A indústria de fundos está a internacionalizar-se na alocação de ativos e distribuição de produtos. Os investidores querem fundos de maior dimensão e passivos. São os dois grandes movimentos a longo prazo que a EFAMA deteta.
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Mais internacionais, de maior dimensão e mais ETF. São as grandes tendências reveladas pela última edição do Factbook publicado pela EFAMA, correspondente aos dados do final de 2022.
Tendência 1: uma indústria mais internacional
É cada vez mais claro que os UCITS deixaram de ser um produto exclusivamente destinado aos investidores europeus. Ao longo da última década, os fundos de investimento internacionalizaram-se por tipo de investidor. Assim, em 2018, a percentagem de fundos UCITS cross-border (domiciliados num país, mas comprados por um investidor noutro) ultrapassou os fundos locais. Mas a indústria deu mais um passo. Dentro dos fundos cross-border, o peso dos investidores não europeus ultrapassou pela primeira vez o dos investidores europeus.
Isto, explica Thomas Tilley, economista sénior da EFAMA, deve-se à crescente adoção dos veículos UCITS na Ásia e na América Latina. “Por exemplo, sabemos que é uma das estruturas preferidas pelos fundos de pensões no Chile”, conta o especialista da EFAMA.

E essa internacionalização da distribuição está a ter um impacto nos fluxos. Enquanto em 2022 se registaram saídas líquidas de investidores europeus, os não europeus registaram entradas líquidas. “É um sinal da vitalidade e do sucesso dos UCITS enquanto marca global”, afirma Thomas Tiley.
Tendência 2: fundos de maior dimensão e ETF
A EFAMA também deteta uma tendência a longo prazo em termos de seleção de produtos: os investidores procuram produtos e ETF de maior dimensão.
Pela primeira vez, a EFAMA repartiu os fluxos por dimensão do fundo e esta análise revela uma preferência clara e crescente pelos fundos de maior dimensão no mercado. Os fundos entre 1.000 milhões e 10.000 milhões e os que ultrapassam os 10.000 milhões aumentaram a sua quota de mercado em detrimento dos produtos mais pequenos. "Isto põe em causa a crítica frequentemente feita à indústria europeia de que temos demasiados fundos e demasiado caros", argumenta Thomas Tilley.

Nesse sentido, também está a ocorrer uma mudança gradual para veículos indexados, os ETF. Uma tendência que, segundo Thomas Tilley, se deve em grande parte a uma preferência por menores custos e maior liquidez.
Custos continuam a diminuir
Falando de custos, ainda persiste a gradual redução das comissões na indústria de fundos europeia. E é uma queda que ocorre em todas as classes de ativos. Por exemplo, nos ETF de obrigações as comissões diminuíram 23% nos últimos cinco anos. Um sinal, explica Vera Jotanovic, economista sénior da EFAMA, de que a concorrência em comissões continua viva.
Continua a haver uma disparidade nas comissões médias, mas Vera Jotanovic acredita que tal se deve às diferenças de dimensão. "Os fundos de maior dimensão tiram partido das economias de escala e redistribuem os custos fixos por mais investidores", afirma.
Alocação de ativos: carteiras mais internacionais
E não foi apenas a distribuição dos produtos UCITS que se internacionalizou. As suas carteiras são cada vez menos europeias. De facto, a alocação a ações norte-americanas, por exemplo, duplicou. “Ao fim e ao cabo, basta ver o aumento da quota de mercado das grandes empresas tecnológicas norte-americanas”, afirma Thomas Tilley. Mas a EFAMA também afirma que esta mudança para uma alocação à bolsa mais internacional se deve a uma procura de investidores não europeus, que também procuram essa exposição a ativos norte-americanos através de fundos UCITS.

Em obrigações, o peso da dívida denominada em euros também tem caído nestes últimos anos. Dito isto, recentemente houve uma pausa nessa tendência e o seu peso estabilizou. “Porque a dívida europeia, com a correção, voltou a ser uma opção atrativa para os investidores”, explica o economista sénior. Nas obrigações, assistimos também a uma mudança significativa para emissões com prazos mais curtos, em resposta ao achatamento da curva.
Quem investe em fundos UCITS?
Por último, no que se refere a quem compra os fundos UCITS, podemos distinguir três grandes grupos, por ordem de dimensão: as seguradoras e os fundos de pensões, as famílias europeias e os investidores a longo prazo (fundos de fundos). É interessante ver como este terceiro grupo, embora seja, por enquanto, o mais pequeno, tem vindo a conquistar quota de mercado e representa atualmente quase 24%. "É um reflexo de que os gestores de fundos estão a utilizar veículos UCITS, principalmente ETF, para a sua própria alocação de ativos", explica Thomas Tilley.
Uma leitura positiva que também retiramos é a resiliência das famílias europeias enquanto investidores. Para a EFAMA, é notável que em 2022 as famílias tenham sido o único grupo que continuou a investir apesar da volatilidade. Mas isto tem um claro viés regional. Estas entradas líquidas são explicadas pela forte procura das famílias alemãs, que compraram 88 milhões de euros em fundos UCITS no ano passado.