Fund Manager Survey: um em cada dois gestores dá por terminado o ciclo de subidas da Fed

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Créditos: Patrick Tomasso (Unsplash)

Se a Reserva Federal resiste, o mercado também o faz. Os gestores dão por terminado o atual ciclo de subidas de taxas da Fed. Segundo o último Fund Manager Survey do BofA, um em cada dois (61%) investidores profissionais assim o afirma. Além disso, 43% prevê a primeira descida das taxas já em janeiro de 2024. Uma opinião que vai ganhando cada vez mais peso entre os inquiridos. Mas uns notáveis 24% acreditam que será no último trimestre deste mesmo ano, enquanto 14% acredita que será adiado para o segundo semestre do próximo ano.

Essa previsão do fim do endurecimento da política monetária coincide com a deterioração das expetativas macroeconómicas. A confiança dos investidores inquiridos no FMS deteriorou-se em maio para o seu ponto mais baixo de 2023. Assim, os gestores aumentaram os seus níveis de liquidez e pioraram as suas previsões de crescimento. Os níveis de caixa aumentaram por mais um mês, de 5,5% em abril para 5,6%. Tem estado acima dos 5%, o nível que ativa o sinal de compra tática para o BofA, desde novembro de 2021.

Uma alteração interessante revelada no inquérito de maio é que o otimismo quanto a uma forte recuperação da China também está a diminuir. Isso explica a redução do investimento em ações emergentes, que se encontra no seu nível mais baixo de percentagem de gestores sobreponderados desde dezembro de 2022. 

Implicações para o posicionamento

E esta narrativa reflete-se nas carteiras: regressa o growth e a duração. A alocação ao growth (tecnologia/discricionário) em relação às financeiras (bancos/seguros) subiu 12 pontos percentuais em maio. É o nível mais elevado desde agosto de 2021. A última vez que os investidores do FMS mudaram tão rapidamente de ações financeiras para ações growth foi entre agosto e novembro de 2007.

De facto, pela primeira vez desde o passado agosto, os gestores acreditam que o growth vai ter um melhor desempenho do que o value. Embora se trate de uma tendência incipiente, com 6% dos investidores a acreditar nisso, não deixa de ser o nível mais elevado de confiança no growth desde julho de 2020. Os investidores só disseram duas vezes desde setembro de 2020 que o crescimento iria superar o value: em agosto de 2022 e em maio de 2023.

No último mês, os investidores viraram-se para a tecnologia, a zona euro e as ações, ao mesmo tempo que abandonaram as matérias-primas, serviços públicos, mercados emergentes e EUA. Assim, o posicionamento mais concorrido é longo em grandes empresas tecnológicas e curtos em bancos.

No entanto, os receios da contração do crédito e da recessão mundial continuam a impulsionar a alocação a obrigações. Atingiu os 14% de gestores sobreponderados, a maior sobreponderação desde março de 2009. Essa incerteza também afeta o real estate. Os gestores estão subponderados na classe de ativos desde setembro de 2022 e a subponderação está no seu nível mais amplo desde julho de 2009.

Também é interessante o movimento nas matérias-primas. Apenas 2% dos gestores está sobreponderado nessa classe de ativos, a menor sobreponderação desde maio de 2020, em plena pandemia. A sobreponderação caiu 13 pontos percentuais nos últimos três meses, a maior queda de agosto de 2022.

Um soft landing é credível

A boa notícia é que a preocupação com a recessão permanece estável. Apenas 47% dos investidores considera provável uma recessão nos próximos 12 meses. Além disso, quase dois terços dos inquiridos pelo FMS (63%) consideram que um soft landing (uma aterragem suave da economia) é o resultado mais provável para a economia mundial. Apenas um quarto vê uma aterragem dura como o cenário mais provável. Muito poucos esperam que não haja qualquer aterragem.