O codiretor de Investimentos da Oddo BHF AM acredita que estamos a entrar num ciclo de fortes descidas de taxas, pelo que defende pôr o dinheiro a trabalhar.
Na opinião de Laurent Denize, a Reserva Federal tem muitos bons motivos para baixar as taxas de juro, e agressivamente, de agora até ao final do ano. A boa notícia, acrescenta o codiretor de Investimentos da Oddo BHF AM, é que o banco central norte-americano tem muito terreno para, se quiser, chegar a um nível de taxas que o mercado considera neutro, de 3,5%. E observa uma dinâmica semelhante na Europa com o BCE. “Estamos a entrar num ciclo de fortes descidas de taxas, e é preciso estar consciente disso no momento de realizar a alocação de ativos”, afirma.
“A Fed put voltou. Faz todo o sentido voltar aos ativos de risco”, insiste. De facto, a sua apresentação com clientes em Madrid intitulou-se Pôr o Dinheiro a Trabalhar, porque a mensagem geral que procura lançar é que, atualmente, encontra muitas oportunidades no mercado. Mas o seu otimismo vem com três requisitos: rotação, duração e gestão ativa.
Rotação, defende Laurent Denize, porque acredita que vai haver uma mudança de sentimento do investidor em relação à grande tendência secular do momento: a inteligência artificial. “Começa-se a questionar o suposto aumento de produtividade que a IA trará, e há empresas a investir muito dinheiro para estarem atualizadas em termos de tecnologia. Se as dúvidas acentuarem e observarmos uma reversão desta tendência, poderemos assistir a uma rotação no mercado”, explica.
A segunda fase da temática da IA
No entanto, também insiste que ainda é demasiado cedo para se sair completamente da temática da IA. Basta ver o número de patentes relacionadas. Aliás, defende olhar para segmentos indiretamente relacionados. Dois espaços que lhe parecem ser especialmente interessantes são os robots humanoides e a aplicação da IA ao setor da saúde. No primeiro caso, vê um enorme potencial para a melhoria da produtividade, especialmente num mundo de escassez de mão de obra. No segundo, destaca que o custo de sequenciar o genoma humano está em queda, abrindo portas a importantes avanços na medicina preventiva e individualizada.
Outra temática subvalorizada pelo mercado que Laurent Denize destaca é a economia verde. O CIO reconhece que as empresas desta indústria têm dececionado nos últimos anos, mas acredita que o mercado está demasiado complacente ao ignorar o crescimento que a transição para energias limpas lhes vai trazer. Uma transição que, como a eletrificação, o especialista vê como inevitável.
Quanto aos aspetos mais técnicos da alocação de ativos, Laurent Denize mantém uma preferência por large caps norte-americanas, embora esteja cauteloso com as expetativas de lucros por ação (EPS) da bolsa norte-americana em geral.
Setorialmente, está mais positivo com os setores defensivos, como as utilities, devido às melhores valorizações. E quanto à mencionada duração, defende mais a sua captação através de ações do que de obrigações, precisamente com esses setores defensivos.
E, por último, em obrigações, o diretor de Investimentos não vê grande margem quanto ao estreitamento dos spreads, mas continua a considerar o nível de carry atrativo. Aí, vê mais valor em crédito, como o high yield de curto prazo, do que em obrigações governamentais.