Interpretando o último dado de inflação nos Estados Unidos

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Créditos: Ferdinand Stohr (Unsplash)

O IPC geral em junho nos Estados Univos, a medida global da inflação, caiu para 3% em termos homólogos, face aos 9,1% de há um ano. A principal fonte de surpresa foram as voláteis categorias de serviços de viagem. Embora estas categorias representem uma pequena parte do cabaz global da inflação, a queda das tarifas aéreas (-8% face ao mês anterior) e dos hotéis (-2,3%) bastou para cortar 9 pontos-base ao ritmo mensal do IPC subjacente, medida que exclui os voláteis setores da alimentação e da energia.

O que significa este dado? Segundo Tiffany Wilding, economista da PIMCO, depois do escasso  avanço no combate à inflação subjacente nos cinco primeiros meses do ano, agora vemos mais claramente uma desinflação tanto nos relatórios do IPC real, como os indicadores adiantados que seguimos. "Embora a inflação continue a estar muito acima do objetivo da Reserva Federal, a nossa medida da inflação de preços fixos parece estar a estabilizar-se em torno dos 3,5%, face aos 8% ou mais do ano passado", explica.

Apesar da surpresa negativa significativa na queda dos salários e no IPC em junho, olhando para o futuro continua a acreditar que a Fed provavelmente aumentará os juros em 25 pontos-base em julho. No entanto, isso aumentou a sua confiança de que provavelmente marcará o fim do ciclo de subidas, embora os comentários recentes de Jerome Powell apontem para um endurecimento ainda maior. "Esses dados de inflação reafirmam a nossa visão de que a economia dos EUA está a caminhar para um segundo semestre muito diferente".

Para Geir Lode, diretor de Ações Globais da Federated Hermes, estamos a começar a ver a luz no final do que parecia um túnel sem fim para os Estados Unidos. "A Fed espera que o mercado de trabalho abrande e a inflação seja baixa antes de começar a reduzir as taxas de juro. Assim, embora os números de hoje constituam um passo em frente positivo, ainda há trabalho a fazer. O último relatório de emprego segue uma tendência semelhante, com um relatório sobre o emprego dos EUA abaixo do esperado – uma boa notícia para o objetivo de estabilidade de preços da Fed – mas o desemprego permanece em mínimos históricos".

Os responsáveis da Fed frequentemente apregoaram a necessidade de duas subidas de taxas este ano, mas a recuperação dinâmica do crescimento sugere que o mercado está a ver uma saída mais rápida deste contexto de taxas elevadas. Segundo Lode, os números mais suaves desses dados jogam a favor da opinião do mercado, mas é difícil para a Fed mudar de tática no curto prazo, por isso também espera uma subida de 0,25% em julho. "A Fed avaliará esse dado muito positivamente, mas vai querer ter certeza de que evita novos aumentos na inflação num futuro próximo, pelo que não prevemos uma flexibilização antes de meados do próximo ano."

Embora a taxa de inflação homóloga tenha diminuído, a taxa de inflação subjacente, ou seja, sem os voláteis preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares, permaneceu ligeiramente abaixo dos 5%. Segundo Pablo Duarte, analista sénior do Flossbach von Storch Research Institute, "isto indica que a pressão inflacionista não morreu, mas mudou de vizinhança: da energia e dos bens de consumo final para os serviços e os alimentos".

Na opinião do especialista, a queda da taxa de inflação homóloga não é surpreendente devido ao efeito base. "No ano passado, a inflação registou um salto muito forte de 1,2% entre maio e junho. Só se o aumento entre maio e junho deste ano tivesse sido tão forte, é que a taxa de inflação homóloga poderia ter permanecido em 4,1%. Isto seria pouco provável, pelo que não é surpreendente que a inflação pareça tão baixa", diz. No entanto, Pablo Duarte observa que a inflação supercore, definida como a inflação nos serviços, excluindo energia e habitação nos EUA, permanece acima de 4%. Na zona euro, mantém-se acima dos 6%.