Dois gestores de fundos de ações nacionais comentam a troca da Novabase pela F. Ramada no PSI-20 e evidenciam a falta de liquidez no índice, que continua a ser problemática.
Está marcada para dia 19, próxima segunda-feira, a subida da F. Ramada ao PSI-20, substituindo assim no principal índice português a tecnológica Novabase, que integrava o índice desde março do ano passado. A revisão anual do PSI-20, levada a cabo pela Euronext, não trouxe contudo mais novidades: o principal índice nacional continua a ser composto por 18 empresas (em vez das supostas 20 que o nome indica) e a única novidade é portanto esta “troca por troca”.
A F. Ramada – empresa do sector dos aços que teve a sua origem em 1935 com a produção e distribuição de ferramentas para madeira – teve no ano passado um boost nos seus lucros, pois a entidade alienou a sua participação no grupo Base, operação que lhe rendeu 40 milhões de euros. Desde o início do ano que é evidente a progressão da entidade: em bolsa cresceu mais de 16%, e a sua capitalização bolsista é atualmente próxima dos 335 milhões de euros.
Evolução da F. Ramada na bolsa desde o início do ano
Fonte: Euronext
Evolução da Novabase na bolsa desde o início do ano
Fonte: Euronext
Pouco (ou nada) muda
Os gestores de fundos de ações nacionais fazem obviamente parte do leque de investidores que mais capital alocam ao PSI-20 e, por isso, são os primeiros a colocar o dedo na ferida chamada “falta de liquidez” do índice. Na opinião de Pedro Barata, gestor à frente do NB Portugal Ações, a subida de “divisão” da F. Ramada pouco acrescenta ao mercado e, na sua opinião, “nada muda”, pois “o PSI20 continua a ter somente 18 empresas em vez das 20 possíveis”, substituindo-se “uma empresa de liquidez reduzida por outra com características semelhantes”.
Nuno Marques, gestor do IMGA Ações Portugal, concorda com Pedro Barata e enfatiza que “mais uma vez, a decisão da Euronext peca pela falta de adequação ao mercado nacional de ações, cuja dimensão, liquidez e diversificação são diminutas”. Na opinião do profissional, “a não inclusão de mais empresas no índice” configura-se como “claramente uma falha”, “não permitindo tornar o benchmark de ações portuguesas um pouco mais atrativo, num cenário em que algumas empresas que já fazem parte do índice não cumprem as regras exigidas pela Euronext de dispersão de capital e/ou de liquidez transacional”.
Manutenção de ambas no índice
No que toca à entrada da F. Ramada e à saída da Novabase, Nuno Marques acredita que seria possível a manutenção de ambas no índice principal. “Sou da opinião de que, sendo ambas empresas de qualidade com gestão de excelência, a diversidade sectorial devia ser promovida, fazendo sentido a Novabase ser mantida promovendo-se o referido aumento do número de constituintes com a inclusão da F. Ramada e de outra empresa que se perfilasse para tal”, explica.
Com esta decisão pouco muda para Nuno Marques, que entende que “independentemente do que a Euronext tenha decidido, o perfil do índice pouco altera pois o peso das empresas em causa no índice é muitíssimo reduzido quando comparado com o das principais empresas nacionais, sendo que, à data de hoje, as cinco maiores deverão ter um peso agregado de cerca de 60%”.