papel importante.

Esta evolução teve impacto direto em fundos especializados, como é o caso do Aegon European ABS Fund, fundo com Rating FundsPeople gerido por Egbert Bronsema, Frank Meijer e Balint Vágvögyi, especialistas da Aegon AM. O fundo foca-se no investimento em ABS com uma estratégia de seleção ativa, priorizando ativos apoiados por hipotecas residenciais (RMBS), empréstimos automóveis, créditos ao consumo e CLO.

Estratégias de investimento num contexto de normalização monetária

As alterações na política monetária do Banco Central Europeu (BCE) foram determinantes na evolução do mercado de ABS. “A estabilização das taxas em torno dos 2% na Europa favoreceu um ambiente de maior previsibilidade para os investidores”, refere o gestor. No entanto, a retirada do BCE de programas de compra de ativos, como as obrigações corporativas e governamentais, levou os bancos a procurarem fontes alternativas de financiamento.

Um elemento chave, indica Bronsema, foi o TLTRO, um programa de financiamento de longo prazo que permitiu aos bancos obter liquidez para aumentar os empréstimos ao consumo. Desde a sua finalização em 2021-2022, as entidades recorreram ao mercado de ABS como fonte de financiamento. Neste novo cenário, a redução da intervenção do BCE provocou um reequilíbrio entre a oferta e a procura, com bancos e tesourarias bancárias a assumirem um papel mais ativo no mercado.

Em termos de investimento, os ABS oferecem vantagens. “Em tempos de incerteza, tanto do ponto de vista das taxas de juro como das pressões de tipo recessivo, é possível superar essa volatilidade que se vê no crédito corporativo ou nas ações, por exemplo. Assim, é uma espécie de refúgio seguro dentro do rendimento fixo”, argumenta o profissional. Neste sentido, a Europa assumiu uma posição favorável face aos EUA, uma vez que os investidores veem o crescimento europeu com melhores perspetivas a longo prazo, devido a políticas de estímulo económico e maior estabilidade da inflação.

Aegon European ABS Fund: posicionamento num mercado dinâmico

Neste ambiente de mercado, o Aegon European ABS Fund soube adaptar-se para aproveitar as oportunidades disponíveis. Segundo o seu gestor, atualmente a carteira do fundo está estrategicamente posicionada para beneficiar do equilíbrio entre oferta e procura no mercado de ABS. Tendo em conta o contexto macroeconómico, os seus especialistas optaram por manter uma carteira relativamente estável, com possibilidade de assumir mais risco se os spreads se alargarem e oferecerem um prémio de rentabilidade atrativo. A nível geográfico, o fundo mantém uma forte exposição à Europa, com presença mínima fora desta região. Historicamente, teve exposições nos EUA e Austrália, mas a estratégia atual prioriza o mercado europeu devido à sua maior previsibilidade e controlo regulatório.

Um aspeto chave no posicionamento do fundo é a integração de critérios ESG na alocação de ativos. O fundo enquadra-se no âmbito do Artigo 8º, o que implica um forte enfoque em investimentos sustentáveis. A avaliação ESG é realizada através de um modelo interno desenvolvido em conjunto com a equipa de investimento responsável, uma das maiores dentro da empresa.

Bronsema destaca o valor dos ABS como um investimento sólido, com uma rentabilidade adicional face às obrigações corporativas e menor sensibilidade à volatilidade das taxas de juro. A capacidade de gerar rendimentos estáveis e previsíveis em tempos de incerteza económica reforça a posição do fundo como uma opção atrativa dentro do rendimento fixo.