Recompra de ações: o que é e por que há dúvidas sobre se constitui um meio remuneração para o acionista

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Créditos: Aaron Burden (Unsplash)

Nesta entrada do Glossário da FundsPeople, definimos o que é a recompra de ações e explicamos as vantagens que oferece às empresas e aos acionistas, bem como as nuances à sua volta.

O que é?

A recompra de ações é um mecanismo que as empresas têm para poder comprar as próprias ações que emitiram previamente no mercado e amortizá-las, ou seja, eliminá-las do mesmo.

É um mecanismo cuja utilização tem crescido exponencialmente nos últimos anos. Num relatório da gestora Janus Henderson, é referido que a recompra de ações a nível mundial cresceu 22% em 2022, atingindo um recorde de 1,31 biliões de dólares, quase igualando a quantidade repartida através de dividendos. Esperou-se também que, em 2023, as empresas do S&P 500 batessem recordes, ultrapassando um bilião de dólares num único ano pela primeira vez na sua história.

Que vantagens oferece a recompra de ações?

Podem ser várias causas por detrás da decisão de uma empresa de recomprar as suas próprias ações, mas a mais comum é, possivelmente, o facto de optarem por fazê-lo quando os seus próprios títulos estão subvalorizados em mercados.

Entre as vantagens deste tipo de operação está o facto de, uma vez que se consegue fazer com que haja menos títulos da empresa em circulação, a participação dos acionistas na mesma aumenta.

Além disso, considera-se que implica um aumento de preço das ações em si. Havendo menos títulos, o valor de cada título é mais alto e, consequentemente, também o seu preço. E isto também se repercute, em teoria, positivamente no lucro por ação (Earnings Per Share, em inglês).

O problema é que estas vantagens, que, na teoria, a recompra oferece, são orientadas para o futuro, ao contrário dos dividendos, que são pagos tendo em conta os lucros que a empresa já obteve no passado.

Que inconvenientes representa?

“Através destas operações, uma sociedade cotada utiliza a liquidez de que dispõe, em vez de repartir dividendos, acumular reservas ou investir em novos projetos, para recomprar capital no mercado e amortizá-lo, reduzindo o montante de recursos próprios”, explicava Buenaventura, presidente da CNVM, o regulador espanhol. 

Uma das maiores críticas face à recompra de ações é que, quando esses programas de recompra são continuados, trazem consigo uma redução da liquidez e do free float dessas empresas.
E outra das grandes críticas é que, ao destinar o dinheiro da empresa à compra de ações, a mesma renuncia investi-lo no próprio desenvolvimento da empresa. Afinal, segundo o presidente da CNMV, “enfrentamos uma transição digital e ecológica que vai exigir, e já exige, o financiamento com capital próprio e externo de investimentos de grande dimensão”.