Com o Mundial de Futebol à porta do Brasil, Carlos Massaru, Presidente da BB DTVM, destaca um diferente olhar dos investidores para outro tipo de estratégias mais ativas e sectoriais.
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Funds People (FP) - Num momento em que existe o medo que o Brasil seja uma "bolha" que vai rebentar a seguir ao mundial e aos jogos olímpicos, como avalia a evolução do país de há um ano a esta parte?
Carlos Massaru (CM) - A questão do calendário é importante e traz perspetivas muito interessantes para o país. Claro que também fomos afectados pelas economias do hemisfério norte e mais concretamente dos EUA, o que trouxe uma nova agenda de riscos para o país. A retirada de estímulos por parte da Fed em concreto, tem tido também impacto no Brasil. O que estamos a viver agora é uma transição do mundo de recursos que tivemos até então, para um mundo em que o fluxo de recursos passa a ser mais seletivo. Mas as oportunidades continuam: a demanda de leilões de dívida, assim como as concessões de aeroportos e rodoviárias, são alguns exemplos. Isto mostra oportunidades diferentes no campo das infraestruturas, que é a agenda relevante na nossa economia. Do ponto de vista dos fluxos nós vivemos um momento de transição, e sob o ponto de vista de oportunidades elas começam agora a ter uma agenda de encadeamento positivo.
FP - Pode o mercado brasileiro ser um rival dos EUA a médio-longo prazo?
CM – Eu não vejo uma rivalidade. Os fluxos até agora estiveram mais concentrados não só aqui, mas noutros mercados emergentes. O que aconteceu nesses anos pós-crise de 2008 foi uma concentração de maiores fluxos nos países emergentes e, consequentemente, mais oportunidades, que trouxeram para o Brasil um cenário muito positivo e seguro que beneficiou o país. Consequentemente, agora, existirá um reordenamento dos fluxos e dos mercados, o que significa que as coisas vão estar mais disseminadas, e os fluxos vão continuar a acompanhar essas oportunidades.
FP - Estavam muito positivos em relação à América Latina há um ano atrás. Qual é a visão agora?
CM - Parte da América Latina tem vindo a caminhar bem. Estou a falar do Perú, Chile, Colômbia, e em alguma medida México e Brasil. Ainda que a seguir numa velocidade talvez menor, a América Latina continua uma trajetória de crescimento positivo. O cenário político está mais estável, tal como a política económica, que tem vindo a ser implementada, tal como a situação regulatória que é mais exigente. Todos estes factores contribuem para uma perspetiva positiva.
FP - Existiu maior colocação de produtos nesses quatro países?
CM – Os investidores estão num momento de revisão de estratégias, muito por causa da questão da volatilidade e dos fluxos. Existe uma grande expectativa no lançamento de produtos que consigam captar os benefícios dos rendimentos em infraestruturas e no campo da renda variável. Os investimentos estavam muito “atrelados” ao índice Ibovespa e a dividendos de empresas. Agora os investidores estão a olhar para outras estratégias: mais ativas, sectoriais e de stock-picking. Na renda fixa, o crédito privado e o de infraestrutura é o que está mais no radar de avaliação dos investidores.
FP – No Brasil existem muitas boutiques, embora os maiores do mercado continuem a ser gestoras que pertencem a bancos. Como vê este cenário?
CM - Existe uma margem de manobra muito relevante para as boutiques, tanto que a quantidade de boutiques que vem para o mercado ano após ano, é bastante interessante. Em média, no ano de 2013, existiram provavelmente 3 a 4 novas boutiques a chegar ao mercado todos os meses. Mas de facto o principal canal de distribuição são as instituições financeiras e os grandes bancos, que também têm gestoras. Contudo, gradualmente iniciam-se processos que disponibilizam modelos de arquitetura aberta para o investidor – todos os grandes bancos têm esse modelo. É de realçar também que o Brasil tem um arcabouço regulatório muito mais consistente do que os países europeus, mas também um nível de transparência mais consistente. Isso dá ao investidor um conforto muito maior.
FP - No Brasil existe um claro benefício fiscal para investimento em imobiliário e em renda variável. Isto é sustentável a longo prazo?
CM – Sim, desde que haja capacidade de se atrair investidores. Por um lado, é preciso trazer o investimento privado para participar nestes mercados e atrair novas categorias de investidores que se tornem de longo prazo. Por outro, do ponto de vista estrutural este tipo de benefícios têm uma importância muito grande. Mas como todas as medidas de incentivo elas sofrem ajustes consoante os seus objectivos.