High yield: uma oportunidade… ou ainda não?

pequeno almoço carmignac
Duarte Francisco, Francisco Almeida, Ramón Carrasco e Carim Habib. Créditos: Vítor Duarte

Há muito que o mercado obrigacionista não recebia tanta atenção dos investidores. No entanto, importa ainda perceber onde estão as melhores oportunidades no amplo espectro de títulos de dívida. A FundsPeople, em conjunto com a Carmignac, reuniu quatro representantes do setor num pequeno-almoço debate para perceber onde estes veem as melhores oportunidades na classe de dívida. Será que está na altura de entrar no mercado high yield?

Começamos com um disclaimer. Para Carim Habib, CEO da Dolat Capital, o posicionamento no espectro da dívida “depende do restante portefólio e do mandato de gestão que guia os investimentos”. Por isso, entende que, por exemplo, um gestor de um fundo de dívida do tesouro deve procurar oportunidades diferentes de um gestor de um fundo multiativos. “Neste momento, acredito que utilizar uma estratégia barbell para gerir o investimento em ativos de dívida é a melhor maneira de conseguir alcançar o melhor rácio sharpe”, explica o CEO. Francisco Almeida, diretor da Gestão de Portefólios do Banco CTT, concorda: “A estratégia barbell é de facto interessante. Definimos primeiro o pocket de risco e, de seguida, balanceamos com outros ativos mais seguros”.

Sobre o aumento da exposição a dívida de menor qualidade, as opiniões divergem. Duarte Francisco, consultor de investimentos sénior do Banco Santander, atualmente não vê o spread do mercado high yield como suficientemente interessante. O profissional afirma que “num cenário de abrandamento económico, tanto a dívida high yield como o mercado acionista deverão sofrer mais, pois o prémio que nos pagam ainda não compensa o risco”. O CEO da Dalot Capital subscreve esta visão: “Os spreads a 400 pontos base revelam que ainda não estão refletidos nos preços todos os riscos que podem afetar o mercado. Estes níveis não nos despertam interesse, especialmente com dívida investment grade de boa qualidade a apresentarem spreads de 200 pontos base”. Deixa, no entanto, um valor para esta métrica ao qual seria difícil de resistir: 600 pontos base.

High yield? Sim, mas com especialização

Do outro lado da discussão temos Ramón Carrasco, diretor de Desenvolvimento de Negócio na Carmignac, que revela que a entidade gestora que representa procura agora aumentar a exposição a dívida de maior risco. “Para nós, um portefólio de obrigações deve estar diversificado por todas as classes de crédito. Estamos a aumentar a exposição a dívida high yield globalmente. Consideramos que o risco de default descontado no mercado está acima do seu valor real”, explica o diretor.

Apesar da atratividade da classe, Ramón Carrasco destaca: “É necessária excelência na escolha dos títulos que se compra. O segredo está numa gestão do risco atenta, e no dinamismo nas avaliações dos títulos, não só para maximizar os retornos mas, mais importante ainda, para evitar defaults”. Apesar de não estar no momento certo para entrar no segmento, Carim Habib concorda com o requisito: “O segmento de high yield é um jogo que requer muita especialização. É preciso ser ótimo na seleção de títulos. Não gosto de incorrer neste tipo de risco, exceto se tiver uma pessoa completamente especializada neste tema”, conclui