SOFR: O que é e porque é uma alternativa à LIBOR?

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Créditos: Pablo García Saldaña (Unsplash)

Um dos principais índices de referência das taxas de juro utilizadas nos mercados financeiros vai desaparecer no final de 2021. Trata-se da LIBOR, a London Interbank Offered Rate, que reflete a taxa de juro indicativa e média a que uma seleção de bancos empresta dinheiro uns aos outros sem cobertura no mercado monetário. A LIBOR está a despedir-se e vários índices são postos como herdeiros. Uma alternativa é a SOFR, a Secured Overnight Funding Rate, que é a taxa a que os bancos utilizam para fixar o preço dos derivados e empréstimos denominados em dólares. Mas comecemos por saber o que é a LIBOR a fim de compreender o que vem depois do seu desaparecimento.

LIBOR: taxa de referência

A LIBOR foi lançada pela Associação de Banqueiros Britânicos em 1986 e, para além de decidir o preço das transações, reflete a confiança que os bancos depositam uns nos outros. Segundo dados da Refinitiv, sustenta cerca de 300 biliões de dólares em contratos financeiros, incluindo derivados, obrigações e empréstimos.

Embora falemos frequentemente sobre a taxa de juro LIBOR, na realidade estamos a falar de muitas taxas de juro LIBOR com diferentes prazos de vencimento. É administrada pela ICE Benchmark Administration e a sua metodologia, tal como explicam na sua página web, foi desenhada para produzir uma taxa média que seja representativa das taxas às quais os grandes bancos internacionais com acesso ao mercado de financiamento por grosso sem garantia poderiam financiar-se nesse mercado em certas moedas para certos prazos.

Na atualidade, a LIBOR é calculada para cinco moedas (dólar, libra, euro, franco suíço e iene japonês) e para sete prazos, respetivos para cada moeda (a partir de um dia, uma semana, um mês, dois meses, três meses, seis meses e 12 meses). Isto resulta na publicação de 35 taxas de juros individuais (uma para cada combinação de moeda e prazo) em cada dia útil aplicável em Londres.

Porque é que a LIBOR está a desaparecer?

Segundo explica o Selfbank neste post, a LIBOR desaparece porque a metodologia tornou-se obsoleta face a um mercado financeiro em constante crescimento e cada vez mais complexo. A crise financeira de 2008 teve o seu impacto. "De um ponto de vista técnico, o painel de bancos que participaram com os seus dados na elaboração da LIBOR reduziu-se durante a crise. Desde então, não só há menos bancos (agora entre 11 e 16 bancos), como também há muito menos transações e, portanto, perdeu representatividade: o resultado já não reflete a realidade do mercado", acrescentam.

Além disso, também tem estado envolvido em alguns escândalos de manipulação e foram identificadas ineficiências que comprometeram a sua integridade.

SOFR e SONIA: as alternativas

Mas o que é que a vai substituir? Não vai ser um acrónimo. As taxas mais prováveis de se tornarem as taxas de referência são a SOFR e SONIA. A Secured Overnight Financing Rate (SOFR) substituirá a LIBOR em dólares. Esta é a taxa que os bancos utilizam para fixar o preço de derivados e empréstimos denominados em dólares americanos. Enquanto que a Sterling Overnight Index Average (SONIA) substituirá a LIBOR em libras esterlinas, que é a taxa de juro overnight que os bancos pagam por transações não garantidas no mercado da libra esterlina. No entanto, como se pode ver na tabela, as alternativas chegam às moedas que a LIBOR cobria.

Existem diferenças entre a LIBOR e a SOFR

O Selfbank aponta para duas grandes diferenças. Enquanto que a SOFR é uma alternativa à LIBOR na medida em que ambos os índices refletem os custos de empréstimo a curto prazo, a SOFR é criada com base em dados transações realizadas, enquanto que a LIBOR, antes da alteração, foi criada com base nas transações esperadas.

Outro aspeto fundamental que implicará ajustamentos aos contratos existentes é que os SOFR são exclusivamente taxas diárias baseadas em ativos do Tesouro norte-americano e não incorporam uma componente de risco corporativo como as LIBOR, que se baseiam em transações entre bancos.

Transação da LIBOR

Enquanto entidades como a PwC concluem que as novas taxas de referência são mais sólidas do que a LIBOR e menos abertas a abusos, o período de transição torna-se fundamental. A Federated Hermes argumenta que, embora as taxas alternativas tenham sido selecionadas, continua a existir um grau de incerteza significativo, uma vez que não é claro como serão adotadas em certos mercados, levando a indústria a enfrentar desafios de gestão e adaptação operacional. Não basta simplesmente trocar um pelo outro, são necessários ajustes. Os peritos não se aventuram a avaliar as implicações para os investidores.