Henning Stein (Invesco): “Muitos serão surpreendidos pela deflação que está a chegar”

Henning Stein
Henning Stein. Créditos: Cedida (Invesco)

A noção implícita nos mercados é de que a Reserva Federal irá continuar a subir as taxas até que algo se quebre. E na opinião de Henning Stein, o colapso do Silicon Valley Bank pode muito bem ser esse cisne negro que precipita o fim do ajuste da política monetária. Para o responsável global de Estratégias de Mercado e Liderança de Opinião da Invesco, a Reserva Federal já tem argumentos para, a partir de agora, adotar uma política menos agressiva.

Isto será um catalisador positivo para as obrigações e ações, afirma Henning Stein. “Podemos ver uma recuperação do mercado mais cedo do que era esperado”, afirma. Mas antes disso, o investidor terá de passar por mais sessões de volatilidade. “Os mercados ainda não descontaram o impacto de um abrandamento económico nos lucros empresariais”, acredita. 

Se haverá cortes diretos nas taxas nos Estados Unidos ainda não se sabe. “É certamente o que o mercado desconta. A taxa terminal dos fundos federais na semana passada estava em 5,5%. Esta semana desceu para 4,5%. É uma queda de 100 pontos base”, recorda. O que é mais evidente para Henning Stein é que a inflação em breve deixará de ser um obstáculo.

De facto, já vê sinais positivos. Por exemplo, a forte queda da massa monetária (m2). “Basicamente, o que isto nos indica é que a inflação já está a avançar na direção correta”, explica. Para o especialista, a trajetória da inflação é que é verdadeiramente importante; a economia é secundária. “Muitos serão surpreendidos pela deflação que está a chegar”, avisa. Deflação? Sim, deflação. “A deflação é a tendência estrutural da última década. Apenas foi interrompida pela pandemia, mas uma vez resolvida, voltará”, argumenta.

O cliente, centrado no longo prazo

As conversas com os clientes nestas semanas estiveram cheias de atualidade, mas na hora de posicionar as suas carteiras ainda estão a pensar no longo prazo, deteta Henning Stein. “Os nossos clientes são investidores a longo prazo e não traders. E, no final do dia, uma subida de 50 pontos base ou de 25, a quem interessa? Se tiver um horizonte a 10 anos, há que focar noutras coisas. Em como estará o mundo daqui a uma década e se a sua estratégia de investimento está adequada”, afirma.

E a maioria dos clientes compreende isto. Por exemplo, as conversas sobre ESG não pararam. “O mundo está a enfrentar múltiplos problemas atualmente e todos têm uma dimensão ligada à sustentabilidade. Desde a guerra da Ucrânia, ao consumo de alimentos e à energia limpa”, argumenta. São ameaças identificadas pela UE, mas que irão exigir que políticos e investidores trabalhem em conjunto.

Quanto às oportunidades em ações, apesar do melhor arranque das bolsas europeias e chinesas em 2023, Henning Stein acredita que as ações acabarão por ganhar em termos de potencial de retorno a longo prazo. A sua tese baseia-se na tendência histórica dos mercados. “Este outperformance das ações europeias é apenas uma tendência recente”, defende.

Outro espaço interessante que deteta é o que denomina Ásia alternativa. Ou seja, ações asiáticas para além da China; observar regiões como a Malásia, o Vietname ou as Filipinas. “Estes países irão, em algum momento, replicar o sucesso do crescimento da China”, prevê.

E em linha com o regresso do contexto de taxas baixas que mencionava anteriormente, Henning Stein vê o regresso do setor tecnológico norte-americano a longo prazo. Tal como aconteceu após o estalar da bolha dot.com, o especialista acredita que o setor irá renascer e que voltará com força. “Não será rápido, porque tarda em recuperar a confiança do investidor, mas não devemos dar o setor tecnológico como morto”, insiste.