O estratega da Morgan Stanley IM oferece uma visão detalhada dos mercados financeiros atuais. Das perspetivas do ouro até às estratégias em obrigações e ações, Jim Caron proporciona insights fundamentais para investidores num contexto económico desafiante.
Num contexto económico global em que a volatilidade e a incerteza parecem dominar, os gestores de investimentos devem adaptar-se continuamente para captar oportunidades. Jim Caron, CIO do grupo Portfolio Solutions da Morgan Stanley IM, partilhou as suas reflexões numa entrevista exclusiva com a FundsPeople. Abordou um amplo espetro de temas, oferecendo um guia integral para navegar pelos desafios e pelas oportunidades que os mercados financeiros apresentam, tanto as obrigações, como as ações e o ouro, proporcionando um farol para os investidores que procuram otimizar as suas carteiras.
O debate sobre a força do dólar
Jim Caron começa a entrevista por refutar a ideia de um dólar significativamente mais débil a curto prazo, apesar dos elevados défices fiscais dos EUA. Segundo o especialista, a força do dólar continua a ser impulsionada pelo sólido retorno dos ativos norte-americanos, em especial as ações.
Embora reconheça que um défice fiscal elevado pode debilitar a moeda a longo prazo, este acredita que o efeito será moderado. Para os mercados emergentes, um dólar estável pode significar mais margem de manobra para os bancos centrais destas economias, favorecendo o investimento em dívida em moeda estrangeira face à divisa local dos mercados emergentes.
Apesar de os spreads de yields da dívida emergente se terem estreitado, continua a ver potencial nesta classe de ativos, embora esteja à espera do fim das eleições presidenciais nos EUA antes de tomar decisões mais contundentes sobre aumentar a sua exposição à dívida local emergente. Esta postura reflete uma abordagem prudente.
Estratégias de investimento em obrigações
Jim Caron assinala uma mudança significativa no mercado de obrigações: “O bull market de obrigações que começou em 1981 e terminou em 2021 chegou ao fim”. Isto tem implicações significativas para a construção de carteiras. O especialista sugere que é importante procurar estratégias de alocação de ativos dinâmicas e ativas que controlem os riscos e ajustem ativamente as ponderações entre obrigações e ações, diferenciando-se da desgastada carteira 60/40.
A sua abordagem é barbell, combinando obrigações high yield com instrumentos de curta duração e elevada qualidade creditícia. Esta abordagem permite obter maiores retornos ao mesmo tempo que reduz a sensibilidade às taxas de juro.
Perspetiva sobre as ações
O especialista mantém um ligeiro viés para a sobreponderação em ações, com preferência por empresas de elevada qualidade financeira. Embora setores como a tecnologia e o crescimento continuem relevantes, sublinha que o futuro do crescimento está em setores como o da saúde, em que a IA pode transformar significativamente a eficiência e proporcionar potencial de alfa. Também está otimista com o setor das infraestruturas dos EUA, impulsionado por programas governamentais como o IRAy e o CHIPS Act, que vão impulsionar a procura por materiais e o desenvolvimento industrial.
Defende uma diversificação profunda, visto que “é importante diversificar não só entre classes de ativos, como também por fatores”. Utilizam ferramentas de análise avançadas para avaliar a exposição das carteiras a diversos riscos e choques potenciais. Mas também defende empresas de elevada qualidade com balanços sólidos e capacidade de gerar fluxos de caixa consistentes, especialmente em setores defensivos.
Quanto ao investimento regional, destaca o Japão como o seu mercado favorito a longo prazo, embora reconheça a sua volatilidade. “A melhoria na governança corporativa, o apoio de políticas de investimento e as exportações de bens de capital posicionam o Japão como um agente-chave na reindustrialização global”, especialmente na Europa e nos EUA. No entanto, alerta que a sua elevada volatilidade requer uma exposição controlada nas carteiras.
O ouro num contexto de incerteza
Destaca a importância do ouro no contexto atual, visto que “o ouro é um ativo que beneficia da incerteza geopolítica e das expetativas de cortes de taxas de juro por parte da Fed”, explica.
Sugere diversas aproximações ou estratégias para investir em ouro, “através de ouro físico ou ETF apoiados por ouro físico, ou através de ações de empresas mineiras”.