Recentemente em Portugal, François Divet, head of insurance – linked securities, revelou o funcionamento das Cat Bonds, uma classe de ativos que considera ser uma boa alternativa num ambiente de taxas baixas.
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Catastrophe Bonds, ou Cat Bonds, são uma classe de ativos dentro do segmento de obrigações que oferece características bastante diferentes das obrigações corporativas tradicionais. François Divet, head of insurance – linked securities na AXA Investment Managers, esteve recentemente em Portugal e explicou o potencial desta classe de ativos. Para o profissional, o ponto-chave mais importante destes investimentos é a baixa correlação com as classes de ativos tradicionais. A volatilidade registada pelo mercado encontrava-se nos 2,4%, mas após os Estados Unidos e Porto Rico terem sido afetados pelos furacões entre o final de agosto e o início de setembro esta subiu. Atualmente, a volatilidade atingiu os 5,4%, mas François destaca que “embora esta se encontre mais alta do que a das obrigações governamentais, importa recordar que de uma forma geral é impulsionada pela falta de ocorrências de catástrofes naturais com impacto nestes ativos”.
Quanto ao tamanho do mercado, “este situa-se atualmente em torno dos 26 mil milhões de dólares, pelo que é considerado um nicho”, adianta Fraçois Divet. Não obstante, o profissional considera que o mercado de Cat bonds “é a parte líquida do mercado dos ativos insurance-linked”, sendo que estas obrigações, “apesar de serem menos líquidas do que as obrigações corporativas, podem ser transacionadas num mercado secundário”.
O que são?
As Catastrophe Bonds são um instrumento dentro do segmento obrigacionista que permite às seguradoras e resseguradoras gerir a sua exposição a riscos de elevada dimensão, tais como os desastres naturais. “Ainda que possa variar entre um e cinco anos, a maturidade das Cat Bonds é, geralmente, de três anos”, revela François Divet. Assim, os investidores nestas obrigações são compensados por assumir o risco de seguro da ocorrência de eventos extremos, obtendo o prémio no caso de não se verificar nenhum desses eventos.
Por outro lado, o retorno é definido pela probabilidade da ocorrência do evento previamente definido. “No final de setembro, o retorno médio nos últimos 14/15 anos era de 7,1%, mas é importante ter em atenção que as Cat bonds são obrigações de taxa variável", ressalva o profissional. Contudo, importa ainda recordar que os furacões que atingiram a costa dos Estados Unidos e de Porto Rico levaram a uma variação no retorno médio, embora pouco significativa - anteriormente este encontrava-se nos 7,5%.
Como funcionam?
Apesar de pouco frequentes, as catástrofes naturais são eventos com um impacto enorme. Como tal, as Cat bonds representam um conjunto pequeno de investimento com potencial de expansão, no qual o seu desempenho não depende de fatores ou ciclos económicos, mas sim da ocorrência de eventos de catástrofes naturais.
Mas, na prática, de que forma funciona? Vejamos o exemplo de François Divet. “Suponhamos que uma seguradora norte-americana tem a necessidade de cobrir a sua exposição face a um furacão, emitindo uma Cat bond. Esta funciona, por exemplo, com dois patamares – três e quatro mil milhões de dólares, respetivamente. O furacão atinge os Estados Unidos, e o custo total para a seguradora são dois mil milhões de dólares. Neste caso, uma vez que estamos abaixo do primeiro patamar, os investidores não perderão dinheiro. Supondo agora que o custo total não são dois mil milhões, mas sim cinco mil milhões, estamos, assim, acima do segundo patamar e, como tal, é uma perda total por parte dos investidores”, explica. Dito isto, o profissional afirma que o mecanismo é bastante simples, destacando, ainda, outro aspeto: “quanto mais baixos forem os patamares, maior será a probabilidade de ocorrência e, por isso, maiores serão os retornos obtidos pelos investidores”. O efeito das diferentes ocorrências é cumulativo e sujeito a um reset periódico.
Por outro lado, François Divet deixa claro que o dinheiro não é entregue diretamente à seguradora ou resseguradora. “Existe uma terceira entidade entre o emitente e o investidor, o special purpose vehicle ou o special purpose reinsurer, sendo que o dinheiro só será entregue ao emitente no caso de se verificar um evento que corresponda aos critérios definidos na Cat bond”, refere numa primeira instância. Este montante será investido numa carteira colateral: “o investimento proporcionará uma parte vinda da taxa variável e uma outra parte que resulta do prémio pago pelo emitente. Posto isto, o cupão recebido pelo investidor é o somatório entre a taxa variável, resultante da solução colateral, e o prémio pago”, explica o profissional. De acordo com François Divet, não existe crédito de risco nesta classe de ativos. Não obstante, poderá existir risco de reinvestimento.
Mecanismos para verificar a ocorrência de perdas para os investidores
Existem vários mecanismos que permitem definir os casos em que se verificam perdas por parte dos investidores. O primeiro denomina-se por indemnity transactions, no qual, depois de se registar uma catástrofe natural, os resultados das perdas providenciados pela seguradora são analisados por duas entidades independentes. “Uma delas irá analisar se a seguradora pagou aquilo que era a sua obrigação pagar, e a outra, a chamada reserve specialist irá analisar a precisão dos dados disponibilizados pela mesma”, explica François Divet. O nome dado à segunda entidade tem que ver com o fato de que “quando existe uma catástrofe, algumas perdas não são reportadas de imediato. Como tal, as seguradoras acrescentam a chamada reserva às perdas já declaradas, sendo que essa entidade irá analisar o valor desta reserva, uma vez que as perdas oficiais serão calculadas pela diferença entre as já declaradas com o valor da reserva”, acrescenta o profissional.
O segundo mecanismo tem o nome de parametric transaction, uma vez que “ao contrário de se focar nas perdas do emitente da Cat bond, este mecanismo foca-se nos parâmetros físicos, como é o caso da magnitude de um terramoto”, revela o profissional. Neste mecanismo é definida uma determinada área, sendo que se o terramoto registado no interior dessa área for acima de uma determinada magnitude, os investidores começarão a perder dinheiro.
Para François Divet, o terceiro mecanismo – modelled loss – é semelhante ao mecanismo anterior, mas a diferença está na utilização dos parâmetros físicos: “os parâmetros físicos são retirados e agrupados com os valores de seguro pré-determinados numa ferramenta, na qual o resultado da junção de ambos dá origem a um índice que será comparado com os patamares da Cat bond”, revela.
O quarto e último mecanismo tem o nome de industry index transactions, sendo semelhante ao primeiro mecanismo. Contudo, não se foca nas perdas de uma seguradora em específico, mas sim no somatório das perdas declaradas por todas as seguradoras. “Se existir uma tempestade na Europa, serão somadas as perdas da Axa, Allianz, Generalli, etc., e analisadas com base no patamar da Cat bond”, exemplificou.