Irene López (Neuberger Berman): “Os investidores ibéricos querem ouvir novas ideias e ter novas gestoras nas suas carteiras”

Irene López _ NB
Irene López. Créditos: Cedida

2021 foi um ano de grandes mudanças para Irene López. Depois de mais de 14 anos na DWS, passou para o escritório ibérico da Neuberger Berman, onde atualmente executa funções de máxima responsável de uma entidade privada, fundada em 1939 nos Estados Unidos, e com 437.000 milhões de dólares em ativos sob gestão, que se repartem entre estratégias ativas de ações, obrigações e gestão alternativa.

É clara a razão pela qual aceitou este projeto: “Trata-se de uma gestora com um propósito corporativo. Ao longo de mais de 80 anos de história, a nossa gestora tem vindo a reafirmar a sua convicção de que o importante não só é proporcionar ao cliente uma atrativa rentabilidade ajustada ao risco, mas também um serviço e conteúdo que façam a diferença”, sublinha à FundsPeople.

Traços identitários

Na primeira entrevista que concede depois da sua incorporação, a profissional pôde constatar o referido atrás. Na sua opinião, existe na empresa um pilar muito sólido que dota de um caráter próprio e de uma cultura muito forte a entidade. “É a sua independência. Não só em termos acionistas, pois 100% do capital está na mão dos funcionários, mas também a liberdade dada aos gestores para gerir as suas carteiras com base nos seus critérios”.

O cliente quer coisas novas

Desde a sua chegada, percebeu a boa aceitação que a Neuberger Berman tem entre os seus clientes locais. “Os investidores ibéricos querem ouvir novas ideias e acrescentar novas gestoras às suas carteiras. É certo que  os maiores concorrentes contam com amplas gamas, mas também é verdade que o cliente não pode nem quer ter listas concentradas num mesmo provedor”.

A gestora ganhou recentemente um grande mandato com a Brunel Pension Partnership, fundo de pensões dos governos locais no Reino Unido, para gerir uma estratégia de valor relativo multicrédito vinculada à transição climática. A estratégia tem como objetivo aportar 4-5% sobre a taxa de liquidez ao longo de um ciclo, e está desenhada para cumprir com o objetivo de emissões zero em 2050 do Acordo de Paris, embora os objetivos internos do mandato se tenham adiantado para 2025. “Neste mandato foi chave a flexibilidade para entender como se aplica a sustentabilidade de forma específica em cada tipo e estratégia e a defesa de que não é por investir em temas de sustentabilidade que o cliente tem que assumir rentabilidades negativas”.

Segundo a profissional, o difícil no atual contexto é procurar soluções sustentáveis de obrigações que financeiramente ofereçam retornos positivos ou ofereçam valorizações atrativas. “A experiência neste segmento foi importante. Em obrigações contamos com uma ampla plataforma integrada a nível global de mais de 180 profissionais com dilatada experiência e temos credenciais muito sólidas em sustentabilidade”.

Credenciais em ESG

Na hora de aportar dados que corroborem esta última afirmação, López menciona, como exemplo, o relatório de transparência de PRI, que atribui à entidade o máximo rating (A+) tanto em todas as categorias de ativos, como por empresa, a nível de estratégia e governance. “Se nos comparamos com a média do setor, estamos em destaque em todas as disciplinas analisadas”, afirma. Cita também o facto de fazer parte do reduzido grupo Leadership Group 2020, de apenas 20 membros dos 2.100 signatários dos PRI.

Destaca também que a Neuberger Berman é a primeira gestora que, na sua própria linha de crédito, impôs objetivos sustentáveis que, se não forem cumpridos, obriga-os a pagar mais juros. Entre os seus princípios vinculados à sustentabilidade também está o facto de permanecer como uma empresa controlada pelos empregados. “Este último aspeto é a garantia de poder continuar com liderança e integridade, e alinhar interesses, mantendo para além disso um compromisso e medição destes compromissos”.

Análise ESG das empresas: o método NB

No que respeita a análise de empresas, na Neuberger Berman a plataforma global de analistas emite internamente um rating ESG próprio, o NB ESG Quotient, sobre 5.000 empresas cotadas (na parte de ações) e 1.100 emissores (em obrigações). “Não igualamos o rating de uma ação com o de uma obrigação porque consideramos que cada ativo e cada estratégia necessita de uma integração específica. Dispomos de uma ferramenta de mudança climática. Serve-nos como ponto de partida para saber qual é o risco climático de todas as nossas posições em ações e obrigações. Também para avaliar sobre que empresas devemos priorizar fazer o engagement climático. Contudo, a análise meio-ambiental, é apenas um aspeto”.

Tal como explica, têm nove princípios para realizar engagement. “A maioria estão centrados em governance. Isto é algo que nos distingue. Exigimos ter uma relação muito estreita com as empresas. Fazer engagement de forma ativa aporta valor e é muito diferenciador, já que tem a transparência como premissa máxima. Todos os anos publicamos os nossos NB Votes. Até setembro já tinham publicado 61 NB Votes em 2021”, explica.

Inovação em sustentabilidade

Ao nível do impacto, em abril deste ano encerraram o fundo de private equity de Impacto – NB Private Equity Impact – com 280 milhões de dólares de compromissos alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “Em ações lançámos duas estratégias artigo 9, uma global, e outra europeia, pela mão de uma equipa pioneira em sustentabilidade com mais de 20 anos de história, que se centram em empresas que não causam danos, se adaptam continuamente às mudanças com um foco em inovação e melhoria contínuas, e que disponham de uma vantagem competitiva difícil de replicar”, assinala.

Alternativos ilíquidos: a grande aposta

Os alternativos ilíquidos são outra das apostas. “Tem sido uma ativo mais exclusivo de clientes institucionais. É interessante ver como agora se tem transposto a clientes de retalho. É a democratização dos alternativos”.

A Neuberger Berman é um provedor de acesso a mercados privados para o cliente de retalho e está muito capacitada pela sua grande experiência. “Este track record vem dos Estados Unidos, onde há mais de sete anos oferecemos produtos para investidores de retalho. Essa experiência permitiu-nos aprender e adaptarmo-nos às necessidades deste novo tipo de investidor. Damos acesso com montantes mínimos reduzidos, encurtando os períodos de investimento. Enquanto que um fundo de private equity tem períodos de investimento de 4-5 anos, no caso dos nossos produtos é de dois anos, embora com o objetivo de o fazer em 12-18 meses, adaptando as chamadas de capital, oferecendo programas anuais, acrescentando liquidez através de formatos evergreen e à disposição das principais plataformas operativas”.

Facilidade de acesso aos mercados privados

Outra das vantagens que encontra na entidade é a flexibilidade para oferecer veículos locais e globais adaptados a cada jurisdição. “Em maio lançámos um fundo de investimento ELTIF ligado a 20 coinvestidores com outras gestoras relevantes na Europa e nos EUA, ao qual se pode aceder a partir de 50.000 euros. Nos primeiros meses já tínhamos cerca de 60% de capital comprometido investido em 10 transações”.

A estratégia em temáticos

Neste campo, a gestora está a focar-se em lançar estratégias muito puras nas quais tem uma forte convicção do crescimento a longo prazo. “Estamos a fechar muitos acordos temáticos estratégicos em torno das temáticas da conectividade 5G, centrados na conectividade na Ásia e na mobilidade. Contamos com uma plataforma de analistas consolidada que tem um grande conhecimento setorial ou da temática em questão”.

A inflação veio para ficar

Na visão macro da casa, López considera que estamos a começar um novo ciclo, que não estará isento de crescimento. “O anterior parou por causa do COVID-19. Este começa com muitas medidas de estímulo e nele haverá muita volatilidade”. De acordo com as suas expetativas, a grande mudança será a inflação. “A curto prazo, as tensões atuais nas cadeias de fornecimento prevê-se que diminuam e que as interrupções provenientes dessas tensões sejam superadas até final de 2022. No entanto, a longo prazo prevemos reflação porque a transição energética é muito cara, e a política da China mudou de uma economia orientada para o crescimento em direção à prosperidade comum e já não é a fábrica do mundo que exporta desinflação”, conclui