Generali Investments: "As emissões governamentais europeias poderão aumentar 60%"

Florian Spaete. Generali AM
Florian Spaete. Créditos: cedida (Generali AM)

As emissões de obrigações governamentais europeias poderão aumentar 60% antes do final do segundo trimestre do ano, impulsionadas por uma forte procura por parte dos investidores em busca de títulos de elevada qualidade. Esta é a previsão de Florian Spaete, estratega sénior de obrigações da Generali Investments, no seu relatório sobre o mercado de títulos soberanos europeus.

No final de abril, os governos da zona euro “já colocaram no mercado uma parte significativa do volume de emissão soberana”, comenta Spaete, num contravalor equivalente a quase 600.000 milhões de euros, mais de 45% do volume bruto anual planeado. Em proporção, no mesmo período de 2024 tinham sido emitidos títulos governamentais no valor de 560.000 milhões; um montante, portanto, ligeiramente inferior.

Grécia e Itália na dianteira das emissões

A Grécia prossegue a bom ritmo com o seu programa de emissão, já completado em 80%, através da colocação de um novo marco de 4.000 milhões de euros e também graças ao aumento dos títulos com vencimento em 2038 e 2054, num total de 3.000 milhões. Também a Itália avança a um ritmo mais rápido do que o resto da Europa, com 47% das emissões concluídas, um nível superior tanto ao dos anos anteriores como às médias da zona euro.

Segundo Spaete, “o achatamento da curva de yields” poderá determinar uma diminuição da proporção de novas obrigações governamentais de longo prazo face às de prazo mais curto. Apesar disso, os títulos com um horizonte superior a dez anos continuam a representar uma parte significativa das emissões, equivalente a quase 40% em média na Europa, e superior a 80% em países como Portugal, Irlanda e Bélgica.

O ajuste do BCE

Um fator importante para qualquer análise técnica sobre o mercado de obrigações europeias reside no programa de restrição quantitativa (QT) do BCE. Em 2024, o volume de obrigações não reinvestidas pelo instituto central ascendia a 280.000 milhões. Em 2025, várias intervenções do BCE serão ainda mais reduzidas: o programa de emergência relacionado com a pandemia (Pandemic Emergency Purchase Programme ou PEPP) e o reinvestimento das obrigações do setor público adquiridas no Public Sector Purchase Programme (PSPP). Isto significa que o BCE “retirará do mercado, no total, 410.000 milhões de euros”, explica Spaete. Destes, 150.000 milhões já estavam fora do mercado no final de abril, deixando outros 250.000 milhões que não serão reinvestidos até ao final de 2025.

Fonte: Generali AM, Bloomberg. Datastream

Um mercado recetivo

São dois os fatores cruciais que determinaram a previsão em alta da Generali Investments para o volume total de emissões: “Por um lado, as tensões na aliança transatlântica, que exigem que a Europa aumente a despesa em defesa, mas com um impacto limitado nas emissões de 2025; por outro, a Alemanha, que graças a margens fiscais e decisões políticas recentes, poderá influenciar as emissões deste ano”, explica Spaete.

Não obstante, o mercado deverá absorver bem um aumento acima do esperado, que poderá elevar os níveis até ao final de 2025 para os 900.000 milhões de euros. O motivo, segundo o especialista, reside na perda de confiança dos investidores nos títulos do Tesouro norte-americano, o que se traduz, em contrapartida, num maior apetite pelos europeus. Contudo, não é um cenário isento de riscos, “e o mercado primário continuará a penalizar os desenvolvimentos económicos indesejados”, comenta.

Emissões verdes abrandam

No total, na UE circulam aproximadamente 300.000 milhões de euros em obrigações ESG supranacionais. A Alemanha lidera o mercado de dívida sustentável, com 80.000 milhões em contravalor, seguida de perto pela França, com 77.000 milhões. As novas emissões inicialmente previstas para 2025 ascendiam a 60.000 milhões, um volume que Spaete considera “inalcançável” e que poderá ser reduzido para 55.000 milhões, para um total em circulação de pouco mais de 330.000 milhões no final do ano.

Fonte: Generali AM, Bloomberg. Datastream