Apresentamos uma perspetiva de como o engagement pode ser uma ferramenta para gerar impacto, através de um processo que propõe uma alteração na interação com emitentes e empresas.
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O engagement como ferramenta para gerar impacto. Essa é a aposta do responsável de Engagement da Generali Insurance Asset Management, François Humbert, que é também chairman da Climate Action 100+, uma iniciativa liderada por investidores para garantir que as maiores empresas emitentes de gases com efeito de estufa do mundo tomam as medidas necessárias contra as alterações climáticas.
Engagement com impacto
O conceito de impacto anda sempre de mãos dadas com o facto de ser mensurável, bem como intencional e adicional. François Humbert salienta que a GIAM tem como objetivo criar alfa através de algumas das suas ações de engagement. “A forma de criar alfa de engagement depende tanto da regulação como das práticas do mercado, mas cada vez mais se pedem resultados. Nós acreditamos que, nos mercados cotados, o engagement é uma das formas que existem para demonstrar que as instituições financeiras podem ter um impacto real”, afirma. “Para nós, esse impacto é ser capaz de mudar como as empresas atuam. A adicionalidade será demonstrada quando a empresa emitente reconhecer que efetuou determinadas mudanças devido à interação com a GIAM. É esse o alfa de engagement que gera o engagement de impacto”, explica.
O que é necessário para fazer engagement com impacto?
São três os ingredientes do engagement com impacto. O primeiro é criar valor acrescentado para o emitente, o segundo é negociar esse valor acrescentado com o emitente com base em expetativas realistas e, por último, e caso seja relevante, reunir o apoio de outros investidores.
“Nesta receita, o que é essencial é que os ingredientes estejam lá, mas também que haja uma mudança na mentalidade do cozinheiro”, afirma François Humbert. Trata-se de mudar o tipo de interação com os emitentes, é necessário passar do confronto para a cooperação. “É preciso ter novos marcos temporais porque mudar uma empresa leva tempo, mas no mercado há alterações todos os dias. Por isso, também é preciso ter novas competências, pois é necessário negociar com os emitentes e, por fim, é preciso mudar o estilo de comunicação”, afirma.
Como se planeia um engagement de impacto? “Na maioria das vezes, tomamos essa decisão quando os clientes nos pedem. Normalmente utilizamos três tipos de critérios para criar a nossa lista de engagement com impacto. Um é a exposição ao emitente, o segundo é o seu risco ESG e o terceiro é a nossa capacidade de ter uma influência eficaz”, afirma. “Trata-se de pensar que tipo de engagement terá mais probabilidade de marcar a diferença para os emitentes com o mesmo nível de risco. É preciso estabelecer prioridades”, acrescenta.
Adicionalidade
Demonstrar o elemento da adicionalidade em empresas cotadas é mais difícil do que em privadas. A preparação de cada diálogo é fundamental para gerar valor acrescentado. O diálogo com a empresa energética checa CEZ é um exemplo. “Em 2020, contactámo-los salientando a importância do marco de referência dos SBTi (Science Based Targets). Eles não os conheciam, nós explicamos-lhes e conseguimos estabelecer determinados objetivos. A empresa reconheceu os efeitos deste diálogo em 2022”, afirma François Humbert.
Preparar cada caso exige um estudo aprofundado. “Em empresas de petróleo e gás, não sabíamos o que representa, em termos de CAPEX, um alinhamento com o objetivo de 1,5 °C. Estamos a trabalhar há dois anos, estudando um modelo climático em combinação com um modelo financeiro para o compreender e poder transmiti-lo às empresas emitentes, que nos dizem que nunca ninguém lhes apresentou nada assim. Por vezes, demora tempo, mas quando é bem preparado, consegue-se que confiem em nós”, afirma.
Esse engagement de impacto é reservado às empresas em que será mais eficaz em termos de materialidade. “Votámos em mais de 100 assembleias gerais e fizemos um engagement normal com 66 empresas, mas engagement de impacto com apenas 17”, afirma o responsável.
Reação das empresas
Sobre como as empresas estão a receber esta aproximação, François Humbert responde que “as empresas, em média, estão habituadas a que este tipo de abordagem seja feito num ambiente marcado por dúvidas e suspeitas, o que pode gerar um ambiente de confronto. A nossa abordagem é muito diferente. O que propomos é uma parceria em que o emitente sai beneficiado”. Normalmente, é preciso tempo para que a empresa o valorize e confie, embora a grande maioria acabe por apreciar esta forma de fazer engagement, segundo o profissional.
Além disso, também conseguiram alianças com outros investidores. Atualmente, estão mais focados na Europa, por razões de capacidade e eficácia. “Existe sempre este dilema entre a quantidade e a qualidade, mas é cada vez mais importante. No IS, passou-se da exclusão ao engagement, porque é uma forma muito mais eficaz, pelo que continuaremos a aumentar a capacidade. É uma abordagem diferente e pode ser utilizada noutras geografias”, conclui.