À medida que o mundo se compromete com os objetivos de Net Zero, - que pretendem alcançar o equilíbrio entre as emissões de gases de efeito de estufa lançados para a atmosfera - a compreensão dos diferentes aspetos das emissões de carbono torna-se crucial para enfrentar os desafios globais em matéria de sustentabilidade. Na opinião de Cristina Carvalho, da Amundi, alcançar estes objetivos “ajudaria a limitar o aumento global da temperatura e evitaria as piores consequências das alterações climáticas”. Admite, no entanto, “estarmos longe de alcançar esses objetivos”.
Para os gestores de ativos, estas matérias não representam apenas uma questão de sustentabilidade, mas também uma questão estratégica. As emissões de carbono podem impactar significativamente o valor de mercado das empresas, afetar o risco associado a diferentes setores e alterar as projeções de retorno dos investimentos.
Nesse contexto, falar de emissões de carbono é falar essencialmente em dois conceitos fundamentais e frequentemente utilizados: intensidade de carbono e pegada de carbono. Embora relacionados, cada um deles oferece uma perspetiva distinta sobre como as emissões de carbono afetam a economia, o meio ambiente, a estratégia corporativa e, naturalmente, a gestão de carteiras.
Intensidade de carbono
A intensidade de carbono mede as emissões de dióxido de carbono que resultam da combustão de combustíveis fósseis e processos industriais por unidade de produção ou atividade, por exemplo, um milhão de euros de receitas. No fundo, é uma medida da eficiência de uma economia ou setor em termos de emissões de gases com efeito de estufa. Deste modo, pode ser utilizada para comparar as emissões de diferentes empresas, indústrias, produtos ou até mesmo países em condições de igualdade, permitindo avaliar como diferentes entidades conseguem reduzir as suas emissões enquanto continuam a produzir bens ou serviços. Empresas com menor intensidade de carbono demonstram, à partida, um compromisso com práticas mais sustentáveis, o que pode melhorar a sua imagem, reduzir custos operacionais e minimizar riscos regulatórios. Do ponto de vista da gestão de ativos, fundos de investimento com alta intensidade de carbono podem estar mais expostos a riscos regulatórios, reputacionais e de mercado, especialmente à medida que as políticas climáticas se tornam mais rigorosas.
Pegada de carbono
Por outro lado, a pegada de carbono estima as toneladas de gases com efeitos de estufa que são direta e indiretamente produzidas por uma atividade ou acumuladas ao longo das fases do ciclo de vida de um produto. Tem em conta, portanto, todas as emissões associadas à produção, utilização e eliminação de bens e serviços, bem como outras emissões provenientes do transporte, da utilização de energia e outras atividades relacionadas. Assim, dividem-se em scope 1, 2 e 3, conforme a origem das emissões de carbono: diretas, indiretas pela energia consumida e outras emissões indiretas ao longo da cadeia de valor, respetivamente. A pegada de carbono é uma medida abrangente que considera o impacto total de uma atividade ou produto em termos de emissões, permitindo uma visão completa do impacto ambiental ao longo do ciclo de vida dos mesmos. Os investidores podem usar essa métrica para alinhar os seus portefólios com metas de sustentabilidade, reduzir a exposição a ativos de alto carbono e identificar oportunidades de investimento em empresas com menor impacto ambiental.
Exemplo Prático
Para melhor compreensão destes conceitos e como se relacionam entre si, mostramos um exemplo prático, com recurso a uma empresa fictícia denominada FPWind, que fabrica turbinas eólicas.
1. Intensidade de carbono
Objetivo: Calcular quantas toneladas de CO₂ são emitidas para fabricar uma única turbina eólica.
Premissa: A FPWind emite 100 toneladas de CO₂ para produzir 50 turbinas eólicas num ano.
Cálculo:
Esse valor indica que a FPWind emite 2 toneladas de CO₂ por cada turbina produzida. Para reduzir esse valor (e essa intensidade) a empresa poderá ter que melhorar a eficiência do processo de fabrico ou usar fontes de energia mais limpas.
2. Pegada de carbono
Objetivo: Contabilizar o total de emissões de carbono associadas ao produto, neste caso, a turbina eólica, ao longo do seu ciclo de vida.
Premissa: Para calcular a pegada de carbono de uma turbina eólica, a FPWind considera:
- Produção: 2 toneladas de CO₂ por turbina (calculado anteriormente).
- Transporte: 0,5 toneladas de CO₂ por turbina.
- Instalação: 0,3 toneladas de CO₂ por turbina.
- Manutenção durante a vida útil: 0,1 toneladas de CO₂ por turbina.
Cálculo:
A pegada de carbono por cada turbina produzida é de 2,9 toneladas de CO₂. Esse número reflete o impacto ambiental total de uma turbina ao longo da sua vida útil.
Em suma, compreender a diferença entre intensidade de carbono e pegada de carbono é essencial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. À medida que a regulação e as expectativas de mercado evoluem, a capacidade de uma empresa em reduzir a intensidade e a pegada de carbono pode se tornar um fator competitivo, atraindo investidores preocupados com a sustentabilidade. Portanto, ambos os indicadores devem ser monitorizados e geridos com rigor, não só como parte das iniciativas de responsabilidade social corporativa, mas também como um componente central das estratégias de investimento.