A pressão dos EUA acelerou o aumento do gasto militar europeu, impulsionando para valores recorde as ações de empresas como Rheinmetall, Thales e Saab. Os analistas preveem que esta tendência continuará.
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Os recentes comentários da administração norte-americana sobre a guerra da Rússia na Ucrânia intensificaram a pressão para que os países europeus aumentem o seu orçamento em defesa. As declarações de Donald Trump estimularam a valorização das ações das empresas do setor militar europeu, num contexto em que a NATO avalia aumentar o seu objetivo de investimento para 3% do PIB. Como reflexo desta tendência, a alemã Rheinmetall (+10,40%), a francesa Thales (+6,95%) e a sueca Saab (+15,6%) atingiram máximos históricos em bolsa na semana de 17 de fevereiro, marcando um forte impulso para o setor.
Os países europeus, que historicamente investiram menos em defesa, começaram a reforçar os seus orçamentos. Kim Catechis, estratega-chefe da Franklin Templeton, destaca que "o compromisso dos membros europeus da NATO de investir mais de 400 mil milhões de dólares anuais durante pelo menos a próxima década é apenas o começo".
O gasto em defesa em 2023 atingiu um recorde pelo nono ano consecutivo, totalizando 2,4 biliões de dólares. Esse valor representa um aumento de 36% na última década. "Nos próximos seis anos, estima-se que o orçamento da NATO alcance 8,9 biliões de dólares, dos quais 3,2 biliões correspondem aos membros europeus da NATO e ao Canadá", explica Catechis.
Incerteza na relação entre os EUA e a NATO
A postura dos EUA em relação à NATO gera incerteza na Europa. "Para a maioria dos países europeus, a posição de Moscovo representa uma ameaça clara à sua segurança nacional", afirma Catechis. Um posicionamento mais cético por parte dos EUA em relação à aliança atlântica tem acelerado os esforços europeus para reforçar as suas capacidades de defesa.
Alvise Lennkh-Yunus, diretor de classificações soberanas da Scope Ratings, alerta que, para alcançar um orçamento de defesa equivalente a 3% do PIB, os estados-membros da União Europeia teriam de aumentar, em média, 0,8% do PIB nos seus orçamentos anuais. "Isso implicaria um crescimento na fatia do orçamento dedicada à defesa de cerca de 5 a 10 pontos percentuais, com Espanha (+9 pp), Alemanha (+7 pp), França e Itália (ambos cerca de +5 pp) a liderarem esse esforço", destaca Lennkh-Yunus.
Esforço orçamental estimado necessário para atingir a meta de 3% do PIB em defesa

Três cenários para o orçamento de defesa
A equipa liderada por Jason Gursky, managing director da Citi, analisou os fatores que influenciam a evolução do orçamento global de defesa, que tem vindo a crescer desde a invasão da Crimeia pela Rússia, em 2015. O estudo apresenta três possíveis cenários para o futuro do gasto militar:
- Redução do orçamento: ocorreria se o conflito na Ucrânia terminasse e outras prioridades ganhassem protagonismo.
- Cenário base: os níveis de despesa manter-se-iam, mas com uma redistribuição do orçamento, favorecendo a tecnologia e a inteligência artificial.
- Aumento significativo: aconteceria em caso de escalada do conflito ou de maior rivalidade militar com a China.
Segurança nacional e tecnologia como motores da despesa
O contexto geopolítico em 2025 reflete um mundo fragmentado, com a rivalidade entre os EUA e a China como fator central. A segurança nacional tornou-se uma prioridade estratégica para as economias desenvolvidas, impulsionando investimentos em defesa e em setores críticos como inteligência artificial (IA), minerais estratégicos e automação.
O setor da defesa tem ganho atratividade para os investidores, com um crescente interesse em empresas tecnológicas especializadas em software, sensores e drones. Além disso, segundo a Citi, a Unidade de Inovação de Defesa (DIU), criada pelo Departamento de Defesa dos EUA em 2015, tem desempenhado um papel essencial neste crescimento. O seu objetivo é conectar startups inovadoras ao setor da defesa para garantir que os aliados mantêm o controlo sobre avanços tecnológicos críticos.
"Os recentes conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente, bem como a ascensão da China, alteraram as prioridades orçamentais. Para além da dissuasão nuclear, os aliados estão agora a dar prioridade a áreas como o espaço, drones e aeronaves não tripuladas, IA e defesa antimíssil", explica a Citi. "Todas essas áreas estão a crescer mais rapidamente do que o orçamento geral da defesa", acrescenta.
As alterações climáticas também têm impacto na segurança internacional, exacerbando conflitos e criando novas ameaças, como migrações forçadas, escassez de recursos e tensões políticas em regiões vulneráveis. Thomas Mucha, estratega geopolítico da Wellington Management, afirma que "a descarbonização e a resiliência climática são agora aspetos fundamentais das estratégias de defesa, embora se espere que a administração norte-americana reduza o foco nesta área".