De significativas quedas na primeira semana de agosto e preocupações com uma recessão nos EUA, a uma recuperação total das bolsas e perspetivas de descidas de taxas em setembro, as últimas seis semanas foram um período de muita atividade nos mercados.
No início de agosto, o mercado japonês registou a maior queda de três dias da história do mercado. “A confluência destes fatores repercutiu-se nos mercados de divisas e o iene começou finalmente a ganhar força. Como resultado, ocorreu um contágio de volatilidade bastante agressivo e a curto prazo. As ações japonesas foram as mais castigadas, mas as asiáticas, em geral, também foram afetadas”, assinala Carl Vine, codiretor de Asia Pacific Equity Investments na M&G Investments.
Banco do Japão retira o país das taxas zero
A última semana de julho marcou o fim das taxas zero no Japão. O Banco do Japão surpreendeu os mercados, na sua reunião de julho, ao subir as taxas de juro para 0,25%, o nível mais elevado em 15 anos, e delinear planos para reduzir o seu programa de compra massiva de obrigações. Embora o BoJ tivesse anunciado uma possível subida de taxas em dezembro de 2022, a subida foi, na realidade, mais agressiva do que a prevista pelo consenso.
Ações: uma viagem de ida e volta
A Ásia reportou quedas significativas no final da primeira segunda-feira de agosto, recordando um dos piores dias para o Nikkei 225 (-13,47%) desde a Segunda-Feira Negra de 1987, quando perdeu 3.836 pontos (a perda desta segunda-feira de agosto foi de 4.451 pontos). Este colapso gerou preocupação nos mercados asiáticos, que caíram entre 3% para o S&P AXS 200 e 11% para o Kospi 100.
Mas a volatilidade não se limitou à Ásia. Deu-se um efeito borboleta nos mercados de ações, e uma série de dados macroeconómicos débeis nos EUA preocuparam os mercados. Concretamente, o receio de os EUA entrarem numa recessão e de que a Reserva Federal não alterasse atempadamente a sua política monetária para uma postura acomodatícia.
Na Europa e nos EUA, as quedas nos principais índices de ações nesses dias foram inferiores a 5%, mas igualmente preocupantes. O índice de volatilidade VIX chegou a atingir os 55 pontos. Combinada com várias sessões de quedas dos principais índices, até a expetativa de a Fed convocar uma reunião extraordinária para descer as taxas, como quando a pandemia eclodiu em 2020, ganhou força.
Como agora já sabemos, não foi necessária uma medida tão drástica. De facto, as quedas dessa primeira semana já foram amenizadas. Todos os grandes índices da Europa e dos EUA recuperaram do sucedido e registando até subidas num período de um mês.
Reserva Federal prepara o seu primeiro corte de taxas para setembro
Na sua reunião de verão, realizada no dia 31 de julho, Jerome Powell não se quis comprometer demasiado com a decisão que a Fed irá tomar em setembro, embora o mercado já apontasse para a reunião seguinte como a data mais provável para essa primeira descida de taxas no ciclo atual. Deixou a porta aberta a esse corte, mas o seu tom moderado não foi um compromisso firme.
No entanto, com a volatilidade dos principais índices nas primeiras semanas de agosto, Powell surpreendeu com uma mensagem muito mais contundente do que se esperava durante o seu discurso no simpósio anual de Jackson Hole. Na sexta-feira, dia 23, o presidente da Fed foi claro: chegou o momento de baixar as taxas nos EUA.
BCE espera até setembro para uma nova descida
Quem também colocou o foco na reunião de setembro foi o Banco Central Europeu. Na sua reunião de julho, manteve as taxas inalteradas, algo que o mercado já descontava. Desde a reunião de junho que as gestoras internacionais calculavam com clareza que a reunião de julho ia ser de transição. Assim, setembro mantém-se a próxima data mais provável dessa seguinte descida de taxas.
“Está cerca de 80% previsto um corte para setembro. Acreditamos que os próximos dados deverão confirmar a narrativa desinflacionista e permitir um corte na próxima reunião”, afirma Peter Goves, responsável de Análise de Dívida Soberana de Mercados Desenvolvidos da MFS Investment Management.