Gary Baker (CFA Institute): “Se as pessoas estiverem dispostas a mudar e a continuar a investir no seu próprio conhecimento tudo ficará bem”

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O mês de dezembro fica marcado por mais um conjunto de novos CFA charterholders em Portugal, neste caso 28 novos nomes. A atribuição da menção teve lugar no passado dia 12, no Hotel D. Pedro, e um dos anfitriões da cerimónia foi o experiente managing director da Europa, Médio Oriente e África (EMEA) do CFA Institute, Gary Baker. Aproveitando a visita do profissional a Lisboa, a Funds People falou com ele, numa conversa onde não faltaram os tópicos “quentes” que preocupam a indústria financeira atualmente.

Mas precisamente esse “atualmente” é algo subjetivo para o responsável. Relembrando a experiência que teve como equity strategist durante muitos anos,  Gary Baker acredita que as preocupações na indústria financeira vão e vêm. “Existem períodos em que um determinado tema está debaixo dos holofotes e, de repente, simplesmente desaparece, voltando a aparecer posteriormente também repentinamente”. No entanto, existem sempre coisas do momento a apontar e para Gary Baker há problemas estruturais na Europa por resolver, sendo a estrutura da União dos Mercados de Capitais um deles. “Ainda temos a arquitetura na Europa pouco definida e isso afecta os mercados financeiros. Para os investidores, diria que a grande preocupação reside nas pensões de longo prazo”, comenta.

Unem-se à lista de preocupações dos profissionais o rumo que a tecnologia poderá tomar no sector, mas também os movimentos dos fluxos  de investimento na dinâmica de investimento ativo vs passivo. “Este movimento em direção ao investimento passivo, que temos visto mais fortemente nos EUA, mas que também estamos a ver na Europa, está a preocupar os profissionais, conjuntamente com o tema da tecnologia. Creio que o que é chave é as pessoas estarem abertas à mudança. Desde que as pessoas estejam dispostas a mudar e a continuarem a investir no seu próprio conhecimento tudo ficará bem”.

Fora da conversa não podia ficar, claro, o tema do investimento sustentável e do ESG. “Se olharmos para o Orçamento da União Europeia como um todo, verificamos que uma boa parte – entre 20% e 30% - se trata de um fim para os temas da sustentabilidade. O tema está para ficar, porque os reguladores o irão assegurar, mas para os investidores profissionais o mais importante é que esse caminho da sustentabilidade é aquele que está a ser seguido pela população de investidores em geral e aquilo que estes procuram neste momento. Como profissionais temos de olhar de forma séria para este assunto que está a vir dos dois lados: da base investidora, mas também dos reguladores”.

Remover vieses humanos

A tecnologia, e o espaço que tem ganho na atividade financeira, merece da parte do especialista um apontamento especial. Gary Baker diz-se positivo relativamente à aplicação da tecnologia nas áreas de seleção de ações e análise, pois acredita que “existe uma boa parte da tecnologia que pode ser aplicada para remover os vieses humanos que possam existir. Os bons analistas e os bons portfolio managers devem estar focados em questões que são essencialmente humanas, que são a capacidade de emitir um juízo, e naquilo onde podem de facto encontrar valor”. O erro das pessoas, acrescenta, é só um: “Ficarem aterrorizadas e paralisadas a achar que a tecnologia as irá afetar”. Se, pelo contrário, “os profissionais estiverem preparados para aprender e perceber, irão seguramente sair-se melhor”.

Este é um debate que o CFA Institute tem refletido muito nos researchs produzidos, sendo que Gary Baker perspetiva que “nesta combinação entre a Inteligência Artificial e  a inteligência humana está a falar-se de uma verdadeira ‘applied intelligence’”. Nesse sentido acredita que “encontrar formas de reter humanidade usando a tecnologia faz dos profissionais melhores investidores”.

Outra adaptação que os investidores profissionais têm de fazer por esta altura passa pelo novo paradigma de taxas de juro 0. “Numa perspetiva de longo prazo teremos de esperar que os retornos vão estar mais baixos do que anteriormente. É uma imagem um pouco assustadora, mas não temos de nos deixar desanimar por isso. A alternativa passa por não pensar apenas nos mercados públicos, mas sim também nos mercados privados”, atesta. A questão, na perspetiva do managing director, é entender “como é que se dá acesso de forma segura a esses mercados aos investidores privados”. “Não podemos apenas ficar sentados e aceitar 1% ou 2% de crescimento se os alternativos estão disponíveis e podemos trabalhar com eles”.