Taper tantrum: o que é e porque é o que mercado o receia tanto

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Créditos: Samuel Marques Lucio (Unsplash)

Se tivéssemos de eleger um termo que definisse o começo deste ano nos mercados seria, sem dúvida, inflação. O debate sobre uma subida repentina marcou o ritmo dos mercados. Relacionado com a inflação, também ouvimos falar cada vez mais de reflation trade. Mas outro termo que voltar a estar na moda é o taper tantrum. O que é o taper tantrum? Quais são as possibilidades de voltar a acontecer?

Taper tantrum

O termo foi cunhado em 2013. E literalmente o que vinha definir era a reação dos mercados à redução das políticas expansivas levadas a cabo pela Fed. Ora vejamos. Contextualizando, estávamos naquela época a sair da recessão provocada pela grande crise financeira de 2008. Para conseguir a recuperação, a Fed tinha levado a cabo uma política de flexibilização quantitativa que consistia na compra de obrigações com o objetivo de aumentar a oferta monetária.

Apesar de na atualidade a política expansiva estar na ordem do dia, refere-se a um instrumento não convencional levado a cabo pelos bancos centrais com o objetivo do aumento da oferta de dinheiro. Uma política desenhada para circunstâncias excecionais e para um curto período de tempo.

O que a Fed pretendia, e conseguiu, era aumentar a liquidez no setor financeiro, o mais castigado durante a crise, para assim manter a estabilidade do sistema e promover o crescimento económico. É tudo uma questão de movimento: a estabilização do setor financeiro fomenta a atribuição de empréstimos e coloca dinheiro na economia real onde os consumidores podem gastar e as empresas podem investir com o objetivo de que a economia flua.

Mas a flexibilização quantitativa fez com que a Fed se tornasse num dos maiores compradores de obrigações do mundo. O anúncio da retirada progressiva da instituição como player dominante, denominado tapering em inglês, provocou nervosismo no mercado.

Filosofia: o tapering

Os mercados estão sempre atentos às mensagens lançadas pelos bancos centrais. A sua maneira de se comunicar é muito importante. Quando se realizam políticas extraordinárias, como foi o caso na grande crise de 2008 e agora com a crise da COVID-19, se for feita uma mudança abrupta nessas políticas, pode gerar nervosismo nos mercados devido à ameaça de uma nova recessão. No entanto, as políticas acomodatícias não podem durar para sempre, pois se não reduzir a sua atividade, poderá ocorrer um aumento indesejado da inflação.

Ser transparente e claro com os investidores face às futuras políticas ajuda a estabelecer as expectativas do mercado. Os bancos centrais reduzem a incerteza do mercado ao definir a sua abordagem da redução gradual e ao especificar em que condições continuará ou será interrompida essa redução. Neste sentido, fala-se antecipadamente de qualquer redução prevista, o que permite ao mercado começar a fazer ajustes antes das atividades terem realmente lugar.

Até aqui a teoria. O que aconteceu em 2013?

Voltamos ao busílis da questão. Na época, as palavras do presidente da Fed, Ben Bernanke, sobre uma redução nas políticas acomodatícias levaram os investidores de obrigações a responder imediatamente à perspetiva de uma queda futura nos preços das obrigações, vendendo-os, o que causou uma depressão no preço das obrigações.

É claro que a queda dos preços das obrigações significa sempre yields mais altas, razão pela qual as yields das obrigações do Tesouro dos EUA dispararam. Causou pânico coletivo ou o que veio a ser definido como taper tantrum (birra nos mercados devido à redução das políticas acomodatícias). O forte aumento nas yields do Tesouro dos EUA espalhou-se pelas outras classes de ativos, criando um efeito dominó. Atingiu as ações e as commodities (dois mercados altamente apoiados em 2021), ampliando os spreads de crédito e levantando o dólar. Um relatório recente da ING mostra-nos o comportamento que tiveram os mercados no gráfico seguinte:

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Justificava-se então o taper tantrum?

A principal preocupação por detrás da birra dos mercados veio dos medos de que os mercados entrariam em colapso como resultado da cessação do QE. No final, o pânico não se justificou, já que o mercado continuou a subir após o início do programa de redução gradual.

Justifica-se agora o taper tantrum?

Há rumores de taper tantrum em 2021. Apesar do aumento da inflação estar previsto pelo mercado, o que não está é o aumento repentino, que pode provocar movimentos por parte da Fed na forma de subida de taxas e ativação do tapering. Não obstante, o aumento das yields das obrigações dos EUA está a fazer soar os alarmes. Há motivos?

Por agora não. Segundo explicam num relatório recente da ING "a Fed não contempla nenhuma mudança iminente na sua política até que aconteçam novos progressos substanciais para os objetivos de máximos emprego e estabilidade de preços”. Segundo o banco este progresso substancial vai dar-se quando “tivermos uma visão clara de que se está a alcançar a imunidade de grupo, que está a haver uma reabertura e que as pressões sobre os preços estão a tornar-se evidentes”. E ainda não estamos nesse cenário.

Rentabilidade real das obrigações

Então, o que preocupa o mercado de obrigações nos EUA que está a provocar aumento das suas rentabilidades? Parece que a questão radica na rentabilidade real das obrigações. Segundo explica o relatório da ING, o que os preocupa não é que a Fed compre menos obrigações, mas que vá mais além e suba as taxas. “O problema para os investidores em obrigações é a erosão do valor real dos futuros pagamentos de cupões e capital que implica a inflação”.

Tapering? O seu resultado não tem de ser um taper tantrum

Na ING explicam que um tapering não tem de dar lugar a uma birra exagerada se se considerar que a Fed está a atuar para reduzir o risco de inflação. Na BofA Global Research apontam que “se se levar a cabo uma análise dos preços, volatilidades e spreads dos distintos ativos, os mercados ainda não estão preocupados com a mudança da Reserva Federal relativamente à inflação, mas estão a comprar a queda fundamental e posicionando-se para um crescimento forte e duradouro no futuro”.