Segundo o gestor, o epicentro de tudo é a energia, especificamente, como os preços da energia vão mover-se. “Uma empresa pode passar uma inflação de 2 a 3% para os seus clientes, mas estamos a falar de aumentos de 50 a 100% nos custos energéticos”, alerta.
Passaram-se anos a prever o fim do rally nas obrigações e, finalmente chegou? Após décadas de tendência ascendente, as obrigações preparam-se para um ambiente de subidas de taxas. A classe de ativos está a atravessar vários meses complicados, uma vez que a política monetária mais ajustada já se reflete nos preços. Agora, o surgimento de guerra, longe de apaziguar a inflação, agravou-a. E talvez outro fator importante que passou despercebido: algumas regiões da China estão a sofrer uma nova onda de COVID-19, o que aumenta a pressão sobre a cadeia de abastecimento. “O que está a acontecer com as obrigações só vai acelerar”, afirma Justin Jewell, gestor especializado em obrigações high yield na BlueBay AM.
O epicentro de tudo é a energia, nomeadamente a forma como os preços da energia se vão mover. “Uma empresa pode passar uma inflação de 2 a 3% para os seus clientes, mas estamos a falar de aumentos de 50 a 100% nos custos energéticos”, sublinha Jewell.
O segundo fator causado por isto é a política governamental. O gestor prevê um importante gasto em políticas fiscais. Na sua opinião, os governos estão abertos a, pelo menos, atenuar o impacto do preço da energia para os seus cidadãos. Isto para além da mensagem geopolítica que é lançada e da necessidade de parar de depender tanto da energia produzida na Rússia.
Dura posição dos bancos centrais
Isto deixa os bancos centrais numa posição comprometedora. Como recorda o gestor, os mercados já começaram o ano a refletir nos preços uma subida de taxas nos Estados Unidos e pelo menos uma política mais restritiva na Europa. “Nas primeiras semanas, assistimos a uma grande correção de duration em resposta à mensagem dos bancos centrais”, disse Jewell. Com o surgimento da guerra, a narrativa relaxou, mas se as tensões geopolíticas se acalmarem e houver mais pressão sobre as cadeias de abastecimento, os bancos centrais vão voltar a sentir a pressão do outro lado.
Em suma, as obrigações estão a atravessar um dos momentos mais complexos dos últimos anos. Ainda assim, Jewell não entra em pânico. “Estamos no pico da febre agora. O crescimento pode ressentir-se entre 2 a 3%, mas isso não nos levará a uma recessão”, defende o gestor. E embora veja uma política monetária mais ajustada, não implica necessariamente níveis críticos para as obrigações. “É muito difícil para mim imaginar taxas de juro na Europa acima de 2%”, diz o especialista.
E como é que isso se traduz no seu posicionamento? A nível setorial, no crédito, Jewell encontra ideias interessantes em telecomunicações, empresas de media e em alguns nichos de tecnologias da informação, software e tecnologia. Pelo contrário, evita os automóveis e as indústrias.