Filipe Villarroel (Vontobel Strategic Income): “Gostamos do Reino Unido porque há um prémio devido ao Brexit”

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Cedida

Conseguir rendimentos num mundo de rentabilidades negativas em grande parte dos ativos mais seguros e com os dividendos em declínio é complicado, mas não impossível.

Uma prova disso vê-se no fundo Vontobel Fund-Twenty Four Strategic Income, fundo com Selo FundsPeople 2020 pela sua classificação de Consistente e que acaba de celebrar o seu quinto aniversário. A FundsPeople conversou com Filipe Villarroel sobre o que mudou e o que não mudou no fundo nestes cinco anos de história.

“O que não mudou foi a filosofia de investimento, nem a equipa, nem o objetivo de geração de income”, afirma. Não obstante, para conseguir esse objetivo de geração de rendimentos (hoje as yields médias da carteira estão em 3,8%) foram adaptando a carteira aos diferentes contextos de mercado. Ao fim e ao cabo, trata-se de uma carteira flexível de obrigações long only o que lhes permite pescar em todos os segmentos do mercado de dívida sem assumir nenhum tipo de alavancagem.

“À medida que nos aproximámos do fim do ciclo económico, há dois ou três anos, o que fizemos foi reduzir a exposição a produtos de spread e comprar gradualmente obrigações de governo, sobretudo treasuries”, afirma Villarroel.

Essa progressão na adaptação da carteira permitiu-se chegar ao mês de março deste ano com 65% do portefólio em crédito e 35% em obrigações governamentais, o que lhe permitiu contornar as quedas de março em melhor forma do que outros concorrentes. A partir do mês de abril optaram por se ir desfazendo dessas posições mais defensivas para as aumentar uma vez mais em crédito. “Agora temos 90% em crédito e 10% em obrigações de governos”, afirma.

Este rally, não obstante, além de reportar ao fundo um bom comportamento num contexto incerto como o atual, nota-se uma rentabilidade no ano de 3,6% segundo os dados da Morningstar, deixando as valorizações destes ativos muito mais ajustadas do que em março.

É preciso se mais seletivo

Isso obriga a ser seletivos, mas não implica que neste segmento de mercado não se possam continuar a encontrar oportunidades interessantes. “O importante é olhar para os spreads que não estão em mínimos ao contrário das yields, que estão em níveis mínimos. Acreditamos que os mínimos de spreads da crise anterior serão superados porque os bancos centrais vão continuar com as taxas baixas durante muito tempo e fazer continuar a subida da procura por yield”, afirma Villarroel. Por isso, o seu conselho é claro: “Se o prazo de investimento é de médio prazo não faz sentido realizar mais-valias neste tipo de fundo”.

Parte dessas oportunidades o gestor encontra-as em mercados como o do Reino Unido. “Nas geografias, gostamos do Reino Unido que porque há um prémio devido ao Brexit. Não consideramos provável um hard Brexit. Se o houvesse iria notar-se muito nas ações, mas não se notaria na solvência no sistema e agora há um prémio muito grande por isso”, afirma.

Quanto ao nível setorial, mostra uma preferência pelos setores como os bancos já que, segundo explica, “o sistema bancário global está a provar que toda a regulamentação que a Lehman trouxe consigo serviu e o sistema bancário foi parte da solução e não do problema”.