Se há algo que ganhou Warren Buffett no mundo da gestão de ativos, para além de retornos muito atrativos, é o respeito dos investidores e especialistas. Daí que quando se mencione o seu apelido em qualquer análise apareçam títulos em todos os headlines dos principais diários económicos. O indicador de Buffett em máximos, preocupação à vista? Explicamos o que é o indicador Buffett, se acertou ou não ao longo da história e se realmente, na atualidade, deverá haver preocupação.
O que é o indicador Buffett
A experiência adquirida por Buffett durante os seus noventa anos é algo que muito poucos podem ter. E durante a sua trajetória o guru do value realizou valorizações muito precisas sobre o mundo do investimento. Em 2001, pouco antes da crise Dot.com, Warren Buffett descreveu a relação entre a capitalização de mercado de valores e o PIB, como “a melhor medida da situação das valorizações num dado momento”. A partir desse momento, este rácio que compara o tamanho do mercado de títulos de um país com o da sua economia foi denominado de indicador Buffett.
O que mostra o indicador Buffett
Uma vez explicado o indicador Buffett, vamos analisar como interpretá-lo. O indicador Buffett é utilizado pelos investidores para determinar se o mercado está subvalorizado, neutral ou sobrevalorizado. Os valores nos quais se moveria para definir um ou outro contexto seriam: abaixo de 0,7 o mercado estaria subponderado; entre 0,9 e 1 seria neutral; e a partir de 1,2 moveríamo-nos num cenário de sobrevalorização.
Atualmente, o valor de mercados dos EUA é o dobro do da sua economia. Enquanto que o PIB estimado para o trimestre atual se situa nos 23,1 biliões de dólares, segundo os dados recolhidos pelo Current Market Valuation (CMV); o mercado registava a 12 de agosto, dados extraídos do índice Wilshire 500 – que pondera por capitalização de mercado todas as ações norte-americanas que negoceiam ativamente no país -, uma capitalização de 54,8 biliões de dólares. O indicador Buffett mostra-nos claramente um mercado sobrevalorizado.
A sua trajetória
O crescimento do mercado norte-americano é uma tendência que se vem a registar desde 2010. No contexto atual o rácio do índice nos EUA situa-se em 228%, máximo histórico, e exatamente cerca de 88% mais do que o último pico. Nas palavras do guru: “se o rácio se aproxima dos 200%... está-se a brincar com o fogo”.
Este gráfico oferece-nos uma panorâmica de como tem mudado o indicador desde 1950.
A história vai repetir-se?
Estamos perante uma bolha a ponto de estalar? Se olharmos para alguns momentos históricos do mercado bolsista norte-americano e para a valorização do indicador Buffett nesse momento, este vaticinou várias das reações económicas mais devastadoras dos Estados Unidos. O rácio disparou durante a bolha dot.com, e foi relativamente elevado nos meses prévios à crise financeira de 2008.
Então, significa isso que devemos considerar o pico atual do rácio como um aviso de uma queda do mercado num futuro próximo?
Há que ter em conta que as circunstâncias vistas na crise passada eram muito diferentes das atuais. Por exemplo, atualmente no contexto de taxas 0% torna-se praticamente impossível recorrer a ativos seguros para conseguir rentabilidades para uma carteira. Isso a longo prazo empurra cada vez mais investidores para o mercado de ações. E isso pode apoiar maiores subidas no mercado, embora possam existir correções no curto prazo.
O consenso de mercado não parece estar preocupado. Nos últimos 25 anos nunca tinha existido uma previsão económica tão boa. Segundo o último Fund Manager Survey a gestores do Bank of America, o otimismo perante uma recuperação global em forma de V está suportado por 34% dos questionados, quando há 9 meses apenas chegava a 10%.
Outro fator a ter em conta é que tal como apontam neste artigo do Singular Bank, a composição dos índices de Wall Street é muito diferente da composição da economia. “Uma parte importante do índice (mais de cerca de 22%) corresponde às empresas tecnológicas, algumas das quais se situam entre as maiores por capitalização, e que, genericamente, apenas se viram muito beneficiadas pelo aumento do teletrabalho e das compras online".
Na verdade, este indicador está há vários meses a mostrar uma sobrevalorização do mercado. De momento, isto não se traduziu de todo em quedas de mercado, bem pelo contrário. No entanto, outro ensinamento de Buffett foi de que há que ser cauteloso quando os restantes são gananciosos.