Expetativas de rentabilidade dos investidores institucionais baixam

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Créditos: Kaleb Tapp (Unsplash)

A incerteza continua a ser o tema dominante para os selecionadores de fundos profissionais em 2024. A escalada das tensões mundiais, as baixas expetativas de crescimento económico e um contexto de taxas de juro mais altas pesam na confiança. Os resultados do inquérito publicados pela Natixis IM demonstram o contexto de mercado altamente complexo que os selecionadores enfrentam em 2024, que fez com que os inquiridos tenham baixado quase as suas expetativas de rentabilidade a longo prazo, em comparação com o ano passado, em mais de dois pontos percentuais (6,3% face a 8,8%).

A Natixis IM inquiriu 500 profissionais de investimento em 26 países que gerem um total de 34,8 biliões de dólares em pensões públicas e privadas, seguradoras, fundações, dotações e fundos soberanos.

Os resultados revelam que o fantasma de um crescimento mais lento coloca a recessão no topo da sua lista de preocupações (52%), seguido da ameaça da guerra e do terrorismo (50%) e de um erro de política do banco central (36%). Embora a maioria (56%) dos selecionadores de fundos continue otimista quanto ao retorno do mercado deste ano, as suas perspetivas veem-se limitadas por um alto grau de incerteza e um risco imprevisível.

A maioria dos selecionadores de fundos (69%) acredita que as valorizações ainda não refletem os fundamentais das empresas, e 65% espera que a volatilidade do mercado acionista seja ainda maior este ano em comparação com o ano passado. No entanto, enquanto 62% acredita que a economia do seu país vai experienciar uma aterragem suave, mais de metade (60%) observa um maior risco proveniente da estagflação. Na região da Ásia, essa preocupação encontra-se nos 79%, e 66% na região EMEA.

Para sustentar as carteiras, os selecionadores não estão a fazer grandes alterações à estratégia de investimento. Em vez disso, estão a fazer enviesamentos táticos dentro das classes de ativos para preparar melhor os clientes para um novo contexto.

Apesar da desaceleração da China, a oportunidade persiste nos mercados emergentes

Perante a preocupação com o crescimento mundial, o receio de uma recessão também pesa na confiança perante face aos mercados emergentes. Depois de os investidores testemunharem o impacto positivo da China nos mercados emergentes e na economia mundial durante a última década, o sentimento mudou: 64% dos selecionadores acredita que o mal-estar económico da China vai continuar em 2024.

Mesmo assim, continuam a haver oportunidades de investimento, e alguns olham para os mercados emergentes como uma boa aposta. 35% acredita que as valorizações de ativos mais baratas são uma consideração fundamental para o investimento nestes mercados, e oito em cada 10 planeia aumentar (35%) ou manter (46%) as suas alocações às ações de mercados emergentes.

Relativamente a onde veem as melhores oportunidades, 48% situa a Ásia ex-China como o seu principal prospeto. Fora da Ásia, os selecionadores afirmam que a Europa do Leste e a América Latina (36% para ambas) representam as melhores oportunidades em 2024. A China (15%) encontra-se no final da lista de favoritos para o próximo ano.

Os ativos e as obrigações privados encabeçam a agenda de alocação

De acordo com uma perspetiva que antecipa descidas de taxas, quase dois terços (66%) são otimistas quanto às obrigações para este ano.

A nível mundial, 62% prevê que as carteiras de obrigações de longa duração vão superar as de curta duração em 2024, mas saber quando a alargar é uma decisão desconhecida para os selecionadores de fundos. Quase um quarto (25%) afirma ter estendido a duração, e os que não o fizeram estão à espera de taxas no intervalo de 5,01% e 5,5% (35%).

Além das obrigações, os ativos privados continuam a ser o titular dos planos de alocação, e os selecionadores de fundos estão otimistas, tanto no capital privado (55%) como na dívida pública (57%).

Dos 79% que investem em capital privado, 88% planeia manter ou aumentar (dos quais metade prefere a primeira opção) as suas participações. De facto, como responsáveis por avaliar os investimentos para as plataformas de wealth management, os selecionadores afirmam que os clientes querem mais ativos privados (51%), e seis em cada 10 afirmam que é cada vez mais fácil satisfazer essa procura. Isto deve-se ao facto de os veículos mais amigáveis como o comércio de retalho nos ajudarem a melhorar a diversificação.

As vantagens da IA

Embora o sentimento de incerteza no mercado permaneça, os selecionadores de fundos sentem-se mais confiantes no setor tecnológico, visto que foi um dos principais impulsionadores dos retornos durante a pandemia e a posterior recuperação. No entanto, é a IA que impulsiona as perspetivas para 2024, visto que 47% dos selecionadores de fundos acredita ser uma oportunidade maior do que a internet.

Para além de investirem simplesmente em empresas com exposição à IA, os selecionadores de fundos veem vantagens diretas na aplicação da tecnologia dentro do seu próprio processo. Quase três quartos (73%) acreditam que a IA vai ajudá-los a desbloquear oportunidades que, antes, não eram claramente visíveis, enquanto outros 64% acreditam que a tecnologia vai ajudá-los a descobrir riscos ocultos.

As taxas de adoção da tecnologia já são sólidas entre os selecionadores de fundos, e mais de metade (51%) já utiliza a IA para ajudar na sua análise.

Gestão ativa

Os gestores de património têm estado a trabalhar arduamente para alcançar o equilíbrio adequado entre os investimentos ativos e passivos ao longo da última década, e os selecionadores de fundos alocaram 64% dos ativos a investimentos ativos e 36% a investimentos passivos.

No entanto, 50% dos selecionadores inquiridos pela Natixis IM atribui o recente retorno superior dos investimentos passivos à política dos bancos centrais, a dez anos de taxas de juro artificialmente baixas e a uma inflação relativamente nula.

Agora que o panorama está a mudar, quase seis em cada 10 (58%) afirmam que os investimentos ativos nas suas plataformas superaram os investimentos passivos em 2023. Dado que as taxas de juro vão manter-se mais elevadas durante mais tempo, 68% dos selecionadores de fundos afirma agora que os mercados favorecem os gestores ativos e, perante um panorama incerto, 75% acredita que os investimentos ativos vão ser essenciais para encontrar alfa em 2024.

Para Sophie del Campo, responsável de Distribuição da Natixis Investment Managers para o Sul da Europa, América Latina e US Offshore, “os selecionadores de fundos da Península Ibérica esperam um ano de 2024 complexo, com a inflação, a volatilidade e as taxas de juro entre as suas maiores preocupações. Apesar dos seus receios de um cenário de estagflação e de um aumento dos incumprimentos, os selecionadores acreditam numa aterragem suave da economia e mantêm o otimismo quanto aos mercados. Há uma grande convicção entre os selecionadores quanto às oportunidades que os ativos alternativos podem gerar, que podem ajudar a proteger as carteiras num ano difícil, como a Inteligência Artificial e a gestão ativa. Neste contexto, os selecionadores estão a preparar estratégias de produtos e investimentos que não só se ajustam às necessidades imediatas dos clientes, como também os ajudam a apoiá-los durante um ano que poderá ser tão volátil como 2023”.