Certificados de aforro: o que são, como se compram e porque estão a despertar interesse

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Créditos: Mathieu Stern (Unsplash)

Criados em 1960, os certificados de aforro podem parecer um veículo de investimento algo antiquado. Porém, uma renovada confiança dos investidores neste produto, impulsionada pela remuneração indexada à Euribor a três meses, fez com que a sua popularidade disparasse no último ano. Mas em que consistem os certificados de aforro? Nesta entrada do Glossário da FundsPeople, entramos no mundo dos certificados de aforro e explicamos porque estão a despertar interesse dos investidores.

O que são certificados de aforro?

Os certificados de aforro são instrumentos de dívida que têm como objetivo captar a poupança das famílias. Segundo a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), “têm como característica principal serem distribuídos a retalho, isto é, serem colocados diretamente junto dos aforradores e terem montantes mínimos de subscrição reduzidos”. Estes instrumentos de dívida só podem ser emitidos a favor de particulares e não são transmissíveis, exceto em caso de falecimento do titular.

Ao longo dos 63 anos de existência deste produto, foram emitidas cinco séries, da A à E. A cada nova emissão é cancelada a anterior. As séries têm características distintas, nomeadamente ao nível da rentabilidade, o modo de cálculo da taxa base, os prazos e o prémio de permanência. A atual em vigor, a E, surgiu em 2017 e distingue-se das anteriores por ser a primeira exclusivamente digital, eliminando assim a emissão de títulos físicos.

Características da série E

Em primeiro lugar, é importante referir que através deste tipo de produto está a emprestar dinheiro ao Estado português e este garante aos investidores o reembolso da totalidade da sua poupança e os juros a que tiverem direito.

Nesta série, podem investir um mínimo de 100 euros e um máximo de 250.000 euros por Conta Aforro. Os juros capitalizam trimestralmente no prazo máximo de 10 anos. A taxa de juro base é determinada mensalmente no antepenúltimo dia útil do mês, para vigorar durante o mês seguinte, segundo a fórmula E3+1%. O E3 corresponde à média da Euribor a três meses nos 10 dias úteis anteriores. O resultado da fórmula nunca pode ser superior a 3,5%.

A série E conta ainda com um prémio de permanência conforme o número de anos em que mantém a aplicação. Do segundo ao quinto ano acresce 0,5 pontos percentuais à taxa base bruta, entre o sexto e o décimo ano acresce um ponto percentual.

Como comprar certificados de aforro?

A emissão de certificados de aforro Série E, a única em comercialização, pode ser efetuada nos balcões dos CTT e dos Espaços Cidadão. Também pode comprar através da internet acedendo ao AforroNet, no caso de ser aderente a este serviço do IGCP.

Após a subscrição não poderá resgatar o capital investido durante três meses. Após esse período pode levantar o dinheiro e os juros a que tiver direito a qualquer altura. Receberá o dinheiro através de uma transferência para a conta bancária que estiver associada à sua conta aforro.

Por que têm despertado interesse?

Nos últimos meses, os investidores de retalho têm demonstrado maior interesse em aplicar as suas poupanças em certificados de aforro. Conforme demonstrado no gráfico abaixo, partilhado pelo Banco de Portugal, o montante aplicado em certificados de aforro atingiu os 22.500 milhões de euros em janeiro deste ano.

Montante aplicado em certificados de aforro entre 2018 e 2023

Fonte: Banco de Portugal, dados a 31 de janeiro de 2023

Um dos motivos para este renovado interesse é a rentabilidade que oferecem. Segundo a informação publicada pelo IGCP a 28 de fevereiro de 2023, “a taxa de juro bruta para novas subscrições de certificados de aforro da Série E, em março de 2023 foi fixada nos 3,500%”. Este valor, é o máximo que a taxa de juro pode atingir e há uma década que não era tão elevado.

Fonte: IGCP, dados a 28 de fevereiro de 2023

Se comparamos os certificados de aforro com outros veículos de investimento, por exemplo, com os depósitos a prazo, podemos perceber as grandes diferenças na remuneração. A taxa de juro anual dos depósitos a prazo até um ano praticada pela banca nacional em dezembro de 2022 era de apenas 0,3%, enquanto a taxa paga pelos certificados de aforro nesse mês se fixou nos 2,84%. Também, segundo dados do Banco de Portugal, os certificados do tesouro não têm conseguido atrair as poupanças dos portugueses que têm preferido os certificados de aforro.