Gonzalo Rengifo (Pictet AM): "As economias asiáticas têm todos os elementos para ser um cavalo vencedor"

Gonzalo Rengifo Pictet AM
Gonzalo Rengifo. Créditos: Cedida (Pictet AM)

A Pictet AM está no Top 10 por ativos geridos na Península Ibérica, com um património que ronda os 11.500 milhões de euros, segundo dados da FundsPeople.

"O impulso do nosso crescimento aparece pelo lado dos fundos temáticos, multiativos, emergentes e de retorno absoluto. Neste negócio, cada vez é mais valiosa a solidez da instituição e nós não temos estado expostos a controvérsias ou escândalos", diz Gonzalo Regifo, diretor geral da Pictet AM na Península Ibérica e América Latina. Para além disso, têm sido especialmente cuidadosos na hora de proteger o participante, fechando ou limitando as subscrições a produtos que tinham adquirido um grande êxito comercial com o objetivo de não prejudicar os investidores existentes. "Para gerir adequadamente uma estratégia há um máximo de ativos sob gestão", assinala.

Antes de chegar ao tal limite começam por aplicar medidas de soft close. Isto implica restringir as entradas a clientes existentes para que possam querer fazer o rebalanceamento de carteiras. Para além disso, vão estabelecendo limites mensais de investimento, se for necessário de caráter diário, que podem ir sendo ajustados progressivamente. "Há que ter em conta que a instituição considera chave manter os rácios de liquidez. Ou seja: a possibilidade de liquidar praticamente a totalidade da carteira num prazo breve".

Um caso prático

O caso mais extremo foi o do Pictet Robotics. Entrou em soft close em 2017, depois de alcançar cerca de 3.000 milhões em menos de dois anos desde o seu lançamento, próximo da capacidade máxima considerada então. "No mercado haverá algum fundo de robótica que gere 20.000 milhões. Mas interessa-nos mais gerir adequadamente o fundo e manter a liquidez, do que continuar a crescer, pois temos que proteger as fontes de alfa, seja por baixa rotação, períodos e prazos, condições de liquidez ou volumes mínimos diários de negociação", destaca.

São também prudentes aquando de investir. "Não seguimos modas, nem investimos no que não conhecemos", afirma. É por isso que se mantêm à margem dos criptoativos. "Investimos muito em blockchain, mas temos muita precaução com os criptoativos. São sinónimo de desintermediação ao nível de pagamentos e empréstimos. As criptomoedas acabarão por ser reguladas. O que vai parar este movimento é uma criptomoeda do BCE", prevê.

A estrutura económica global é deflacionista

A inflação é estrutural ou passageira? A esta pergunta Rengifo responde de forma clara: "Toda a estrutura económica global é deflacionista". Na sua opinião, para isso contribui o facto do peso do consumo em economias desenvolvidas como a americana, a europeia ou a japonesa, representar entre 60 e 70% do PIB e que, com o envelhecimento da população, as pessoas de mais idade, com menor propensão para o consumo, sejam as que vão ter maior poder aquisitivo.

"De momento, as pessoas têm consumido pouco por causa das restrições, e as empresas não têm investido em capex. Não se pode recuperar todo o consumo perdido em restaurantes ou espetáculos, mas o nível de poupança é muito elevado. Daí o aumento de preços em produtos de consumo. Isso provocou uma rutura do equilíbrio entre oferta e procura. Esse processo teve lugar muito mais rapidamente na Ásia, onde em fevereiro e março se voltou às fábricas e cuja exuberância agora estão a corrigir. Mas podemos prever mais gastos em serviços em 2022", antecipa.

Para corroborar a sua teoria, dá o seu próprio exemplo. "Habitualmente estou 15 dias por mês fora de Espanha e durante a pandemia não viajei. Com o maior gasto em serviços vai existir pressão inflacionista, acompanhando aquela exclusivamente atribuível aos produtos. Isso vai gerar mais emprego e a questão é se a inflação se vai transferir para os salários. Os Estados Unidos, com uma taxa de desemprego de 4,8%, já está no pleno emprego, face a um máximo de 10% na pandemia. Em alguns casos os cheques do Governo dos Estados Unidos têm sido maiores que o salário. Daí que haja pessoas que decidam não trabalhar, existindo escassez de mão de obra. É algo que também acontece em Inglaterra e Alemanha", recorda.

O mundo não pode permitir taxas elevadas

Tendo tudo isto em conta, Rengifo vê possível que exista volatilidade de inflação até meados de 2022. "Será nessa altura que saberemos se tem um caráter mais estrutural. Entretanto, nos Estados Unidos, este ano pode ser 3,5% na média, enquanto na Europa mover-se-á entre 2,1%, e 2,3%. Mas a longo prazo vemo-la no intervalo entre 2% e os 2,5% nos Estados Unidos, e na Europa a voltar aos 1,5%". Mas: se a Reserva Federal se põe nervosa e começa a subir as taxas de juro no próximo verão, isso afetará o crescimento. No entanto, o especialista acredita que há mais possibilidades de que não vejamos um erro de política monetária.

"Com o aumento da dívida pública desde a grande crise financeira de 2008, há países desenvolvidos com níveis de dívida acima dos 120% sobre o PIB. E o maior credor dos estados são os bancos centrais. Se subissem bruscamente as taxas de juros entrariam em risco de insolvência.

Previsões de crescimento

De acordo com suas estimativas, a economia global em 2022 pode crescer 4,8%, quando antes da pandemia falávamos de um ciclo de moderação, com pouco crescimento e baixa inflação. "O ponto é que no próximo ano vamos voltar a mais do mesmo, onde mais é menos. Menos crescimento e menos rentabillidade".

Onde considera que pode existir uma certa mudança é nos emergentes, que podem descolar a partir de 2023. "Agora estão a fazer uma digestão pesada. O caso mais evidente é a América Latina. Por seu lado, as economias asiáticas têm todos os elementos para ser um cavalo vencedor, nos próximos 10 a 15 anos", conclui.