À medida que os provedores de ETF gravitam cada vez mais em torno da Irlanda devido às vantagens estratégicas que oferece, o Luxemburgo precisa de demonstrar competências para detetar e capitalizar o crescente interesse dos investidores europeus nos ETF.
O mercado europeu de ETF encontra-se numa trajetória de forte crescimento, impulsionado pelos desenvolvimentos regulamentares, pelos avanços tecnológicos e pela evolução das preferências dos investidores. Apesar de desafios como a fragmentação do mercado e as complexidades normativas, o mercado está bem posicionado para capitalizar as oportunidades de investimento.
No entanto, verifica-se que vários provedores de ETF optam cada mais por cotar os seus produtos na Irlanda por oposição ao Luxemburgo, e isto deve-se às diversas vantagens que a Irlanda oferece, tanto em termos de fiscalização como de contexto normativo.
Segundo dados fornecidos pela EY, a final de 2023, os ETF domiciliados na Irlanda ultrapassaram 1 bilião de euros em ativos sob gestão, representando quase 70% dos mais de 1,5 biliões de euros do mercado europeu de ETF, seguindo-se o Luxemburgo, com 295.000 milhões de euros, enquanto o resto da Europa atingiu os 186.000 milhões.
“Espera-se que o papel da Irlanda como domicílio dos ETF seja ainda mais reforçado. A Irlanda continua a ser o país preferido para os ETF e prevemos um crescimento constante nos próximos cinco anos. Isto deve-se, em grande parte, à maturidade do setor dos serviços financeiros do país, à sua reserva de talentos qualificados e ao contexto normativo de referência”, afirma Lisa Kealy, responsável de ETF para a EMEIA na EY, no estudo intitulado Elevating ETFs - Digital Assets, Market Trends and Sector Trajectories.
A vantagem competitiva da Irlanda
- Favorável tratamento fiscal com os EUA: que reduz a retenção na fonte sobre os dividendos dos ETF de ações norte-americanas domiciliados na Irlanda para 15%, em comparação com 30% para os domiciliados no Luxemburgo. Esta eficiência fiscal é essencial para os gestores de ativos que procuram maximizar os rendimentos para os investidores, especialmente os que investem em ações norte-americanas. Isto é algo que o Luxemburgo deveria negociar com os Estados Unidos para conseguir um tratamento fiscal mais favorável sobre os dividendos.
- Quadro regulamentar: considerado mais favorável e transparente, tal como referido pela State Street num artigo, o que contrasta com uma interpretação mais flexível da normativa luxemburguesa.
- Ecossistema sólido: com um vasto conjunto de especialistas em ETF, que continua a atrair as gestoras de ativos, a Irlanda desenvolveu fortes capacidades em áreas como a administração, custódia e serviços fiscais e jurídicos. A sua condição de porta de entrada anglófona para a União Europeia, reforça ainda mais a sua atratividade para os investidores mundiais. Segundo a State Street, a presença do ICSD na Irlanda também melhora a liquidez e reduz a fragmentação.
Tendências crescentes nos ETF 3.0
Muitas gestoras norte-americanas estão a converter os seus fundos de investimento tradicionais em estruturas de ETF e, na Europa, as gestoras tradicionais de fundos ativos também estão a explorar a sua entrada no mercado de ETF com estratégias semelhantes, que a State Street designa como tendência ETF 3.0.
Os ETF versão 1.0 são fundos passivos que reproduzem um índice, enquanto os ETF 2.0 incluem produtos beta inteligentes e temáticos que reproduzem estratégias de investimento específicas, como rendimentos, crescimento, impulso ou valor.
Embora uma pequena proporção dos fundos de investimento tradicionais esteja a ser convertida em ETF, esta tendência pode ter um impacto significativo a longo prazo. Segundo dados da Morningstar, a nível global, os ETF ativos captaram 25% dos fluxos totais de ETF na primeira metade de 2024, com um crescimento orgânico de 20%, atingindo ativos recorde de 889.000 milhões de dólares, enquanto os ETF passivos cresceram 3% organicamente. É importante destacar que os ETF ativos alcançaram este significativo crescimento apesar de representarem apenas 7% dos ativos totais em ETF.