O que é e como se interpreta a curva de yields?

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Créditos: Daniel Roe (Unsplash)

A irrupção da guerra entre a Rússia e Ucrânia foi algo que com que não contavam nem Powell, nem Largarde. Antes a opinião maioritária era que a inflação era transitória, mas agora começa-se a falar de uma subida de preços que, também devido à guerra, mas não só, perdurará por mais tempo do que o esperado. Essa subida da inflação está por detrás do endurecimento do discurso da Fed quanto à sua política de subida de taxas e o mercado teme que nessa constante luta contra a inflação se acabe por levar à frente a recuperação da economia.

Essa leitura provocou movimentos nos mercados de obrigações americanos que voltaram a pôr a curva de yields como grande protagonista. Mas porque é tão importante a curva de yields como indicador adiantado? O que é a curva de yields, como a interpretar e que implicações tem? Explicamos tudo no glossário da FundsPeople.

O que é?

Já analisámos este conceito anteriormente. Tal como explica Yves Longchamp, responsável de análise da Ethenea Independent Investors, a curva de yields faz referência à curva da dívida pública. “Esta curva mostra as taxas de juro que o governo paga por instrumentos de dívida com diferentes vencimentos. Dado que a curva reflete as taxas de juro sem risco para diferentes vencimentos, serve como base para a valorização e fixação do preço dos ativos”, indica.

Segundo a opinião predominante, a curva de yields proporciona informação sobre a evolução esperada das taxas de juro a curto prazo (política monetária) e sobre um fator pouco claro, o denominado prémio de liquidez. A inclinação da curva, que é essencialmente o resultado da diferença entre as taxas de juro a curto e a longo prazo, tem especial importância pela teoria das expectativas.

Como interpretar a curva de yields

Se a inclinação é positiva significa que a taxa da parte de longo prazo é superior à taxa da parte curta e reflete assim a boa saúde da economia em termos de crescimento e inflação. “Na recuperação económica após uma recessão, as perspetivas de crescimento melhoram gradualmente e as yields das obrigações das partes mais longas vão captando paulatinamente através de maiores yields e menores preços”, explica Francisco Simón, responsável de Estratégia de Alocação Tática na Santander AM.

 Contudo, pode dar-se o efeito contrário, “quando as perspetivas económicas se deterioram, os agentes económicos compram obrigações de longo prazo para assegurarem rentabilidades atrativas num ativo seguro perante um contexto menos favorável. A compra de obrigações faz com que suba o preço e que baixem as yields. As obrigações a curto prazo veem-se mais afetadas pelas decisões dos Bancos Centrais para temperar ou estimular a economia, decisões que se tomam em momentos pontuais ao longo do ciclo.

Em consequência, perante uma deterioração das perspetivas económicas, as yields das obrigações de longo prazo baixam mais cedo e mais rápido do que as das obrigações de curto prazo, fazendo com que a curva seja mais plana”, esclarece. E pode dar-se o caso de que inverta. Entender este conceito é importante porque a curva de yields prognosticou recessões da economia americana nos últimos 50 anos. Não obstante, nem todas as curvas invertidas foram seguidas por uma recessão.

Teoria da estrutura das taxas de juro

De acordo com a teoria da estrutura das taxas de juro, a curva de yields costuma ter uma tendência positiva, já que as entidades de crédito esperam taxas de juro mais altas para períodos de crédito mais longos. Tal como refere Longchamp, os motivos para esta situação são, por um lado, a incerteza sobre a evolução futura das taxas de juro e, por outro lado, o facto de que vencimentos mais longos significam que não se pode aceder aos fundos emprestados durante um período mais longo.

Não obstante, nas últimas semanas, está a acontecer um efeito que preocupa, já que esse extra de rentabilidade já não se exige tanto nos prazos mais longos das emissões, mas sim nos mais curtos, perante o crescimento da incerteza na economia a curto prazo. "O spread da curva de yields entre as obrigações do Tesouro a 10 e a dois anos reduziu-se apenas 18 pontos base. Isto significa é que é provável que o crescimento nos próximos 12 a 18 meses desacelere, existindo sempre a probabilidade de recessão no próximo ano, ainda que em parte dependerá da atuação dos bancos centrais", explicam na Portocolom.

As suas implicações nas obrigações

Apesar de o cenário de recuperação do crescimento e da inflação estar a pressionar uma subida das yields das obrigações, isto representa uma queda nos preços das obrigações. Francisco Simón aponta que esta queda é especialmente importante nas obrigações que têm um vencimento maior.

Assim, a estratégia de investimento em obrigações mais adequada para este contexto consistirá “em manter uma baixa sensibilidade aos movimentos de taxas de juro através de uma carteira com baixa duração”. Para a construir, centramo-nos nas partes curtas e intermédias, já que esperamos que permaneçam mais estáveis do que nas partes mais longas”, conclui.