Joachim Fels (PIMCO): “O período de baixa inflação e volatilidade com crescimento moderado passou à história”

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Joachim Fels. Créditos: Cedida

A crise da oferta, associada ao aumento dos preços da energia, fez disparar as taxas de inflação para níveis que não se viam há muito tempo. E embora a maioria dos especialistas concorde em apontar este pico da inflação como transitório, também o faz ao assinalar que os baixos níveis de inflação observados nos últimos anos também não voltarão.

Um desses especialistas é Joachim Fels, assessor económico global da PIMCO. “Vimos de um novo normal de baixa inflação, crescimento moderado e baixa volatilidade e esse período já passou à história”, comentou na apresentação das perspetivas seculares da PIMCO.

Segundo Fels, nos próximos cinco anos os investidores terão de enfrentar uma maior volatilidade do mercado, menos crescimento homogéneo e uma inflação mais elevada. E fá-lo-ão num contexto marcado por três grandes transformações: verde, digital e social. “O caminho para uma economia de emissões zero vai ter muitos solavancos”, avisa, notando que um desses solavancos, como o aumento dos preços da energia, já está a ser observado.

Na verdade, argumenta que o impacto deste aumento na economia será entre 0,5 e 1% do PIB. Claro que acredita que este impacto descendente será temporário. “Penso que a crise dos semicondutores e da energia diminuiu a expetativa de crescimento, mas acho que é temporária e vai recuperar à medida que 2022 avança”, diz.

Contudo, considera exagerado o debate que se tem realizado nas últimas semanas sobre a estagflação, uma vez que recorda que, mesmo com um crescimento mais baixo, economias como os EUA ou a Europa continuam a crescer acima da tendência. No entanto, adverte que, ao contrário do crescimento sincronizado que se verificou no ciclo anterior, terá uma maior divergência entre as regiões.

Riscos negativos e positivos

Juntamente com a transformação verde, Fels cita outra grande transformação que irá mover os mercados nos próximos anos: a digital, que a pandemia só ajudou a acelerar. É precisamente esta transformação, em conjunto com o aumento da dívida, que pode manter a inflação sob controlo. “Uma recuperação da produtividade que está relacionada com o aumento do investimento das empresas em tecnologia e que vai durar anos”, afirma.

No entanto, sublinha também que há uma tendência que pode continuar a ter um impacto ascendente nos preços: a desglobalização, que tem sido responsável por reforçar a recente crise da oferta com os semicondutores como protagonistas. “As empresas estão a tentar ficar cada vez mais fortes no que diz respeito à cadeia de abastecimento, procuram mais diversificação e tentam aproximar as suas cadeias de produção de casa”, refere.