Growth ou value? Fique atento aos sinais que os mercados estão a emitir

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swisscan, Flickr, Creative Commons

Ao longo da última década, a filosofia value foi perdendo adeptos em todo o mundo. E muitos. Durante este tempo, a confiança dos investidores neste estilo de investimento foi menor. Boa parte dos investidores que historicamente tinham apostado no value como filosofia foram transferindo o seu dinheiro para estratégias growth ou blend, enquanto os novos investidores que foram entrando no mercado através de fundos de gestão ativa apostaram maioritariamente em confiar o seu dinheiro a gestores que procuram empresas de crescimento ou com um estilo misto.

Este fenómeno tornou o value, o estilo que há 10 anos era hegemónico na Europa, num investimento minoritário, que hoje poderá ser classificado como o oposto. Os dados são conclusivos. Há uma década, 56% do património investido globalmente em fundos ativos de ações europeias estava em estratégias value, face aos 15% que havia em produtos growth. Quase 10 anos depois, a percentagem dos ativos que representam os fundos value é de 10%, enquanto os growth aglutinam 43%. A reviravolta foi considerável.

As ações europeias tinham sido a categoria onde o value se mantinha como a filosofia de investimento preponderante. Não obstante, pouco a pouco, foram perdendo terreno ao longo dos anos, não só em favor dos fundos growth, mas também dos blend, que passaram de representar 29% em 2009 para 47% 10 anos depois.

A perda de interesse dos investidores pelo value é generalizada. Afeta todas as categorias de ações e inclinou definitivamente a balança para o lado do growth nos mercados onde existia um certo equilíbrio entre ambos os estilos, em termos patrimoniais. Assim, por exemplo, há uma década 42% dos ativos de ações americanas estava em fundos value, face aos 52% que havia em growth. Esses 10 pontos percentuais de diferença tornaram-se agora em 39, já que o volume de produtos de gestão ativa value de ações americanas é hoje de 25%, em contraposição com os 64% que há em growth.

Além disso, nos fundos de ações globais e emergentes, onde em 2009 existia um equilíbrio patrimonial quase perfeito entre growth e value, a diferença aumentou. Os ativos que aglutinam as estratégias value de ações emergentes representam agora 6% do total (quando antes representavam 33%), enquanto os growth passaram de 32% para 52% neste período. Ao mesmo tempo, o património em fundos value de ações globais passou a significar 43% a 52% (fonte do gráfico: Morningstar. Cálculos de J.P.Morgan com dados a 7 de agosto).

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Vendo estes dados não há dúvida de que o value perdeu o favor dos investidores ao longo da última década. Durante este período, o mercado centrou-se no crescimento, o que fez com que o value tenha ficado para trás face ao growth, especialmente durante os últimos três anos.

“Isto explica-se porque, num momento em que o ciclo está muito avançado e o potencial de crescimento das economias é mais limitado, a maioria dos investidores concentraram-se em identificar que empresas vão conseguir fazer crescer os seus lucros. O resultado de tudo isso é que, hoje, independentemente de qual for a métrica que se utilize (preço, valor, cash flow...), o spread entre o growth e o value é enorme”, comentam Gary Chropuvka, corresponsável da equipa de Estratégias de Investimento Quantitativo na Goldman Sachs AM e Javier Rodríguez Alarcón, membro da mesma equipa.

A sua opinião é muito interessante, sobretudo tendo em conta que ambos fazem parte de uma equipa com uma trajetória de investimento quantitativo que remonta a 1989, o que lhe permitiu passar por vários ciclos. Também é relevante porque a sua filosofia de investimento não responde a questões de fator timing. De facto, são agnósticos por fatores, o que concede a responsabilidade de ter de defender um estilo ou o outro. A sua visão é fruto de ler os sinais que os mercados lançam e atualmente estes dizem-lhes que, historicamente, quando o spread era tão grande, as empresas que têm os spreads de valorização mais longos tendem a produzir rentabilidades muito superiores nos anos seguintes.

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Dito de outra forma: o que tradicionalmente aconteceu é que o retorno oferecido por 20% das empresas mais baratas durante os seguintes um, três e cinco anos foi superior ao resto. “Isso não quer dizer que se vá passar, mas sim que historicamente, o seu comportamento tenha sido melhor”, afirma Alarcón. É certo que, no passado, muitas das empresas mais baratas enquadravam-se dentro de um sector concreto. Não obstante, agora o que a equipa está a observar é o que está a acontecer em todos os sectores e em todas as regiões.

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Portanto, o grande sinal ao qual – segundo os especialistas – deve estar atento é ao spread que existe entre o growth e o value. “O spread entre ambos está em máximos. O normal seria que assistíssemos, antes ou depois, a uma certa reversão à média. Tradicionalmente, estes níveis de spreads são episódios que não costumam durar muito tempo, o que não quer dizer que o fecho da falha entre o growth e o value venha a acontecer da noite para o dia. Geralmente, o ponto de inflexão, uma vez alcançado, marca uma tendência que costuma durar vários anos, que neste caso derivaria num gotejar contínuo para o value”, revela Alarcón.

Mas... qual poderá ser o detonador que reative o interesse por este estilo de investimento? John Surplice, gestor do Invesco Pan European Equity, coincide com a equipa quantitativa da Goldman Sachs AM em que esta é uma pergunta muito difícil de responder. Não obstante, se tem a certeza de algo é que os mercados são movidos pelos resultados empresariais e que estes, no caso das empresas value, foram melhores durante os últimos três anos que, por exemplo, as enquadradas dentro de outros estilos, como as de qualidade. “Apesar disso, o quality teve melhor desempenho que o value. A questão é: quando demorará até a brecha voltar a fechar. O value esteve unicamente mais barato durante o boom das dotcom”, conclui o gestor da Invesco.

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