Numa breve passagem por Portugal, o gestor português deu-nos a conhecer os critérios e convicções, consolidados ao longo de décadas de experiência profissional, que estão na base da filosofia de investimento que aplica nos fundos que gere.
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A vida profissional de Firmino Morgado, português e gestor de carteiras na Man GLG, passa pouco por Portugal nos dias que correm. Atualmente, nos escritórios do Man Group em Londres, tem sob a sua alçada dois fundos de investimento em ações europeias, mercado em que se tem vindo a especializar ao longo dos seus vastos anos de carreira. Porém, o gestor não esquece o seu país natal, e foi numa das suas visitas ocasionais que, em conversa com a Funds People, descreveu o seu percurso profissional, experiência e abordagem de investimento.
O seu percurso no meio de gestão de ativos começou por uma primeira experiência nos mercados financeiros, quando ainda era estudante universitário. “Nessa altura, nos meados dos anos 80, Portugal era o que se considera um mercado emergente: quando os investidores internacionais queriam crescimento era aqui que investiam”, contextualiza. Contudo, as prescritivas de evolução económica não foram suficientes para evitar que os resultados desse empreendimento fossem insatisfatórios. Firmino Morgado assume que “foi uma grande aprendizagem” que motivou o desejo de aprender mais sobre este ofício. “Percebi que isto de investir não é para amadores, que se tem de investir naquilo que se conhece e perceber como funciona”, resume.
Nos anos seguintes passou pela Goldman Sachs, Capital Group e Fidelity, onde se especializou na gestão e seleção de ações da Europa e Península Ibérica. Posteriormente fundou a W4i, gestora boutique também focada no investimento long-only de títulos europeus, que em 2017 se juntou ao Man Group. Hoje, na gestora britânica, tem a seu cargo os fundos European Income Opportunities, fundo com selo Consistente Funds People 2019, e Iberian Opportunities, cujas estratégias celebram a sua especialização de muitos anos a selecionar equities europeias.
A chave: dividendos crescentes
Refletidas na política e filosofia de investimentos destes fundos estão as lições provenientes da já referida primeira experiência no mundo da gestão de ativos, surgindo sobre a forma de princípios fundamentais. Desde logo, existe um grande foco na liquidez, o que confere alta flexibilidade ao investidor, mas também noutros aspetos intrínsecos das aplicações do fundo, nomeadamente o pagamento de dividendos. O gestor resume a tese de investimento do European Income Opportunities da seguinte forma: “só investimos em empresas que conseguem pagar um dividendo crescente; pode ser alto ou baixo, mas tem de crescer”. A motivação por detrás desta posição assenta no princípio de que, no longo-prazo, o fator que mais influência a rendibilidade de uma ação é o crescimento do dividendo, ao invés da própria yield do dividendo e dos ajustamentos no preço da ação.
Contribuição média da yield do dividendo, do crescimento do dividendo e ajustamentos de valuation no retorno total de uma ação, para diferentes períodos de investimento
Nas palavras de Firmino Morgado, “a carteira divide-se em dois segmentos: os dividend yielders e os dividend growers. Todos pagam dividendos crescentes. Os dividend yielders pagam uma dividend yield mais elevada, mas o seu crescimento não é tão alto. Já os dividend growers têm uma yield mais baixa, mas com um crescimento maior”. Os growers são tendencialmente posições a mais longo prazo em carteira; os yielders são destinados a transações mais recorrentes, aproveitando as movimentações nos ajustamentos no preço e na procura do mercado. Existe uma decisão deliberada de evitar deter por muito tempo ações com dividendo constante, entendidas como quasi-bonds.
Outra condição imposta trata-se do nível de concentração do fundo. Ao contrário do que acontece com fundos do peer group, a seleção de títulos do European Income Opportunities situa-se entre as 25 e as 35 posições, sem comprometer a diversificação. Os resultados deste conjunto de convicções de investimento são evidentes: o fundo apresenta uma volatilidade inferior à do índice de referência, para além de que regista uma rentabilidade superior à do benchmark (MSCI Europe TR) desde o seu lançamento.
Firmino Morgado não esconde que ter uma filosofia de investimento tão delimitada como esta tem vários desafios associados. “A rotação dos dividend yielders pode levar muito tempo”, confessa, “muitas vezes adorávamos comprar ou vender uma ação, mas a avaliação fundamental que fazemos não nos permite”. A solução? “Temos de ter paciência e esperar pela oportunidade. Estamos sempre no ‘unfashionable’: quando todos querem comprar, nós estamos lá para vender”.