Gaurav Chatley (M&G Investments): “Chegou o momento de voltar ao crédito europeu de investment grade”

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Gaurav Chatley. Créditos: Cedida (M&G)

Durante grande parte do ano passado, Gaurav Chatley, gestor de carteiras sénior da M&G Investments, tinha defendido a subponderação em crédito, simplesmente por uma questão de avaliações. Agora, após a pior correção em obrigações em décadas, coloca-se a questão: é o momento de voltar ao crédito?

Para responder, apoia-se no seguinte gráfico:

Como vemos, o spread entre o crédito investment grade e as obrigações soberanas na Europa aumentou quase 200 pontos base. Muito acima da média de 149 pontos base dos últimos 15 anos. O que isto nos diz? “Há um consenso muito claro no mercado. É aceite que a Europa está a entrar numa recessão”, afirma Chatley.

A questão é mais sobre a severidade dessa contração económica. É um debate que o próprio gestor não sabe onde se posicionar. Mas ter uma bola de cristal não é o seu objetivo. “O que ninguém pode negar é que, a estes níveis de spread, as obrigações europeias estão a refletir pelo menos um nível mínimo de recessão”, avisa o gestor. 

Assim, a sua resposta à primeira pergunta é sim: “chegou o momento de voltar a comprar crédito europeu”. No entanto, esta postura de risk on apoiada por Chatley vem com precauções. O gestor também defende a retenção de liquidez, ter margem de manobra no caso de a correção em obrigações se prolongar. Assim, realçamos a sua resposta. “É momento de voltar a comprar crédito europeu, mas manter liquidez no caso da dívida ficar ainda mais barata”.

Onde encontrar valor

“Ainda há nichos de valor, mas é preciso ser muito seletivo”, comenta. Na sua opinião, zonas como o imobiliário ou dívida subordinada ainda são atrativas.

“O setor imobiliário é uma das partes mais baratas do mercado”, afirma o gestor. O mercado está a castigá-lo de maneira generalizada devido a preocupações sobre as implicações de uma subida dos custos de financiamento. Mas Chatley não partilha dessa visão. “Muita gente vai adiar a compra de uma casa com as subidas das taxas e optar por arrendar. Além disso, as rendas tendem a estar ligadas à inflação”, argumenta. 

Outra ideia que lhe parece interessante é a dívida subordinada. Concretamente, as emissões Lower Tier 2, que negoceiam a níveis mais atrativos que a dívida financeira sénior. Nesse sentido, cita também as obrigações corporativas híbridos, que negoceiam com um prémio de cerca de 300-350 pontos base em relação a emissões não subordinadas.