Fatores e consequências da escalada do conflito no Médio Oriente

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Créditos: GeoJango Maps (Unsplash)

Os investidores enfrentam uma semana marcada pelos riscos geopolíticos após a escalada das tensões no Médio Oriente, com o lançamento de 300 drones e mísseis por parte do Irão, a que Israel resistiu, bem como o encerramento do espaço aéreo, primeiro por parte da Jordânia e depois de Israel. Resta saber se esse ataque vai desencadear uma série de represálias.

O Irão cumpriu as advertências que já tinha feito após o ataque às suas instalações diplomáticas na Síria. Alguns especialistas consideram que é por isso que não foram registados danos colaterais significativos, embora aumente o risco geopolítico que os investidores já tinham anunciado no Fund Manager Survey do Bank of America.

Os mercados europeus registaram uma evolução positiva na passada segunda-feira, dia 15 de abril, e embora os futuros dos EUA estivessem no vermelho na abertura da sessão europeia, à medida que o tempo foi passando, o cenário mudou, alcançando subidas de cerca de 1%. As obrigações em geral registaram aumentos de rentabilidade, com as obrigações americanas a dez anos a atingir os 4,61%, enquanto o bund alemão atingiu 4,257%, uma variação superior aos 2%. Em matérias-primas, tanto o petróleo como o ouro estão a cair, podendo ser devido à recolha dos lucros quer à postura wait and see. A volatilidade aumenta, com o VIX a subir em cerca de 1,4%.

Aparentemente, o impacto nos mercados é efémero

Como Vincent Chaigneau, responsável de Análise na Generali Investments, relembra, isto ocorre num contexto de fadiga do aumento dos ativos de risco e das volatilidades, especialmente do crédito, desde o final de março. Para o analista, o impacto nas obrigações dependerá das repercussões que tudo isto tiver na inflação, “tendo em conta a forte correlação (positiva) dos últimos seis meses entre os preços do petróleo e a taxa implícita das taxas de juro da Fed no final de 2024”.

Além disso, Vincent faz referência ao facto de os níveis de inflação (especialmente a 1-2 anos) já terem disparado, pelo que o preço das obrigações já está a descontar muitas notícias em baixa.

Para a Vontobel AM, a reação imediata do mercado foi moderada, “embora quem especulou sobre o aumento dos preços do petróleo se tenha equivocado”, segundo Frank Hausler, estratega-chefe de Investimentos da gestora suíça, com os futuros do Brent para entrega em junho a cair 0,2% aos 90,22 dólares por barril, enquanto os do WTI caíram 0,3% a 85,37 dólares. No entanto, o estratega considera que, a médio e longo prazo, “tudo depende de como se vai desenvolver o conflito, inclusive se Israel lançar um ataque de represália”. Destaca que, pelo lado positivo, há outros grupos de interesse que também estão a tentar acalmar a situação.

“Os mercados de ações mantêm a sua solidez fundamental graças a dados económicos melhores do que o previsto e a lucros sólidos. A médio prazo, portanto, continuamos otimistas relativamente aos índices dos mercados de ações”, aponta Gregor Hirt, diretor global de Investimentos da AllianzGI. Acrescenta que as correções a curto prazo poderão oferecer bons pontos de entrada ou de reentrada.

No entanto, o diretor destaca que estão plenamente conscientes de que o impulso a curto prazo já estava mais lento em abril, antes dos eventos do Irão, visto que os dados de inflação inesperadamente elevados nos EUA provocaram expetativas de taxas de juro mais elevadas a longo prazo.