Algo histórico está a acontecer no setor tecnológico. Com 30 anos de experiência, Jonathan Curtis é um veterano do investimento no setor tecnológico. Baseado em Silicon Valley, o gestor do Franklin Technology presenciou em primeira mão as idas e vindas de todas as novas grandes ideias. Desde as verdadeiramente relevantes até às que não deram em nada. E, na sua opinião, a inteligência artificial generativa não é nenhuma moda passageira.
Jonathan Curtis esteve recentemente na Península Ibérica juntamente com Matthew Cioppa, cogestor deste fundo com Rating FundsPeople 2023 desde há três anos. Ambos concordam com a oportunidade que está a surgir no setor com a IA generativa. “O custo do capital aumentou drasticamente e, ainda assim, vemos empresas tecnológicas a mudar os seus planos de negócio para capturar o crescimento em inteligência artificial. Na última temporada de resultados era um tema que absolutamente todas as entidades mencionaram nas reuniões com investidores”, afirmam.
Setor tecnológico está a assistir a um novo momento iPhone
“A inteligência artificial não é um conceito novo, mas o que é verdadeiramente revolucionário é que agora está nas mãos de pessoas comuns”, explica Jonathan Curtis. Até agora a IA era uma tecnologia escondida nos servidores; ajudava plataformas a serem mais eficientes, os serviços financeiros, etc. “Nada que a pessoa comum pudesse realmente ver. Agora o consumidor pode interagir diretamente com ela, podem ver como estas novas ferramentas os vão ajudar a ser mais produtivos”, insiste. É um momento do mercado que lembra ao gestor outro ponto histórico: a revolução provocada pela invenção do primeiro iPhone.
O sucesso ou não da IA generativa dependerá do consumidor. “As empresas estão certamente entusiasmadas com o potencial de ferramentas como o ChatGPT, mas a chave está na adoção pelo utilizador final”, explica Matthew Cioppa. E se os primeiros meses são um indicador fiável, a tendência parece forte. Para quantificar a rapidez da sua expansão: a Uber precisou de 70 meses para atingir o milhão de utilizadores; Instagram, 30: TikTok, nove. O ChatGPT fê-lo em dois meses. “Com IA generativa estamos perante um novo grande ciclo de crescimento da tecnologia”, afirmam os gestores.
Na opinião de Jonathan Curtis, ainda só vimos o início. “O próximo avanço emocionante é que a IA generativa vai ser integrada nas ferramentas que utilizamos no dia a dia”, prevê o gestor. Como investidor profissional vamos poder usá-la para escrever comentários sobre o fundo, aprender sobre novas indústrias mais rápido, construir melhores carteiras. “Vamos ver uma nova vaga de melhoria na produtividade graças à IA generativa”, afirma.
O que explica o rally das tecnológicas?
A última vez que falamos com Jonathan Curtis, o Nasdaq 100, o índice de referência para as tecnológicas norte-americanas, estava à beira de uma correção técnica (uma queda de 20%). Era junho de 2022 e ainda se esperavam meses de fortes subidas de taxas e uma vaga de despedimentos no setor. Desde então não se passaram nem 12 meses e o mesmo índice sobe agora 20% em relação aos seus mínimos. O que mudou?
Jonathan Curtis identifica duas razões claras. Em primeiro lugar, o pico na yield do Tesouro norte-americano a 10 anos, atingido no passado outubro. “As subidas de taxas eram o que estava a pressionar as tecnológicas e, apesar de não sermos gestores macro, é justo pensar que o ciclo de endurecimento monetário está a chegar ao fim”, defende o gestor. Em segundo lugar, estamos do outro lado da pandemia. “Isso significa que o ímpeto de crescimento na adoção de tecnologia, que acelerou com a COVID-19, deu lugar a um cenário mais normalizado. Agora o foco das empresas está na eficiência”, considera o gestor.
Um indicador que dá confiança a Matthew Cioppa é a alteração no ritmo de despedimentos. No ano passado, as vagas de redução de pessoal nas grandes tecnológicas eram um acontecimento diário no setor. Mas desde o pico de despedimentos, alcançado no passado janeiro, parece que o ritmo está a abrandar drasticamente, tanto no número de empresas que anunciam reduções de postos de trabalho como no número total de pessoas afetadas. “A leitura positiva é que o setor tecnológico já está a passar pela sua própria recessão. Desfez-se dos excessos e agora é uma indústria mais eficiente. Além disso, o abrandamento dos despedimentos sugere que estamos a entrar na fase inicial da sua normalização. Se as empresas vissem um quadro mais sombrio, continuariam a reduzir postos de trabalho”, argumenta.
Tudo isto dá aos investidores uma sensação de segurança para investirem neste setor que, no fim de contas, continua a ser de negócios de elevada qualidade.
A tecnologia está mais viva do que nunca
O que nos leva ao ponto das valorizações, o grande tema que sempre pairou sobre o setor. Mesmo após a correção do ano passado, o prémio a que as tecnológicas estão atualmente a negociar parece elevado à primeira vista. No entanto, por enquanto, a maioria da recuperação tem-se verificado em apenas alguns nomes. Principalmente nos gigantes do setor. A previsão da equipa gestora é que esse rally se estenda em breve a nomes médios e pequenos, aqueles que ainda negoceiam com um prémio razoável. E isto será um catalisador positivo para a carteira do Franklin Technology, que sempre teve um viés mais para empresas mid e small caps no setor.
Para Jonathan Curtis e Matthew Cioppa é evidente que a tese a longo prazo das tecnológicas continua viva como nunca. “Digam-me quanta melhoria de produtividade querem e eu digo-vos quanto é que o setor tecnológico vai crescer”, afirma Jonathan Curtis. “Grande parte da inovação que sai do setor tem como objetivo melhorar a produtividade. E a produtividade nunca vai passar de moda, pelo que a indústria da tecnologia vai sempre crescer mais rápido do que a economia geral”, insiste.