In Omnia Economicus
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Os mercados têm perdido significativamente nas últimas semanas e, mais que o impasse grego que continua a condicionar o mercado com intensa volatilidade, a forte queda das bolsas chinesas de Shanghai, Shenzhen e Hong Kong está a provocar uma descida generalizada nas bolsas a nível mundial quer dos países desenvolvidos, quer dos emergentes.
As "commodities" (mercadorias) perdem em toda a linha, devido aos receios de que a China diminua a sua procura. O ferro, por exemplo, cai para valores abaixo dos 50 USD/tonelada, mínimos desde 2007, depois de ter registado máximos perto dos 200 USD em 2010. A bolsa tecnológica de Shenzhen já perdeu cerca de 40% desde o máximo do passado 12 de junho nos 3100 pontos. Teve um "dead cat bounce" há dias, ou seja um "ressalto do gato morto", tal como o Nasdaq fez em 2000, para voltar a cair.
Este tipo de movimento é um forte sinal de tendência de queda. Particulares abastados e empresários bem-sucedidos têm boa parte do seu dinheiro investido na bolsa. Se os empresários chineses perdem dinheiro, deixam de investir, deixam de pagar salários, reduzem as exportações chinesas. A ascensão de uma classe média pujante na China permitiu o aumento do consumo quer produtos chineses, quer produtos estrangeiros, como automóveis, relógios suíços, vestuário de luxo francês e italiano, alimentos exóticos que não existem na China. Com a queda das bolsas chinesas, o consumo privado também cairá.
A política inflacionista do Banco Central da China durante muitos anos culminou na exuberância dos índices acionistas. Foram criadas cidades para manter uma atividade económica robusta mas ilusória. No longo prazo o ajustamento será uma realidade. Ainda no final de junho, o Banco Central da China tentou conter a queda dos índices através de uma política inflacionista mais agressiva refletida na descida da taxa de reserva legal e o governo chinês permitiu mais alavancagem e criou um fundo, com vários intermediários financeiros das bolsas chinesas (Hong Kong, Shanghai e Shenzhen), para estabilizarem o mercado. Apesar das quedas das últimas semanas, os títulos ainda se encontram relativamente caros em relação às ações das principais bolsas dos EUA e da Europa.
A bolsa de Shenzhen perdeu 2 biliões de dólares, ou seja 40%, desde o máximo a 12 de junho, e a bolsa de Shanghai perdeu 2 biliões de dólares, cerca de 32%. A bolsa de Hong Kong, nomeadamente o índice Hang Seng, perdeu 240 mil milhões de dólares, à volta de 18%, desde o máximo em abril. No total, as 3 principais bolsas chinesas perderam 4.5 biliões de dólares, cerca de 20 vezes o PIB da Grécia.
Para além das consequências habituais nos mercados, também os investimentos chineses no estrangeiro deverão diminuir. Portugal tem nos últimos anos alienado várias participações de empresas a investidores chineses e a maior parte dos vistos Gold têm sido solicitados por chineses…
Quanto à Grécia, é provável que o BCE continue a endurecer a sua posição pois não pode ser doutra maneira. Com o ELA (Emergency Liquidity Assistance), mecanismo de cedência de liquidez, a permanecer com um "cap" nos 88.6 mil milhões de euros, os bancos gregos vão ter dificuldade em abrir nos próximos dias. Como estamos num regime bancário de reservas fracionárias, os depósitos em grande parte são dígitos e não existe dinheiro suficiente para o converter em "cash" a não ser que o BCE imprimisse mais, aumento do ELA. O controlo de capitais para evitar o "corralito", os levantamentos massivos e a descapitalização da banca apontam o caminho da falência. Fala-se num "haircut" no mínimo de 30% nos depósitos superiores a 8000 euros, por parte do governo grego para capitalizar a banca tal como aconteceu no Chipre.
Com o impasse grego, as bolsas e a dívida seguem pressionadas. A taxa de juro das OT portuguesa a 10 anos está a 3.14%, mesmo assim a níveis bastante tranquilos. Só acima dos 6 ou 7% poderia existir algum pânico. Mas as bolsas não param de cair, nomeadamente a de Lisboa, porque Portugal é sempre visto como o seguinte caso aconteça algo à Grécia…
(Artigo publicado no blog do autor e no semanário Vida Económica dia 10 de julho, embora escrito a 7 de julho. Foto: Sa Mu, Flickr, Creative Commons)