Inflação norte-americana mais firme do que o esperado leva a Fed a outra subida agressiva das taxas

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A inflação norte-americana, que não dá sinais de trégua, limita a Reserva Federal no caminho do endurecimento da sua política monetária. O último movimento descendente das ações foi desencadeado por dados negativos sobre os preços nos Estados Unidos. O IPC anual dos EUA em setembro foi de 8,2%. Abaixo dos 8,3% de agosto e do pico de 9,1% de junho, mas ainda mais forte do que a estimativa consensual.

Para especialistas como Silvia Dall’Angelo, economista sénior da Federated Hermes, isto aumenta a pressão para que a Fed suba pela quarta vez consecutiva as taxas de juro em 75 pontos base na sua próxima reunião em inícios de novembro. “A menos que ocorra um grande acidente nos mercados financeiros, a Fed provavelmente aumentará as taxas de juro em 125 pontos base adicionais até ao fim do ano, em linha com a média das expetativas do seu gráfico de pontos (dot plot)”, prevê.

Os componentes mais aderentes

Na PIMCO já contemplam um número acima do consensual, mas o IPC subjacente de setembro foi pior do que esperavam, como reconhece Tiffany Wilding, economista para a América do Norte. E o pior é que os detalhes deste número anteveem mais más notícias para a Fed e para a economia norte-americana.

O IPC subjacente aumentou 0,58% face ao mês anterior. E os componentes menos flexíveis voltaram a promover a força. Wilding destaca a firmeza da habitação, uma vez que o aumento das taxas está a exercer uma pressão ascendente sobre os custos de habitação, tornando impossível a compra de uma casa. “Esta dinâmica deverá continuar até que os preços das casas caiam o suficiente para começar influenciar a prestação”, prevê. Por outro lado, a desaceleração dos preços dos fatores de produção não estão a ser transferidos para os consumidores e a inflação dos bens básicos também se manteve firme. “Para a Fed, isto aumenta a pressão para restringir ainda mais a economia”, afirma.

Olhando para o futuro, embora a inflação geral possa ter atingido o pico em junho, Dall’Angelo considera provável que se mantenha a níveis elevados durante os próximos meses, refletindo em grande medida as pressões internas sobre os preços que ainda se estão a gerar. “De facto, apesar da recente diminuição das ofertas de emprego, o mercado de trabalho continua tenso, o que tem sido favorável para os salários”, afirma.

A segunda leitura: uma recessão inevitável

A Federated Hermes continua a acreditar que a procura irá abrandar nos próximos meses e ainda mais significativamente em 2023, devido à elevada inflação que está a comprimir os rendimentos reais (o aumento dos salários reais está em território negativo há um ano e meio) e ao endurecimento monetário e fiscal. Isto, juntamente com estabilização dos preços da energia e a diminuição gradual das restrições da oferta mundial, deve fazer baixar a inflação ao longo do próximo ano, embora se mantenha acima do objetivo da Fed, dado o elevado ponto de partida.

E neste último ponto está a chave do sentimento do mercado. Para Dall’Angelo, os dados de setembro confirmam que a Fed deve continuar a focar-se na sua luta contra a elevada inflação. “Os dados recentes continuam a desenhar um panorama de elevada inflação e um mercado de trabalho tenso, sugerindo ser necessário um endurecimento monetário adicional para abrandar a procura e reajustá-la a uma oferta restrita”, interpreta.

Além disso, a Reserva Federal também precisa de restaurar a sua credibilidade, reduzindo assim o risco de a inflação se consolidar através dos efeitos da segunda ronda. “Está tanta coisa em jogo que a Fed está disposta a correr o risco de se exceder e provocar uma recessão; provavelmente é isso que pretendem neste momento para combater eficazmente o atual problema de inflação”, afirma.